> >
Ceturb já sabia de riscos no Terminal de Itaparica há três meses

Ceturb já sabia de riscos no Terminal de Itaparica há três meses

Diretor-presidente da empresa, Alex Mariano, disse que precisava, porém, de laudo definitivo para determinar interdição

Publicado em 23 de julho de 2018 às 13:43

Ícone - Tempo de Leitura 0min de leitura
Com estrutura comprometida, Terminal de Itaparica é interditado. (Fernando Madeira)

O anúncio de que o Terminal de Itaparica seria interditado por tempo indeterminado devido às más condições da estrutura que sustenta o local não foi totalmente uma novidade para a Ceturb. Em abril deste ano, a companhia contratou a empresa que elaborou o laudo apresentado na última sexta-feira (20) e, pelo menos desde essa época, já sabia de alguns perigos às pessoas que transitam por lá.

Segundo o contrato da Ceturb com a empresa que emitiu o laudo, de 05 de abril deste ano, havia "o risco aos usuários e da preservação da saúde de todos que utilizam o Sistema Transcol", além da estrutura da cobertura apresentar avançado estágio de corrosão e trazer perigo. O documento também traz informações de engenheiro do Instituto de Obras Públicas do Espírito Santo (Iopes), alertando para problemas de escoamento de água nas peças e de corrosão na estrutura metálica da edificação. Mas, de acordo com o diretor-presidente da Ceturb, Alex Mariano, em entrevista ao Gazeta Online nesta segunda (23), mesmo assim, não era possível fazer a interdição sem um laudo definitivo e que a companhia fez tudo o que era possível fazer. 

Ao anunciar que o terminal ficaria fechado, a Ceturb comunicou que encomendou uma nova perícia em abril, mas não detalhou os riscos já conhecidos. O Gazeta Online teve acesso ao contrato de prestação de serviços de emissão de laudo conclusivo da cobertura principal do Terminal de Itaparica.

Nele, há destaque para outra justificativa para contratação da empresa: "conclusão do laudo das treliças laterais de marquise, indicando que o projeto estrutural está sub-dimensionado, que a espessura da chapa está com diminuição comprovada, que provavelmente, houve troca do aço dos perfis por aço de menor resistência mecânica".

O documento também informa que os fechamentos laterais em alumínio de cor azul (tapamentos em ACM) apresentam sistema de fixação adotado ou execução inadequados para a estrutura da cobertura e para os carregamentos dinâmicos de vento aos quais essas placas estão submetidas.

"NÓS NÃO SOMOS ENGENHEIROS. PRECISA CHEGAR UM LAUDO DEFINITIVO"

O diretor-presidente da Ceturb, Alex Mariano. (Reprodução/TV Gazeta)

Em entrevista ao Gazeta Online, Alex Mariano explicou o processo de laudos e averiguações até que se chegasse à interdição total do terminal. 

"Em 2013 houve o colapso de uma marquise, que é diferente da nave - a parte central do terminal. Eu assumi em 2015, dois anos depois. Quando eu assumi, preocupado com um todo, impulsionei: 'Como está a situação da outra marquise?'. Mediante um posicionamento de que essa marquise teria complicações e que poderia também entrar em colapso, nós fizemos a retirada emergencial."

O diretor reforçou que ele próprio impulsionou a retirada da marquise. "Eu fiz a primeira contratação de um lado para saber especificamente o que aconteceu do lado oposto ao que caiu. Então eu comecei a tomar todas as atitudes. Em 2016, saiu o laudo dizendo que tinha erro na execução e alguns erros no projeto. Eu montei uma equipe junto da Ceturb, comuniquei todos os fatos ao Iopes e comecei a questionar a nave, como estava a nave. O laudo era para saber se o projeto foi executado corretamente, se a espessura está tudo ok. Foi feito todo um levantamento dessa situação já com a outra marquise retirada (em 2015), para precaver. Nesse lado, verificou-se que tem problemas na execução e no projeto. Se tem problema na execução e no projeto, quem diz que não tem na parte central?'", indagou. 

"Aí eu abro processo, faço os questionamentos e encaminho. Em abril deste ano, foi contratada uma empresa e o relatório chegou sexta-feira, dia 20. E a palavra fala em interdição imediata, e eu tomei a atitude para preservar a vida das pessoas."

