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Motoristas flagrados na lei seca continuam dirigindo

Motoristas flagrados na lei seca continuam dirigindo

A lei prevê até cinco anos para concluir processo e punir infratores

Publicado em 16 de junho de 2018 às 23:36

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Fabio Mengali ficou paraplégico após ser atropelado, enquanto pedalava na orla da Praia da Costa, em Vila Velha, por um motorista embriagado. (Guilherme Ferrari/Arquivo)

Em uma década de Lei Seca, pouco mais de 39,2 mil motoristas foram autuados por dirigir sob influência de álcool no Estado. Nesse mesmo período, nem 50% (13.524) tiveram a carteira suspensa, o que os impediria de assumir novamente o volante.

Isso porque, pela legislação, o Departamento Estadual de Trânsito (Detran) tem até cinco anos para concluir o processo administrativo contra o infrator, prazo que costuma transcorrer em razão dos seis recursos aos quais o motorista tem direito.

E assim, enquanto motoristas continuarem dirigindo depois de beber e a fiscalização não for efetiva, jovens como Fábio Mengali, 29, vão ter a vida completamente modificada. Ele ficou paraplégico após ser atropelado, enquanto pedalava na orla da Praia da Costa, em Vila Velha, por um motorista embriagado.

O acidente aconteceu em outubro de 2016, deixando Fábio totalmente dependente da família e, somente agora, após superar algumas intercorrências, ele conseguiu iniciar um processo de reabilitação no Hospital Sarah Kubitschek, em Brasília.

“Isso está sendo bom, principalmente para a mente dele. Ele é um menino alegre, alto-astral, mas vez ou outra me perguntava: ‘onde estão meus passos, mãe’?”, conta a aposentada Sandra Maria de Sá, 60.

Para ela, esse cenário de violência no trânsito só vai mudar com educação, em casa e nas escolas.

O diretor-geral do Detran, Romeu Scheibe Neto, destacou que o órgão tem realizado ações em parceria com os municípios justamente para essa finalidade.

“São realizadas obras de engenharia e implantada sinalização nos municípios e, tão logo acabe essa etapa, são trabalhados projetos educacionais nas escolas”, afirma.

Um dos projetos é o ‘Detranzinho itinerante’ que, segundo o órgão, realiza atividades com a temática do trânsito como um grande jogo de tabuleiro, teatro de fantoches e contação de histórias.

 

CAMPANHAS EDUCATIVAS NÃO ATINGEM JOVENS

 

Presidente da Associação Brasileira de Medicina do Tráfego no Espírito Santo (Abramet-ES), Sandro Rotunno disse que pesquisas indicam que campanhas educativas na tevê não atingem o público de 18 a 35 anos, faixa etária que mais frequentemente está envolvida em acidentes após ingerir bebida alcoólica.

Para ele, embora defenda a Lei Seca, fiscalização e punição mais rigorosas são necessárias.

“Se as campanhas não conseguem atingi-los psicologicamente, é preciso adotar ações que forcem a mudança de comportamento, como é o caso de dobrar o valor da multa para casos de reincidência”, afirma.

FISCALIZAÇÃO FOI REDUZIDA

Para quem atua na área, a blitz é considerada estratégia eficaz a fim de flagrar motoristas que insistem em beber e dirigir. Contudo, a fiscalização que, no início da Lei Seca, era frequente, hoje pouco é vista no Estado.

A redução das blitze foi apontada por A GAZETA em janeiro. Um dos parâmetros era o número de autuações que, num comparativo de 2015 com 2017, apontava queda de quase 60% nos testes de bafômetro no Estado.

Um erro, segundo análise do engenheiro Fernando Diniz, um dos idealizadores da Lei Seca e presidente da ONG Trânsito Amigo. Ele avalia que um dos grandes êxitos no Rio de Janeiro é a sistematização de operações e o trabalho em conjunto.

“Enquanto Detran, guarda municipal, polícias civil, militar e rodoviária fizessem ações independentes, não daria certo. Era preciso unificar para dar resultado”, assegura Diniz, pai de uma vítima do trânsito.

Diniz frisa que a fiscalização é imprescindível para a garantia da segurança no trânsito e defende que o número de operações seja ampliado. “É preciso ter mais do que existe hoje. E como vão fazer isso, se não há novos concursos?”, questiona.

Membro do Conselho Estadual de Trânsito, Fabiano Contarato reforça que a fiscalização é, junto com educação e legislação, parte do tripé do trânsito. “Mas não vejo mais blitz acontecer por aqui. Falta fiscalização, falta o processo educacional.”

Questionada sobre as operações, a Polícia Militar não se manifestou. Em janeiro, quando denunciou a redução, a reportagem teve acesso aos dados pela Lei de Acesso à Informação. Na ocasião, o tenente-coronel Marcelo Muniz disse que as blitze foram direcionadas a outras finalidades, e admitia a necessidade de retomar as de Lei Seca. Passados cinco meses, não há informação se a medida foi adotada.

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