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Greve dos caminhoneiros chega ao fim no ES

Greve dos caminhoneiros chega ao fim no ES

Categoria fez movimento nacional que durou 10 dias

Publicado em 31 de maio de 2018 às 01:38

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O porta-voz da Greve dos Caminhoneiros em Viana, Bira Nobre. (Rafael Silva)

O Espírito Santo não tem mais pontos de bloqueio para caminhões de cargas. A informação é da Polícia Militar, emitida à imprensa às 21 horas desta quarta-feira (30). "Todos os pontos de manifestação e interdição da greve dos caminhoneiros foram desmobilizados. Todas as rodovias estaduais e federais do Espírito Santo estão livres para tráfego de veículos, transporte público, caminhões e cargas".

O superintendente da Polícia Rodoviária Federal (PRF), Wilys Lira, confirmou a desmobilização em todo o Estado, e explicou que as equipes ficarão nos locais para garantir que não haja retorno de bloqueios.

A desmobilização aconteceu após o início da Operação Rota Segura, nesta quarta (30), que garantiu a passagem dos caminhoneiros e a normalização do abastecimento em todo o Estado. A ação foi realizada pela Polícia Militar e Polícia Rodoviária Federal.

AGRONEGÓCIO DEVE LEVAR SEIS MESES PARA NORMALIZAR NO ES

O cenário de perdas enfrentado pelo agronegócio capixaba está distante de ser resolvido. Calcula-se que a recuperação dos impactos da paralisação até o total restabelecimento da cadeia produtiva demore cerca de seis meses, como é o caso da avicultura e suinocultura.

De acordo com o presidente da Federação da Agricultura do Estado do Espírito Santo (Faes), Júlio Rocha, a produção de olerícula, de folhagens, leve de 30 a 40 dias para se recuperar, já que parte da produção está sendo descartada durante a paralisação dos caminhoneiros. "Como as plantas estão se revigorando elas vão permitindo uma reposição da produção em um prazo menor", contou.

Já a avicultura deve precisar de mais tempo, cerca de seis meses. "Temos a segunda maior produção de ovos do país. Para recuperar o estresse que as galinhas poedeiras passaram por falta de alimentação, além do descarte de animais, levará algum tempo", explicou o presidente da Faes.

No caso da suinocultura, o tempo necessário será ainda superior a seis meses, segundo Rocha. "Se os criadores perderem as matrizes, vão precisar de um período apto para ter novas. Além disso, será necessário tempo para os animais ficarem adultos e aptos para abate", concluiu.

GREVE DOS CAMINHONEIROS ATRAPALHA R$ 1 BI EM NEGÓCIOS ATACADISTAS

A greve dos caminhoneiros causou uma crise de grandes proporções em diversos setores da economia. Do agronegócio ao comércio, negócios amargam prejuízo. O setor atacadista é um dos segmentos impactados e que já estima prejuízos de R$ 70 milhões devido aos dez dias de paralisação dos motoristas.

Segundo o empresário, Idalberto Moro, presidente do Sindicato do Comércio Atacadista e Distribuidor do Espírito Santo (Sincades), R$ 1 bilhão emprodutos deixaram de chegar ao Estado. São mercadorias que iriam abastecer supermercados, padarias, lojas de autopeças e de material de construção, farmácias e hospitais. Ao todo, 22 tipos de varejistas estão sem receber produtos encomendados.

“Sofremos uma grave ruptura no nosso trabalho, pois abastecemos uma vasta cadeia do varejo. E mesmo que tenhamos os produtos nos nossos estoques, não podíamos faturar, já que não era possível sair para entregar”, explica Moro ao acrescentar que as compras não concretizadas fizeram o Estado perder cerca de R$ 30 milhões em receitas de Imposto sobre Circulação de Mercadorias (ICMS).

Idalberto conta que somente uma empresa da indústria farmacêutica estava até esta sexta-feira com 25 carretas em seu pátio carregadas com medicamentos aguardando o fim da greve para pegar a estrada.

“Vamos demorar dez dias para que o abastecimento seja normalizado após a paralisação acabar. Mas o que nos preocupa é prejuízo, que será difícil de recuperar.”

INDÚSTRIA, COMÉRCIO E AGRICULTORES CONTABILIZAM PREJUÍZO MILIONÁRIO

Com a paralisação dos caminhoneiros e a situação de desabastecimento que se agravou em todo o país, empresários contabilizaram prejuízos já que insumos não chegaram às indústrias, produtores rurais não conseguiram escoar sua produção e o comércio registrou forte queda na movimentação.

