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Aeroporto de Vitória: esquema burla aplicativo em caça a passageiros

Aeroporto de Vitória: esquema burla aplicativo em caça a passageiros

Motoristas clandestinos fazem viagem usando nomes de empresas

Publicado em 28 de junho de 2018 às 15:27

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Motoristas clandestinos usam placas com nomes de aplicativos conhecidos. (Marcelo Prest )

Na entrada do novo Aeroporto de Vitória é só dar uma olhada ao redor para identificar vários motoristas clandestinos oferecendo corridas. Eles abordam os passageiros que desembarcam na Capital usando os nomes de aplicativos de transporte privado. A maioria expõe placas sinalizando que trabalha por meio desses sistemas. Mas, na verdade, utilizam o aplicativo apenas para saber o valor cobrado da corrida para determinado destino.

A reportagem flagrou em um dia de semana, pela manhã, ao menos oito desses motoristas oferecendo as corridas. Mas, segundo relatos, há situações em que 20 tentam conseguir clientes ao mesmo tempo.

Eles ficam perto do portão de desembarque do aeroporto, do lado de fora, aguardando a saída de passageiros. Alguns oferecem até pagamento por cartão de crédito ou débito nas placas. Os carros ficam estacionados por ali mesmo, alguns com adesivos com o nome da empresa gerenciadora do aplicativo para a qual dizem trabalhar.

Esses motoristas ficam perto dos taxistas, que têm autorização para atuar e estacionar no aeroporto. A qualquer chegada de passageiro acenam e assobiam oferecendo a corrida. “A gente vê o valor que é dado no aplicativo antes, então, varia de acordo com o horário”, disse um motorista autônomo que não quis se identificar e diz usar o sistema. “A maioria faz assim”, admitiu.

O motorista garante que liga o aplicativo. No entanto, os passageiros só podem realizar corridas por meio das chamadas do sistema das empresas que disponibilizam esses serviços de transporte, como assegura a Prefeitura de Vitória.

Caso contrário, a ação se configura como transporte clandestino, segundo a administração municipal. O delito pode gerar multa de R$ 932,91, e em caso de reincidência o valor é de R$ 1.440,51.

Por lei federal, o transporte remunerado de passageiros é permitido apenas mediante intermediação das empresas.

Um taxista, que prefere não se identificar, garante que esses motoristas não acionam o sistema dos aplicativos em nenhum momento. “Uber você pede pelo aplicativo e, só então, ele vem”, destaca.

Sobre a fiscalização, o taxista lembrou que quando alguém aparece, esses motoristas somem. “Quando a fiscalização vai embora, eles voltam a trabalhar. Nem a Infraero e nem a prefeitura dão jeito nisso. O problema é que tem passageiro que não entende.”

O presidente da Associação de Motoristas de Aplicativo do Estado (Amapes), Luiz Fernando Müller, reforça que a maioria desses motoristas usam os aplicativos apenas para saber o valor da corrida. Às vezes eles até cobram mais caro. “Eles fazem uma simulação e cobram um valor a mais. São motoristas clandestinos e fazem a corrida por fora. É perigoso, porque o passageiro não sabe o valor que vai pagar, não tem a segurança da rota e não tem o seguro do aplicativo. Qual a garantia que o motorista tem bons antecedentes e que o carro é vistoriado?”, questiona.

 Assista ao vídeo abaixo: 

PREFEITURA AINDA NÃO INSTALOU CÂMERAS

O problema com os motoristas clandestinos, que agora agem usando o nome de aplicativos que na verdade não utilizam, é antigo no Aeroporto de Vitória. Para fiscalizar a situação, a prefeitura instalou câmeras no terminal para monitorar motoristas irregulares. Mas, com a mudança após a reforma, em março, a nova entrada do local ainda não teve os aparelhos instalados.

Por nota, a Secretaria de Transportes, Trânsito e Infraestrutura Urbana de Vitória (Setran) disse que aguarda a nova sinalização, que deve ser feita pela Infraero, para colocar os equipamentos de monitoramento.

Segundo a prefeitura, o local é fiscalizado com a Guarda Municipal “quase diariamente”. Neste ano, foram realizadas 115 ações e 12 motoristas foram autuados, no total, de acordo com a administração.

