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'Se tiver que examinar a amígdala, tenho que chupar picolé', diz médico

"Se tiver que examinar a amígdala, tenho que chupar picolé", diz médico

Maca, receituários, termômetro e pia para lavar equipamentos são alguns dos problemas relatados por médicos e pacientes na Unidade de Saúde de Jardim América

Publicado em 16 de maio de 2018 às 14:24

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Médico foi à Unidade de Saúde de Jardim América, em Cariacica, nesta quarta-feira . (Caíque Verli )

A situação da Unidade Básica de Saúde de Jardim América, em Cariacica, cenário do surto do médico que não sabia em qual sala iria trabalhar nesta terça-feira (15), é crítica, segundo profissionais que trabalham no local. Faltam macas para diagnosticar os pacientes e até água na pia para esterilizar os equipamentos utilizados pelos especialistas. 

Nesta quarta-feira (16), já mais calmo, o médico Aurédio José do Couto, de 71 anos, até brincou ao conversar com a imprensa: “Se eu tiver que examinar sua amídala (garganta), tenho que chupar um picolé e tirar o palito”.

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Os médicos que atuam na unidade têm levado o próprio equipamento para trabalhar. O clínico geral Gustavo Legey, que trabalha no local desde 2012, confirma os problemas. Na sala de atendimento em que ele estava nesta quarta-feira (16) faltava maca e outros equipamentos. 

“Eu trabalho com meu próprio estetoscópio e meu próprio aparelho de pressão. A estrutura da sala não deveria ser assim. Maca é uma coisa básica para diagnosticar e analisar um paciente”, reclama Legey.

O médico também relata que, às vezes, faltam receituários para os pacientes, sendo necessário usar um rascunho ou outro material. “A gente tem dificuldade quando falta receituário. Temos que improvisar. Já fiz receita em verso de outro documento, algo que não é legal”, desabafa o clínico.

PACIENTES RECLAMAM

Se os médicos reclamam, imagine os pacientes, que chegam até de madrugada na unidade. Além disso, a dona de casa Ana Maria Vieira contou que falta até pia para o médico lavar a mão.

“Essa bagunça na unidade de saúde é devido à obra. Tem vários anos que venho aqui e sempre ficam mudando de sala os médicos. Falta pia para lavar a mão e papel para escrever. Acho que qualquer profissional tem que ter suas ferramentas de trabalho”, reclama.

Nos consultórios em que há pia, ela está com defeito. Falta água para médicos esterilizarem os materiais, segundo a doméstica Ilda de Jesus. “Não que falte funcionários para a limpeza. Falta material para ser utilizado. Os médicos não podem utilizar os equipamentos porque não tem condição, não tem como esterilizar. Acho um absurdo a sala de um médico ter uma pia que não tem água”, lamentou.

Ilda reclama que falta o básico na unidade de saúde de Jardim América . (Caíque Verli)

MÉDICO VOLTA À UNIDADE DE SAÚDE

O médico Aurédio José Couto, de 71 anos, foi à unidade de saúde sem saber que foi afastado das atividades pela prefeitura. No local, ele conversou com a imprensa e falou que ficou revoltado com os problemas que vê no local.

Aurédio desabafa que faltam equipamentos na unidade de saúde, além de respeito pelos pacientes. “Eu entro na minha sala, não tem um termômetro para ver a sua temperatura. Não tem um estetoscópio para auscultar seu pulmão ou um aparelho para aferir a pressão. Se eu tiver que examinar sua amígdala (garganta), tenho que chupar um picolé e tirar o palito”, disse. Assista ao vídeo abaixo: 

O médico ficou surpreso ao saber do afastamento. “Isso é verdade? Eu não recebi nenhum documento até agora”, questionou. Posteriormente ele disse que mesmo que for afastado não vai deixar de lutar contra os problemas que sofre a unidade.

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Pela prefeitura, ele lembra que trabalha no município desde 1971. “Medicina é prevenir doenças, não para deixar ela chegar. Depois que chega, é difícil para o médico resolver essa situação. E essa é a nossa luta. Falta tudo”, diz.

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