No Espírito Santo, a retração no volume de vendas do comércio chegou a mais de 60%, segundo o presidente da Federação do Comércio do Estado, José Lino Sepulcri. “As vendas caíram mais de 60% na última semana. Isso repercute para o empresário, para o empregado que vive de comissões e para o governo que deixa de arrecadar. É uma situação caótica, mas não podemos culpar os caminhoneiros. É uma situação irresponsável do governo federal”, diz.

Como o comércio não vendia, a indústria também sentiu os reflexos da paralisação. “Mais de 2/3 das indústrias do Espírito Santo estavam totalmente ou majoritariamente paralisadas em sua linha de produção. Isso já passa de R$ 300 milhões de prejuízo. Não chega a matéria-prima, e as indústrias não conseguem escoar a produção”, afirmou o presidente da Federação das Indústrias (Findes), Léo de Castro.

Já o setor agropecuário registrou enorme prejuízo. A ração não chegou para galinhas e suínos, e a situação de fome dos animais era dramática nas propriedades rurais. Já o leite, as folhosas, legumes, frutas e ovos começaram a estragar, diz o presidente da Federação da Agricultura e Pecuária do Espírito Santo (Faes), Júlio Rocha. “Teve sacrifício grande de animais e muito prejuízo no leite”, afirma.

No setor do transporte de cargas, a estimativa é de mais de R$ 500 milhões de prejuízo, diz o presidente do Sindicato do Transporte de Cargas e Logística do Espírito Santo (Transcares), Liemar Pretti. “Estávamos há uma semana sem faturamento e não tínhamos segurança de botar carro na rua. Tinha caminhão sendo apedrejado. Não ficamos mais a favor do movimento.”

GREVE CAUSOU R$ 1,9 BI DE PREJUÍZO NO ESTADO

Por falta de combustível, pedreiras no ES estão paradas. (Divulgação)

Indústrias paradas, lojas com vendas reduzidas, empresas de comércio exterior com as encomendas atrasadas. A greve dos caminhoneiros desestabilizou uma economia ainda fragilizada pela crise econômica e deve prejudicar a recuperação tão esperada para este ano.

A manifestação que durou dez dias causou impacto diário de R$ 211 milhões no Produto Interno Bruto (PIB) do Estado. Estimativas feitas pelo economista Eduardo Araújo, vice-presidente do Corecon, contabilizavam retração de R$ 1,9 bilhão na geração de riquezas no Estado ao considerar um cenário com dois terços dos negócios completamente comprometidos pelo protesto.

“O fato de se impedir o trânsito de mercadorias, como matéria-prima, combustível e insumos interfere na grande roda que gira a economia. O resultado disso é uma menor geração de renda”, explica Araújo, que utilizou dados das contas regionais do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) e levou em conta informações dos setores produtivos, sobre os efeitos em suas linhas de produção desde o início da paralisação.

TURBULÊNCIA

Um dos segmentos mais impactados pela atual turbulência é o agronegócio. As empresas mais afetadas foram as de criação de animais. Por falta de ração, muitas aves precisaram ser sacrificadas e doadas. O comércio de ovos também foi prejudicado, já que o alimento não chegou aos mercados.

A cafeicultura também se preocupa com possíveis rompimentos de contratos de vendas. O Centro do Comércio de Café de Vitória (CCCV) disse que as entregas para os mercados internos e externos foram suspensas. “Estamos no início da colheita do café. A tendência era fazer uma venda maior, após longos períodos de queda devido à seca. Agora corremos risco dos interessados desaparecerem, o que levará uma desvalorização no preço do produto”, opina o presidente do CCCV, Jorge Nicchio, ao dizer que 300 mil sacas deixaram de ser enviadas para indústrias no Brasil e em outros países, o que equivale a R$ 97,5 milhões em negócios.

Segundo a Federação das Indústrias do Espírito Santo (Findes), a falta de insumos, de matéria-prima e a dificuldade de entregar as fabricações levaram 70% das companhias a paralisarem suas produções.

Somente a indústria de rochas ornamentais, por exemplo, teve 100% de suas atividades paradas, segundo a superintendente do Centrorochas, Olivia Tirello. “Estamos sem exportar. Há uma semana nenhuma carga sai do porto. Até agora 25 milhões de dólares em mercadorias não foram enviadas para exportação”, afirma ao acrescentar que os impactos são ainda maiores. “Por falta de combustível, as pedreiras estão paradas. Além disso, as empresas que fazem o beneficiamento das pedras e transformam em chapas tiveram que suspender a fabricação por não ter como enviar. Não é possível estocar”.