A atuação dos clandestinos provocou reação da administração municipal em setembro passado, quando foram adotadas as câmeras de fiscalização. Na época, o secretário municipal de Transportes, Tyago Hoffmann, disse que “Vitória não é bagunça”. “Nossa fiscalização é rígida e com nossos taxistas e vai ser com quem faz transporte clandestino aqui”, completou na ocasião.

Fachada do novo Aeroporto de Vitória. (Caíque Verli)

INFRAERO

Procurada, a Infraero afirmou, em nota, que a fiscalização de transporte é de competência da prefeitura e que sempre mantém diálogo para informar a identificação de motoristas irregulares. Segundo a estatal, os serviços de transportes credenciados possuem pontos de estacionamento fixos no desembarque, com balcão de atendimento.

A Infraero não respondeu sobre o posicionamento da prefeitura quanto à sinalização no local.

SITUAÇÃO PIOROU APÓS REFORMA, DIZ ASSOCIAÇÃO

Um dos representantes da Associação dos Permissionários de Táxi do Aeroporto de Vitória, Thiago Mônico Rossi, acredita que a situação piorou após a mudança com novo Aeroporto de Vitória, em março deste ano. Segundo ele, o espaço onde os motoristas estacionam irregularmente é maior e a fiscalização que deveria ser feita não é efetiva.

“A situação piorou. O espaço ficou muito maior e é fácil porque não tem fiscalização que cumpre a legislação vigente. Eles vão se acumulando. Desde que inaugurou o terminal dobrou o número de pessoas atuando na porta do aeroporto”, completou.

ESPERA

Thiago explica que existem atualmente 75 taxistas trabalhando no terminal aéreo. De acordo com ele, com a atuação dos motoristas clandestinos, os profissionais credenciados acabam esperando muito tempo para conseguir um novo passageiro. O tempo aguardando chega a duas horas.

“Demoramos de duas a três horas puxando uma fila de táxi para fazer um atendimento, enquanto as pessoas não legalizadas chegam de hora em hora ou de 40 em 40 minutos fazendo atendimento. Acaba refletindo no orçamento do profissional”, explicou.

EMPRESA: VIAGENS SÓ ACONTECEM COM APLICATIVOS

A Uber, empresa cujo nome aparece em várias placas utilizadas por clandestinos para chamar clientes, informou que todas as viagens que seus motoristas fazem são realizadas necessariamente por meio de seu aplicativo.

“O usuário solicita um carro ao toque de um botão e recebe, via aplicativo, informações do motorista parceiro que vai buscá-lo, como nome, foto, além de modelo, cor e placa do veículo. Dessa forma, qualquer viagem feita fora desses padrões não é uma viagem de Uber”, disse em nota.

A empresa destacou ainda que a oferta de viagens fora da plataforma configura uma violação aos termos e condições de adesão ao aplicativo. “Caso seja comprovada alguma irregularidade, os envolvidos podem ser banidos”, pontuou.

ATENÇÃO

Saiba os Riscos da corrida fora do app

Motoristas de aplicativo podem fazer corridas fora da plataforma?

Não. A prática viola os termos de adesão aos aplicativos e é considerada transporte ilegal de passageiros, infração gravíssima segundo o Código Brasileiro de Trânsito.

Taxistas podem  oferecer corridas fora do taxímetro?

Não. Lei federal determina que o uso do taxímetro é obrigatório em cidades com mais de 50 mil habitantes.

Quais são os riscos aos passageiros?

Não há garantia de que um motorista, que não é taxista e que não faz a corrida por meio de um aplicativo, teve seus antecedentes criminais checados – todos os que são aceitos nas plataformas de aplicativos são checados. Ao aceitar corridas feitas fora dos aplicativos, o passageiro também deixa de ter direito à cobertura do seguro que as plataformas são obrigadas por lei a disponibilizar em caso de acidentes.

Como evitar embarcar em um corrida irregular?

Para fazer uma corrida por meio do aplicativo, acione o sistema do app e cheque a placa e o nome do motorista que aparecem na tela do seu celular antes de entrar no carro. Não aceite a ajuda de estranhos e, se tiver dúvidas, peça ajuda a funcionários do aeroporto.

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Fonte: Folha de São Paulo

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