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Avós aos 40 anos: o ciclo da gravidez precoce no Espírito Santo

Avós aos 40 anos: o ciclo da gravidez precoce no Espírito Santo

Elas foram mães jovens e veem filhas adolescentes darem à luz

Publicado em 21 de julho de 2018 às 22:51

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“Ser avó nova é pior do que ser mãe adolescente.” Pelo menos para Jaqueline Pereira, 36, que já tem um netinho de um ano. Por mais que o Luiz Davi seja o amor da sua vida, hoje ela diz ser mais consciente das dificuldades de se criar uma criança do que quando engravidou de Ketelyn Pereira, 19, mãe do menino. Ela faz parte de um grupo de mulheres que tornou-se avó antes ou na faixa dos 40.

“Agora sou mais madura e sei as necessidades de uma criança”, afirma. No caso de Luiz Davi, que tem um problema respiratório, a atenção é redobrada. “Tenho que ficar em cima dela para tudo, até para a medicação do filho. Não me lembro de ser, nessa fase, tão desligada.”

Além dos cuidados com a saúde do neto, Jaqueline também dá suporte financeiro, já que os pais de Luiz Davi estão desempregados.

As mulheres que tornam-se avós na faixa dos 40 anos muitas vezes veem nos filhos a repetição da própria história: a gravidez na adolescência. E é na periferia que a incidência é maior.

Mestre em Direitos e Garantias Fundamentais, a advogada Ana Gabriela Poncio diz que essa é uma realidade mais comum nas classes mais baixas, apontando ainda que a questão de gênero e racial coloca a mulher, sobretudo a negra, em posição mais desfavorável.

Não é raro que sejam essas mulheres as chefes de família e, além de cuidar das próprias contas, somam às despesas de casa os custos com a chegada de uma criança.

“A gente cria pensando que a filha vai casar, e de repente aparece grávida. Foi um choque! Mas também engravidei aos 15”, lembra a merendeira Lindaura Soares da Silva, 42, mãe de Michelly, 21, e avó de Henri Luca, 3, e que sustenta a casa, pois a filha começou a trabalhar há pouco tempo.

Mesmo com a filha Amanda morando com o namorado após engravidar, a vendedora Simone Floriano Lisboa, 39, continua dando suporte à jovem, cuidando da neta Aghata, ao menos para que ela consiga estudar. “A gente orienta para que os filhos não tenham as nossas experiências, mas eles querem as próprias experiências. Ser mãe muito nova não é fácil.”

Professora da Universidade Federal do Espírito Santo (Ufes), a antropóloga e cientista política Sonia Missagia Mattos observa que as adolescentes ainda carregam a dificuldade de se desenvolver por conta da criança, ao passo que as avós assumem responsabilidades que não deveriam.

“Minha filha foi mãe solteira quando estava com 16 anos. Tive que pegar uma responsablidade com a neta; até hoje ainda tenho. Financeiramente e na questão da educação. E minha filha, que estava no ensino médio,não voltou a estudar”, conta Luciene Nunes de Almeida, 47, avó de quatro.

SUPORTE FINANCEIRO E EMOCIONAL

As avós solicitadas como suporte emocional e/ou financeiro quando filhas ou filhos jovens não conseguem cuidar da criança podem ficar sobrecarregadas, levando a níveis elevados de estresse e comprometimento do bem-estar. Em relação à avó materna do bebê, especialmente, verifica-se com frequência que cuidam e apoiam a mãe adolescente e sua criança, e a avó tornando-se, muitas vezes, mãe substituta do neto.

Aqui, vale mencionar que, mesmo denotando satisfação com o papel, algumas avós queixam-se de conflitos no exercício de sua função. Mas, se de um lado existe a sobrecarga, por outro observa-se a valorização e aumento da autoestima destas mulheres por conseguirem cuidar do neto. É bom destacar: a vulnerabilidade de famílias de baixa renda, somada a rupturas conjugais e ausência do pai da criança faz com que estas mulheres-avós sejam o único suporte que as filhas ou filhos jovens podem contar.

16 MIL GAROTAS GRÁVIDAS NO PERÍODO DE CINCO ANOS

Mais de 16,4 mil meninas, de 10 a 19 anos, tiveram filhos nos últimos cinco anos na Grande Vitória. Os indicadores apontam uma tendência de queda, porém o volume de partos ainda é grande entre as adolescentes.

Na Serra, onde é registrada a maior incidência, em 2013, 1.361 bebês nasceram de mães adolescentes e, no ano passado, foram 1.095. Uma queda de 3,36 pontos percentuais.

Para manter o ritmo de redução, a Secretaria Municipal de Saúde está atuando na prevenção, entre outras ações, com a distribuição de preservativos nas unidades de saúde, distribuição de anticoncepcional, e realizando palestras educativas.

O município de Vila Velha está logo atrás no número de meninas que tornaram-se mães no período de 2013 a 2017. Por lá, equipes procuram trabalhar a saúde sexual e reprodutiva na adolescência, com ações individuais ou em grupos.

Em Vitória, a quantidade de adolescentes que tiveram filhos passou de 706 para 539, no intervalo de cinco anos, o que representou uma redução de quase 3,5 pontos percentuais.

“O município desenvolve uma política de saúde do adolescente nas 29 unidades de saúde, em outros espaços nas comunidades e na rede municipal de ensino com o Programa Saúde na Escola. Esse trabalho resulta na redução de adolescentes grávidas, à medida que dá a elas a oportunidade de compreender as transformações nessa faixa etária, assim como sua sexualidade e novos projetos de vida”, informa, por nota, a assessoria da Secretaria Municipal da Saúde.

A menor incidência de meninas que tiveram filhos foi registrada em Cariacica onde, entre 2013 e 2018, houve 2.602 casos.

GRAVIDEZ PRECOCE

VITÓRIA

Oscilações

Em Vitória, a tendência de queda é registrada desde 2013, embora tenha havido uma pequena oscilação para cima, de 2015 para 2016.

SERRA

Comparação

Assim como na Capital, na Serra houve um leve crescimento, só que no período de 2013 para 2014. Desde então, o ritmo é de queda.

VILA VELHA

Percentuais

No município, o número de bebês nascidos de mães adolescentes passou de 979 para 803, o representa uma queda de 15,19% para 11,78%.

CARIACICA

Menor

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A cidade é a que apresenta menos casos de meninas, de 10 a 19 anos, com filhos. Foram 559 em 2013, e 461 no ano passado.

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