SEM RAÇÃO, AVICULTORES DOARAM GALINHAS EM VITÓRIA

Os caminhoneiros já se posicionaram em frente a Assembleia Legislativa do Espírito Santo. (Internauta | Gazeta Online )

Não era "galinha gorda", mas avicultores de Santa Maria de Jetibá decidiram doar galinhas na Capital. O motivo? A falta de ração para alimentar os animais devido a greve dos caminhoneiros.

Segundo os produtores, foram doadas aproximadamente 10 mil galinhas e mil ovos. Quatro caminhões e uma caminhonete com os animais chegaram por volta das 15h40, em frente a Assembleia Legislativa, na Enseada do Suá, em Vitória.

Uma fila de pessoas já aguardava a chegada dos avicultores, na calçada da casa de leis. Muitos chegaram com caixas para acomodar os produtos. 

A distribuição foi bem rápida. Em aproximadamente uma hora, todo o estoque dos caminhões foram esgotados sem confusões. Muitas pessoas chegaram a sair com caixas cheias de ovos e começaram a vendê-los do outro lado da rua, em frente ao shopping, pelo valor de R$ 10 o pente de ovos (com 30 unidades).

PRODUTORES DE ALFREDO CHAVES DESCARTARAM 90 MIL LITROS DE LEITE

Fachada da Cooperativa de Laticínios de Alfredo Chaves. (Valter Monteiro/Divulgação)

Sem ter o que fazer com o leite ordenhado, cerca de 340 produtores de Alfredo Chaves tiveram que descartar 90 mil litros de leite desde o início da greve dos caminhoneiros, no dia 21 de maio. A produção, que normalmente é coletada pela Cooperativa de Laticínios de Alfredo Chaves (Clac), não foi feita nos últimos três dias, já que a instituição não tem mais espaço para armazenagem.

O presidente da Clac, Rolmar Boteccia, explica que a maior parte da produção da cooperativa é consumida pelo Rio de Janeiro, mas, com o bloqueio das estradas, tudo o que foi produzido estava em estoque. Sem ter como escoar o leite, a fábrica ficou com as câmaras frias lotadas e suspendeu a coleta nas comunidades do município. O prejuízo para os produtores, até agora, é de R$ 117 mil.

“Com os bloqueios, não tivemos como tirar o leite da fábrica e, consequentemente, não teria como receber mais material. A gente perdeu muito leite e os produtores, em sua maioria de pequenas propriedades familiares, foram prejudicados. Trazer esse leite para a fábrica seria um problema ainda maior. Sem escoar essa produção, teremos dificuldade até de pagar eles no final do mês”, explica Boteccia.

VENEZA INTERROMPE PRODUÇÃO DE IOGURTE

No Norte do Estado, a Veneza também enfrentou dificuldades na cadeia do leite. O presidente da empresa, José Carnielli, contou que chegou-se a uma situação em que faltava até combustível para buscar o leite nas propriedades dos 1.100 produtores. Ele afirmou que a produção continuou normalmente, mas todos os produtos foram estocados. Alguns itens, como o iogurte, tiveram que ser suspensos, já que o estoque de embalagens chegou ao fim.

100 MIL PINTINHOS SACRIFICADOS NO ESTADO

De acordo com a Associação de Avicultores do Espírito Santo (Aves), 100 mil pintinhos foram sacrificados em Venda Nova do Imigrante. Os animais estavam em um incubatório e seriam levados para granjas do Estado. No entanto, as propriedades ficaram  sem ração para alimentar os frangos e, como não conseguiram levar os animais para os consumidores, faltou espaço para receber novas galinhas.

Cerca de 50 mil frangos foram doados somente na terça-feira (29). Um dos municípios com mais avicultores no Estado, Santa Maria de Jetibá estima um prejuízo de R$ 300 milhões no município por conta da crise na atividade.

PRF APLICOU MAIS DE 800 MULTAS EM 14 PONTOS DE BLOQUEIO NO ES

Trecho da BR 101, em Viana, tomado por caminhoneiros. (Reprodução)

A manifestação dos caminhoneiros completou 10 dias e já rendeu 846 multas em rodovias federais no Espírito Santo nos 14 pontos de retenção ainda existentes no Estado. 

O superintendente da Polícia Rodoviária Federal no Espírito Santo (PRF-ES), Wylis Lyra explicou que essas multas foram decorrentes da manifestação, como estacionar em locais proibidos e dirigir sob efeito de álcool, por exemplo. “São multas aplicadas a condutores que passaram pela manifestação, nem todas são pessoas que estão no ato”, disse.

Ele acrescenta que essas infrações, que vão de leve a gravíssima, geram pontos na carteira e multa. As consideradas leve têm valor máximo de R$ 88,80 gerando três pontos na CNH. As multas gravíssimas, que podem acarretar na suspensão imediata da CNH, tem valores que variam de R$ 293,47 a R$ 17 mil.

