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Do barro à vida: a paneleira que reinventou sua história com o trabalho

Do barro à vida: a paneleira que reinventou sua história com o trabalho

Dona Conceição, uma das paneleiras mais antigas de Vitória, passou a se dedicar à produção da peça símbolo do Estado para ajudar no sustento dos filhos. Aos 88 anos, ela narra sua história na estreia da seção "Capixabas Têm o que Contar"

Publicado em 6 de julho de 2018 às 20:26

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Aos 88 anos, a memória às vezes falha, o andar pode ser um pouco mais lento, porém as mãos continuam firmes, e ao mesmo tempo carregam delicadeza na hora de moldar panelas de barro. É nesse momento de ofício que reside a grande alegria de Maria Conceição Gomes Barbosa, uma das paneleiras mais antigas de Vitória – e na ativa! –, primeira personagem a dividir um pouco de sua história nesta série de reportagens que, aos domingos, vai celebrar a autoestima do povo espírito-santense.

Dona Conceição, como é carinhosamente chamada, diz que reinventou sua vida a partir do barro. Isso porque, até por volta dos 40 anos, ela trabalhava em casa, na região de Goiabeiras, costurando e fazendo bordados. Mas, embora fizesse tudo com capricho e não lhe faltasse encomendas, costumavam faltar bons pagadores.

Para ajudar no sustento da casa de 13 filhos, decidiu seguir as dicas da sogra para fazer panelas. “Eu disse: ‘Me arranja uma bolinha de barro para eu fazer panela’. Mas ela respondeu: ‘O que é isso, menina? Você tem um trabalho tão bonito, tudo o que você faz é maravilhoso. Faço eu panela porque não sei fazer outra coisa’. Mas eu queria aprender. Só que ela não me deu a bolinha, não quis que eu aprendesse”.

Determinada, dona Conceição aproveitou que um dos filhos costumava acompanhar outra paneleira até o barreiro – de onde é retirada a matéria-prima das panelas – e pediu que o menino levasse para casa um pouco de barro. Assim, de pequenas remessas, ela foi, sozinha, aprendendo a moldar as panelas.

Naquela época, com as panelas prontas, os filhos se revezavam para levá-las para vender. “Eles vendiam lá na Vila Rubim, no Morro da Fonte Grande, em Jucutuquara. Eles andavam por tudo quanto é lugar com aquelas panelas.”

Dona Conceição recorda que, de um início difícil, passou por um período mais próspero, inclusive com alguns dos filhos também fazendo e sustentando as famílias com as panelas.

Dona Conceição molda a peça de barro, uma atividade que ela abraçou já por volta dos 40 anos de idade . (Bernardo Coutinho - GZ)

Ao longo das últimas décadas, enquanto ela construía sua trajetória e moldava o barro, A GAZETA também ajudou a dar visibilidade a uma das atividades que mais simbolizam o Espírito Santo.

Mesmo sendo hoje a paneleira mais idosa na ativa, dona Conceição confidencia que, se a deixassem, iria até no barreiro tirar o material: “Venho mexer com o barro, abro umas cinco ou seis panelas e deixo aí. Vou para casa, faço o almoço e volto para pregar as orelhinhas (as alças). Depois, faço as tampas. Se eu for ao barreiro, ainda dou umas enxadadas e jogo o barro para cima”, diz, alegre.

Questionada sobre qual outro capixaba ela acha que as pessoas também deveriam conhecer melhor e se orgulhar, dona Conceição indicou Cacau Monjardim. Conheça mais sobre ele.

QUEM É CACAU MONJARDIM?

Dono do bordão "moqueca é capixaba, o resto é peixada", o jornalista e advogado Cacau Monjardim foi um dos pioneiros no colunismo social capixaba, com a coluna "Coquetel da Cidade", no extinto "O Diário". Na presidência da Fundação Jônice Tristão, ele continua ativo na luta pela divulgação do potencial turístico do Espírito Santo. (Mônica Zorzanelli)

Jornalista e escritor, José Carlos Monjardim Cavalcanti é o autor da célebre frase “Moqueca, só capixaba, o resto é peixada”, criada em 1974 quando estava na Bahia a trabalho. Ele é ainda um ferrenho defensor das panelas de barro de Goiabeiras – e costumava comprar as suas com a família de dona Conceição.

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