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Em casos de violência, fale a verdade para as crianças

Em casos de violência, fale a verdade para as crianças

A orientação é da psicóloga Adriana Müller, ressaltando, contudo, que a resposta deve ser objetiva e apenas aquilo que a criança perguntar

Publicado em 27 de maio de 2018 às 00:20

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George Alves estuprou e matou o enteado, Kauã, 6, e o filho Joaquim, 3. (Marcelo Prest | Arquivo )

Se para os adultos pode ser difícil lidar com casos de violência, mais ainda é para as crianças. Independentemente de estarem próximas ao fato, se houver questionamentos, é importante sempre falar a verdade.

A orientação é da psicóloga Adriana Müller, ressaltando, contudo, que a resposta deve ser objetiva e apenas aquilo que a criança perguntar, pois será o que ela terá capacidade – pela sua faixa etária – de compreender.

“Não precisa dar detalhes. Em seguida, diz que quem fez aquilo não estava bem da cabeça. Isso demonstra para a criança que pai matar filho não acontece sempre, não é em todo lugar. Por fim, é preciso tranquilizá-la e mostrar que a relação em sua família é diferente”, orienta.

Quando se trata de crianças que conviviam com as que foram violentadas, Getulio Sérgio Souza Pinto, psicólogo do Programa de Atendimento às Vítimas de Violência Sexual (Pavivis) no Hospital Universitário Cassiano Antonio de Moraes (Hucam), sugere que seja feito um trabalho com profissional especializado, que possa fazer ações em grupos. “Não existe uma receita pronta, mas a regra de ouro é não antecipar o assunto. Sempre é importante ouvir as crianças, saber o que elas estão pensando”, afirma.

Além disso, em uma ação preventiva, Getulio defende que os pequenos possam receber educação sexual, pois evitaria que os abusadores se aproveitassem do tabu em torno do assunto para praticar a violência. “As crianças aprenderiam a se proteger.” (Aline Nunes)

As mães e o sentimento diante da crueldade

O drama de Linhares trouxe preocupação, mas também ensinamentos sobre a proteção dos filhos.

O que a tragédia ensina (Fabrícia Kirmse, 40)

Tenho dois filhos. Uma menina e um menino quase da mesma idade de Joaquim e Kauã. Quem convive com crianças dessa idade sabe que são ainda muito inocentes, bastante indefesas e que depositam nos adultos, especialmente em seus familiares, toda a sua confiança. A família é sua referência, seu amparo, sua segurança. Estendem a mão nos pedindo ajuda ao menor sinal de risco.

Certamente, Joaquim e Kauã eram assim. Puros. Dependentes. Frágeis como qualquer criança. E viam em seu pai/padrasto um porto seguro. O mal estaria só do lado de fora do portão. Crianças pensam dessa forma. Dentro do lar, sentem-se protegidas.

Infelizmente, em Linhares, ali no endereço daquele que se dizia pastor, Kauã e Joaquim não estavam seguros. Mas, com certeza, acreditaram que sim, como meninos puros que eram. Não tiveram a chance de pedir socorro pois seu mais provável “herói” escolheu ser o algoz. Ninguém os amparou. De onde esperavam amor, receberam uma violência brutal e insana.

Se o mal, de forma geral, já nos pede muita reflexão, o que dizer da maldade que vem de pessoas de quem, naturalmente, a gente espera o bem? Um pai, por exemplo.

Esse caso extremo no Norte do Estado, assim como tantos outros hediondos que já vimos, reflete um problema muito maior e complexo. Uma crueldade sem limites que vem, talvez, da falta de valores e de ética para a vida. Vivemos num mundo doente, permeado por relações estranhas e sentimentos pobres e sombrios. Às vezes, até mesmo dentro das famílias. Empatia zero, amor escasso, ódio abundante, egoísmo que assusta.

Precisamos pensar. Cabe a todos essa reflexão. O mundo só muda se cada um de nós oferecer seu melhor ao mundo. Se cada família ensinar o respeito e a ética a seus filhos desde bem cedo. Temos sérios problemas sociais, culturais e de base. Façamos nossa parte.

Olhar de inquietação (Dilma Maria Ramos Zucolotto, 52)

Casos de violência como este, dos meninos Joaquim e Kauã, me deixam triste e, ao mesmo tempo, inquieta. Penso que precisamos estar muito atentos a nossos filhos. Na correria do dia a dia, não podemos deixar de dar esse tempo a eles. Tem que ter o olhar de todos: da mãe, do pai, dos avós, de quem cuida. Às vezes, pela falta desse olhar, coisas terríveis vão acontecendo...

Onde vamos parar nessa loucura toda em que vivemos? Pior: e nossas crianças? Nessa correria da vida, não temos condições de identificar mínimas coisas que vão acontecendo, não só dentro de casa, mas na escola, na vizinhança.

Temos que ter esse olhar para o outro. Mas não aquele olhar de acusação, culpabilizando, e sim um olhar de preocupação mesmo, de inquietação. Não podemos ficar apáticos, temos que saber da vida de nossas crianças, perguntar, saber o que está acontecendo.

É um cuidado maternal, mas a responsabilidade não é só da mãe, não é só do outro. Sempre me preocupei muito com tudo que dizia respeito a minha filha, até o extremo, mas isso não significa colocar ninguém em uma redoma de vidro. É a atenção, o cuidado, o querer saber, sempre ter uma interrogação.

Pelo meu trabalho, acompanho de perto muitos casos de violência, ouço muitas coisas em relação a isso. Então, quando falo de preocupação, é essa necessidade de se manter inquieto. E, se perceber que algo não está correto, não precisa ter vergonha de pedir ajuda.

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É preciso também vencer alguns tabus, conversar com as crianças, deixar alguns assuntos mais claros para elas, como a questão da sexualidade, porque é até uma forma delas se protegerem.

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