O superintendente disse que já houve a aplicação de uma multa por bloqueio de via nesta semana. No entanto, não soube precisar o dia e onde teria acontecido. Ele disse que já foi informado ao Ministério de Segurança Pública.

OS BASTIDORES DO ÚLTIMO DIA DA MAIOR GREVE DE CAMINHONEIROS NO ES

Caminhoneiros se ajoelham na BR 101, em Viana. (Rafael Silva)

Eram 10h da manhã quando um vídeo gravado pelo caminhoneiro Wallace Landim, o Chorão, que se tornou o líder dos caminhoneiros grevistas, começou a chegar nos celulares de quem estava no ponto de bloqueio da BR 101, em Viana. Os grevistas ouviram Chorão dizer que “os companheiros seguissem em diante, para a população não pagar mais, pois já não tinham culpa”.

De acordo com o líder nacional dos caminhoneiros, após 10 dias de manifestação era preciso mudar de estratégia e convocou que “50 mil caminhoneiros deixassem os bloqueios e fossem ocupar Brasília”.

O vídeo foi o estopim para motoristas que haviam aderido à greve discutir a possibilidade de voltarem para suas casas. Rapidamente, a mensagem chegou no celular do motorista Ubirajara Nobre, o Bira, que rejeita ser o líder do movimento dos caminhoneiros em Viana, mas é quem centraliza as decisões do grupo. Antes do vídeo de Chorão viralizar, ele já havia admitido que os caminhoneiros estavam no limite.

“Está todo mundo triste, estressado, cansado e com os ânimos à flor da pele. Ninguém está aguentando mais, mas estamos unindo forças para ainda tentar pressionar o governo a reduzir os impostos”, afirmou, pela manhã.

O “gabinete” de Bira, que mora em Cariacica, funcionava em uma pequena barraca de lona, que foi anexada a uma tenda maior, que funcionava como uma espécie de ágora, um espaço para os grevistas debaterem. De lá, sentado em uma cadeira de praia e separado do restante do grupo por uma mesa e uma corda de isolamento, ele assistia diversas pessoas fazerem discursos, entre comerciantes e empresários, que visitavam o “ponto de apoio” de Viana, como o movimento prefere chamar seus piquetes.

MOVIMENTO FICOU DIVIDIDO

Assim que outros caminhoneiros receberam a mensagem de Chorão, eles se reuniram em volta de Bira. Alguns esperavam que dele viesse a liberação para voltar para casa, outros avaliaram que abandonar os bloqueios seria uma derrota para uma categoria que já havia conseguido mobilizar e ter apoio de todo o país.

“Tem gente que tem R$ 6 mil de prestação de caminhão para pagar, o Exército não vai fazer nada, não adianta ficar esperando. A população não aderiu, quem tá pagando o pato é só a gente”, bradou um caminhoneiro a favor da liberação do bloqueio.

“Pode ir embora, ninguém vai segurar caminhoneiro. Mas ficar em greve em casa não vai diminuir preço de diesel”, retrucou outro motorista.

PRESSÃO POR ADESÕES

Muitos caminhoneiros apostaram na radicalização do movimento para não deixar que ele se enfraquecesse. Todos caminhões, caminhonetes e vans que passaram na manhã desta quarta-feira (30) na frente do bloqueio de Viana foram parados pelos grevistas. Usando cones e até o próprio corpo, os caminhoneiros em greve paravam outros motoristas que estavam na estrada.

Eles pediam a nota fiscal da carga. Se fosse produto perecível ou remédios, o motorista era liberado. Caso contrário, ele era conduzido a um pátio, onde os grevistas convidavam a participar do movimento. “Desce aí e vem ajudar a gente na greve”, disse um dos grevistas a um caminhoneiro, em tom ríspido, mas sem fazer ameaças.

Bira ouviu o embate entre os manifestantes, enquanto outros caminhoneiros tomavam posição diante do impasse. Ele se voltou novamente ao seu celular e passou a fazer uma série de ligações. No Whatsapp, mensagens dos outros 11 bloqueios reconhecidos pelo movimento no Espírito Santo chegavam a todo momento, em busca de orientações.

Enquanto conversava com outras pessoas, a “roda” formada em torno de Bira se desfez, e a hora do almoço se aproximou. Logo se formou uma fila para receber as marmitas, vindas de uma doação, segundo os grevistas. Os caminhoneiros recebiam uma pulseira colorida para receber o número limitado de refeições. Quem não tinha pulseira, recebia uma porção menor, preparada em um fogão improvisado no meio do pátio dos caminhões.