Questionado sobre as justificativas apresentadas no contrato de abril de 2018 - que citamos no início da matéria -, o diretor-presidente confirmou que conhecia os problemas e, por isso, pediu um laudo definitivo.

Perguntado o motivo de não ter interditado o terminal ao saber desses riscos até a conclusão do laudo definitivo, ele afirmou: "Nós não somos engenheiros, precisa chegar a um laudo definitivo. Se a gente fala: 'Tem risco, sai. Não pode ficar, não'. Eu preciso de um laudo definitivo que fale que o risco é real, iminente, com RT assinada, tudo certinho".

Sobre a origem das informações que constam na justificativa do contrato, o diretor explicou que são do Iopes junto com a equipe de Engenharia da Ceturb. "Sem um laudo que diz interdição imediata, nós não podemos interditar. Tem que analisar com profundidade. Essa foi a posição da equipe de Engenharia", finalizou.

No Terminal de Itaparica, queda da cobertura, em 2013, mudou a rotina de milhares de passageiros. Local foi interditado e não tem prazo para ser reaberto. ( Reprodução TV Gazeta)

VEJA TRECHO DO DOCUMENTO DE ABRIL

Justificativa

Tal contratação se faz necessário devido a:

a) Estrutura de aço da cobertura que apresenta avançado estágio de corrosão e traz perigo aos transeuntes e prestadores de serviços daquele Terminal;

b) Análise do engenheiro estrutural do IOPES relatando que a estrutura metálica da edificação possui problemas de escoamento de água nas peças e de corrosão;

c) Precocidade de aparição de oxidação e evolução para corrosão nos perfis;

d) Risco aos usuários e a preservação da saúde de todos que utilizam o Sistema Transcol;

e) Conclusão do Laudo das treliças laterais de marquise indicando que o projeto estrutural está sub-dimensionado, que a espessura da chapa está com diminuição comprovada, que provavelmente, houve troca do aço dos perfis por aço de menor resistência mecânica;

f) A treliça TS-01 da cobertura da nave principal em operação apresenta evidências quanto ao estado avançado de perda de seção resistente por corrosão nestes elementos;

g) Os tapamentos em ACM (Fechamentos laterais em alumínio composto de cor azul) apresentam sistema de fixação adotado ou execução inadequados para a estrutura da cobertura e para os carregamentos dinâmicos de vento aos quais essas placas estão submetidas.

VEJA O QUE DIZ O LAUDO DEFINITIVO DE 20 DE JULHO

A pedido do Gazeta Online, a Ceturb apresentou o laudo definitivo, com data de 20 de julho, onde consta a conclusão da avaliação contratada em abril. O documento deixa claro que houve falha de execução e falha no projeto. Veja abaixo as conclusões do engenheiro responsável pelo laudo.

- O fabricante demonstrou não ter aptidão para a fabricação de estrutura metálica, apresentou vícios na soldagem, na pintura e na montagem, bem como alterou as espessuras de alguns perfis para menos, aumentando consideravelmente o risco de ruína.

- A falta de contravento da cobertura lateral e falhas nas ligações (falhas de execução) associado ao subdimensionamento (falha do projeto) foram responsáveis pela ruína da mesma.

- Na nave principal ainda em utilização, bem como nas coberturas laterais, colapsada ou desmontada, apresentam muitas não conformidades, sejam de projeto e ou execução, somado ao estado de degradação da estrutura, faz com esta não tenha condições de ser utilizada com a devida segurança e tão pouco que seja feito o reforço de forma satisfatória, dentro de um custo x benefício aceitável, assim indico que a mesma seja substituída, que um novo projeto seja elaborado levando-se em conta as condições peculiares necessárias a esse tipo de edificação.

Este vídeo pode te interessar

- Diante do exposto acima o terminal deve ser interditado imediatamente ao uso público e a estrutura desmontada o mais breve possível.

Notou alguma informação incorreta no conteúdo de A Gazeta? Nos ajude a corrigir o mais rapido possível! Clique no botão ao lado e envie sua mensagem

Envie sua sugestão, comentário ou crítica diretamente aos editores de A Gazeta

A Gazeta integra o

The Trust Project
Saiba mais