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Projetos em comunidades resgatam jovens e crianças

Projetos em comunidades resgatam jovens e crianças

Ações nas comunidades ajudam a combater problemas sociais

Publicado em 23 de junho de 2018 às 23:52

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Leandro (de touca, à esquerda) em roda de capoeira com os alunos, em Rio Marinho. (Fernando Madeira )

O som do berimbau dá o compasso para o início da capoeira. O jogo de corpo, com golpes ágeis e complexos, usa pés, braços, mãos, cabeça e joelhos com elementos de acrobacia. Em Rio Marinho, Cariacica, a mistura de arte marcial e dança conquista jovens e crianças e desempenha um outro papel: de transformação social.

A capoeira faz parte de um projeto social chamado Nação Iorubá, desenvolvido voluntariamente pelo professor da própria comunidade Leandro Santos Silva, 32. Ele passou a ajudar crianças e jovens há quatro anos como uma forma de tentar afastá-los da criminalidade, assim como diversos outros projetos que surgem dentro das comunidades da Grande Vitória no enfrentamento de problemas sociais.

A ideia de Leandro deu tão certo que hoje já são 60 alunos. A vontade de ajudar surgiu ao perceber que a capoeira mudou a sua própria realidade. Da periferia do Sul da Bahia, ele viu muitos amigos e parentes entrarem para o crime ou perderem a vida por causa da violência. Aos 15 anos, deu seus primeiros passos na arte e acredita que isso foi a base para sua formação como cidadão.

“Eu venho de uma família desestruturada, não conheci meu pai e fui criado apenas pela minha mãe. Acredito que o esporte ajudou em minha formação. Faço minha parte para evitar que crianças e jovens caminhem para a criminalidade. Sinto que eles precisavam ocupar o corpo e a mente de forma saudável”, diz.

ALÉM DA TÉCNICA

O gerente de Responsabilidade Social e Filantropia do Instituto Presbiteriano Mackenzie, Jôer Corrêa Batista, afirma que os projetos sociais são instrumentos que vão além da técnica. É um tipo de trabalho preventivo para reduzir problemas sociais, como violência urbana e discriminação.

Alef (à esquerda) e Thayllander dão aulas de skate no projeto em que Gustavo (ao centro) participa. (Fernando Madeira)

Ele acrescenta que os projetos em comunidades carentes nascem da incapacidade do poder público de abranger toda a demanda necessária. Essa ausência é que faz outros modelos se desenvolverem através de instituições sem fins lucrativos. Na sua avaliação, isso é positivo, pois eles conhecem melhor a realidade das pessoas e acabam atendendo com mais agilidade as necessidades do local.

“Existe uma relevância importante das instituições sem fins lucrativos que ocupam a lacuna que é deixada pelo poder público, como nas áreas de educação e saúde”, afirma.

Os projetos que ajudam a transformar a vida de comunidades carentes estão por alguns bairros da Grande Vitória, como em Balneário de Carapebus, na Serra. O coletivo Skate Pra Quem Precisa começou em outubro do ano passado com um grupo de amigos que gostava de skate. A intenção era apenas ensinar os meninos da rua, mas os nove integrantes acabaram descobrindo que a transformação social seria muito maior.

“Colocamos regras para quem está no projeto. Primeiro, procuramos os pais para conversar e passamos a intervir na vida do aluno. Em roda de grupo eles acabam falando de problemas, uso de drogas, conversamos e aconselhamos”, afirma um dos responsáveis, o educador social Thayllander Pires da Silva.

As aulas acontecem na rua em quatro modalidades: freestyle, speed, street, dancing. Atualmente, há 27 integrantes de 6 a 14 anos, o projeto aos poucos está conquistando espaço e uma sede está sendo construída. Eles também possuem parceria com a Associação Capixaba de Skate, que ajuda com palestras e doações de equipamentos e tênis.

O resultado do empenho dos amigos já começou e é relatado pelos próprios alunos, como Gustavo Paixão Neves, de 12 anos, que vem se destacando no esporte e realiza manobras que poucos conseguem. “Antes eu era preguiçoso e só ficava em casa, as aulas me ajudaram a conquistar mais amigos. Eu também me desenvolvi no esporte e consigo fazer muita coisa”, diz.

Com poesia, coletivo exalta a voz feminina na periferia

“Moreninha não, eu sou preta... Negra”, afirma, em tom de empoderamento, a estudante Julia de Oliveira Ramos, de 15 anos, sobre a cor de sua pele. Ela mostra que sua autoafirmação ganhou força com a participação em um grupo que exalta a voz feminina em comunidades carentes através do slam, uma modalidade de poesia escrita e recitada em disputas. Trata-se do Coletivo Nísia, de Vila Velha.