Após o almoço, Bira reuniu novamente os caminhoneiros para “anunciar” sua decisão. “São 1.350 quilômetros para ir para Brasília. Quem está lá perto, em Goiás, em São Paulo e em Minas Gerais, vai atender à convocação. Nossa proposta é fazer como fez o Rio Grande do Sul e Fortaleza (CE), vamos nos ajoelhar no meio da pista e pedir misericórdia para que o presidente (Michel Temer) nos atenda. Todos de acordo?”, questionou o caminhoneiro, que recebeu as palmas de aprovação dos companheiros.

Como havia sido combinado, eles ajoelharam na BR 101, fechando os dois sentidos. Rezaram um pai nosso e gravaram um vídeo pedindo a redução dos impostos fosse atendida.

O INÍCIO DO FIM

A Polícia Rodoviária Federal (PRF) e a Polícia Militar deram início, às 13h a Operação Via Segura para garantir a passagem de caminhões. Por volta das 16h, os policiais começaram a negociar com os caminhoneiros no bloqueio de Viana. Às 17h, chegou-se a um acordo para que caminhoneiros que desejassem seguir viagem pudessem ser liberados. Às 18h, Bira recebeu um telefonema da direção nacional da greve orientando a encerrar a paralisação. Ele passou a informação para o grupo que ainda resistia no piquete, que aceitou o fim da greve.

"TODO DIA ACHAVA QUE SERIA O ÚLTIMO"

O caminhoneiro Eduardo Gonçalves é de Nova Iguaçu e perdeu o aniversário do filho de um ano, enquanto estava na greve. (Rafael Silva)

O caminhoneiro Eduardo Gonçalves é de Nova Iguaçu, no Rio de Janeiro, e está desde o primeiro dia da greve estacionado no bloqueio de Viana. Na última terça (29) ele acompanhou o aniversário de um ano de seu filho, Júlio, em uma chamada de vídeo por telefone.

“Ninguém tá aqui sendo obrigado a ficar. Nós entramos e vamos até o final. Só que a pressão aumenta a cada dia. Temos prestação de caminhão para pagar, temos nossas famílias em casa precisando de apoio. A gente imaginou que a população também apoiaria e cruzaria os braços, em protesto contra o governo. Só que as pessoas se desesperam e correm para os postos de gasolina, ficar dormindo em fila e pagar caro por combustível. Estou desapontado. Todo dia a gente acha que será o último, que o governo vai sentar para conversar, mas a negociação não evolui”, desabafa Eduardo.

"DIESEL A R$ 2,78 JÁ DARIA PARA NEGOCIAR"

Angelo Dihenner é de Itaocara (RJ) e estava na greve desde o primeiro dia. (Rafael Silva)

Natural de Itaocara, no Noroeste do Rio de Janeiro, o caminhoneiro Angelo Dihenner diz que não basta uma redução de R$ 0,46 no diesel e com duração de 60 dias, como foi proposto pelo Governo Federal. Ele explica que há um ano, o combustível saiu da faixa de R$ 2,50 para R$ 3,70, enquanto o preço do frete continua o mesmo.

“O governo federal precisa reduzir os impostos e os governos estaduais também. No Rio de Janeiro, meu Estado, pagamos a maior alíquota de ICMS do país. Os Estados precisam agir também. O presidente precisa articular com os governadores. O preço subiu muito, não tá compensando viajar. Se o diesel chegasse a pelo menos R$ 2,78 e segurassem esse valor até o fim de 2018, já daria para voltar a trabalhar”, defende.

"ESTOU ORGULHOSA DO MEU FILHO E DO MEU MARIDO"

A dona de casa Ana Lúcia Silva de Jesus é esposa e mãe de caminhoneiros. Ela foi a responsável por organizar a alimentação do grupo em Viana. (Rafael Silva)

A dona de casa Ana Lúcia Silva de Jesus, de 45 anos, estava com o filho e o marido, que são caminhoneiros, na greve. Moradora de Viana, era ela quem organizava a alimentação do grupo, recebia as doações e cozinhava as refeições.

“As doações chegam da população. A gente recebe e organiza aqui, para todo mundo poder comer. No fim de semana, tinha tanta comida, que até quem veio apoiar comeu aqui. Conseguimos um fogão para colocar aqui, que ajuda a esquentar o que chega. Cheguei a usar a cozinha da minha casa para ajudar na alimentação do pessoal. Meu filho e meu marido sofrem muito na estrada. Eu já esperava que uma manifestação dessa acontecesse em algum momento. Estou orgulhosa deles”.

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