O assunto mais estudado entre elas é o feminismo, mas seus textos falam sobre experiências vividas, ouvidas e sofridas e, por isso, atravessam o assédio, o preconceito e a violência.

Segundo a professora e coordenadora do projeto, Daniela Andolphi, de 37 anos, o projeto foi criado há um ano como uma forma de dar voz às mulheres e aos poucos também foi acolhendo ao público LGBT. Atualmente, elas dão palestras em universidades, promovem eventos e participam de concursos de slam. São 56 integrantes, 15 participam ativamente em encontros semanais na Barra do Jucu.

O nome ao coletivo vem de uma inspiração para essas meninas: Nísia Floresta. Educadora, escritora e poetisa, ela nasceu em 1810 e é considerada uma pioneira do feminismo no Brasil, pois conseguiu romper os limites entre os espaços públicos e privados publicando textos em jornais.

“Eu ouvia as histórias no colégio e percebia que elas estavam com problemas que ultrapassam as barreiras da escola, criei o coletivo para escutá-las. Essas meninas tinham a necessidade de gritar. Começamos com alunas, mas temos mães e até avós que começaram a participar”, diz Daniela.

NOVOS TALENTOS

O projeto deu tão certo que conseguiu descobrir diversos talentos, como a da própria Júlia, que ficou em 2º lugar do Slam Interescolar Brasileiro, no ano passado. Ela falou sobre racismo, homofobia e suicídio, problemas enfrentados dia após dia pelos integrantes. “Eu nunca tinha escrito nada, o coletivo ampliou a nossa visão do mundo”, afirma.

O próximo objetivo do projeto é conquistar a independência financeira dos integrantes ao produzir produtos com a marca do coletivo. Enquanto isso caminha nos planos, algumas mudanças já são perceptíveis na vida das integrantes: elas descobriram que é possível sonhar. Para o futuro, querem estudar e ter independência financeira. “Hoje eu sei o meu lugar. E eu vou ter uma profissão, vou ser esteticista”, planeja a estudante Lorena do Amaral, de 19 anos.

Projetos desenvolvidos pelo poder público

Ações

Além das ações que surgem dentro das comunidades, o poder público também realiza projetos sociais. Conheça alguns:

Governo do Estado

Ocupação Social

Funciona em 26 bairros de maior vulnerabilidade social e, consequentemente, que concentram o maior número de homicídios no Estado. São realizadas ações como qualificação profissional e cursos de música, promovendo a inclusão e prevenção.

Prefeitura de Vitória

Núcleo Afro Odomodê

O núcleo desenvolve atividades culturais para jovens afrodescendentes. Busca estimular, sensibilizar e mobilizar os jovens para a luta contra os preconceitos, violências e exclusões. Funciona de forma intinerante pelos bairros.

Casa da Juventude

Em São Pedro, o espaço serve de convivência, formação e de referência para que os jovens possam expressar suas opiniões e demandas sobre os desafios e possibilidades na construção da política pública de juventude.

Centro de Referência da Juventude

O centro oferece atividades de lazer, cultura, esporte, arte, música, atendimento psicossocial, discussão e formulação de políticas públicas. O projeto funciona de forma intinerante.

Prefeitura da Serra

Serra+Você

O evento é realizado uma vez por mês em bairros diferentes. Entre os serviços oferecidos estão consultas com médicos e dentistas, distribuição de kits de escovação, vacinação, atualização do Cadastro Único para o Bolsa Família e demais programas sociais.

Serra, Meu Lar

A prefeitura realiza a regularização fundiária de áreas já consolidadas do município. Muitos não têm acesso à escritura por falta de recursos financeiros. Por meio do projeto, o documento é entregue pronto.

Programa Adolescente Cidadão (PAC)

Busca articular as ações de atendimento ao adolescente. Por meio do PAC é trabalhado o “papo família”, “oficina de teatro”, “papo legal – saúde”, oficina de trabalho.

Empreendedores do Futuro

O projeto tem o objetivo de promover o empreendedorismo de adolescentes entre 14 a 18 anos. O curso tem duração de 120 horas e prepara o jovem que está em situação de vulnerabilidade social para o mercado de trabalho. Ele fica em Cidade Continental.

Prefeitura de Cariacica

Acessuas Trabalho

O projeto tem como objetivo orientar os usuários da política nacional de assistência social sobre questões relacionadas ao mundo do trabalho. As ações realizadas nos Cras do município são oficinas sequenciais e continuadas com intuito de promover vivências, conhecer o ambiente corporativo e promover palestras e rodas de conversa.

Prefeitura de Vila Velha

Serviço de Convivência

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Instituto Esperança, Apae e Unicep são instituições que estabeleceram parceria com a prefeitura para prestar serviço de convivência e fortalecimento de vínculo. Selecionam famílias que recebem capacitação para o trabalho, para aos poucos deixarem de depender de benefícios do governo.

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