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Medicina à distância reduz filas e acelera diagnóstico de doenças

Medicina à distância reduz filas e acelera diagnóstico de doenças

Com programa, 80% dos pacientes poderiam ter avaliação pelo computador

Publicado em 28 de julho de 2018 às 20:14

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Carmen é a chefe da unidade da Ufes que utiliza meios tecnológicos para atendimento. (Marcelo Prest )

De um lado, pacientes precisando de atendimento com especialistas. Do outro, médicos com a habilitação necessária para dar a assistência. Entre eles, apenas a tecnologia sendo usada por outro profissional de saúde. Trata-se do programa Telessaúde, uma ferramenta criada pelo Ministério da Saúde que encurta distâncias e, mais do que isso, pode reduzir as longas filas de espera por cardiologistas, oftalmologistas, dermatologistas, entre outras especialidades.

A estimativa é de queda de cerca de 80%, ou seja, de cada 10 pacientes que precisam passar por avaliação com especialista, apenas dois realmente teriam que ir para as filas se a ferramenta fosse utilizada adequadamente pelos municípios. O levantamento mais recente (de abril de 2018) aponta que, entre os médicos que usaram o Telessaúde, em 82,66% dos casos não houve necessidade de encaminhar o paciente.

As teleconsultas têm como princípio melhorar a atenção básica que, nos municípios, é feita por médicos generalistas (clínicos). Esse profissional, usando a ferramenta no computador, pode, por exemplo, solicitar segunda opinião a um especialista sobre um paciente.

“Ele nos manda a pergunta e, quando respondemos, temos duas funções: trazer o conhecimento sobre aquele assunto, ou seja, fazer uma formação continuada uma vez que a resposta é baseada em evidências e com referências bibliográficas; e orientá-lo sobre o papel dele dentro do que está disponível na atenção básica”, explica a fonoaudióloga Carmen Barreira-Nielsen, chefe da unidade de e-saúde (que utiliza meios tecnológicos para atendimento) da Universidade Federal do Espírito Santo (Ufes).

A instituição é um dos braços do Telessaúde no Estado e disponibiliza 50 especialistas e quatro reguladores para promover o atendimento via computador.

“Com isso, o profissional vai ter o conhecimento e as orientações para a resolução do caso. Então, se ele conseguir tratá-lo na atenção primária, o paciente não vai entrar na fila para aguardar a consulta com um especialista que, às vezes, pode demorar quatro meses, seis, um ano”, acrescenta.

Médica na unidade da Praia do Suá, em Vitória, Dimitria Sesquim recorreu ao Telessaúde neste mês, quando recebeu um paciente com lesões na pele que não se pareciam com as de livros. “Contei sobre o caso e enviei uma foto da lesão. A resposta veio com duas hipóteses diagnósticas, sendo a mais forte a que já suspeitava. Dei seguimento ao tratamento e o paciente já retornou para reavaliação com melhora considerável do quadro.”

MUNICÍPIOS

 

Apesar das vantagens do programa, Carmen diz que a Ufes realiza uma média de apenas 250 teleconsultas por mês, número abaixo de sua capacidade operacional. Para ampliar a assistência, prefeituras precisam se mobilizar, equipar postos de saúde e orientar suas equipes para usar o Telessaúde.

“Às vezes falta incentivo da própria gestão, de colocar um computador para fazer. Mas vale lembrar que para cada R$ 1 investido no programa, R$ 8 são poupados porque, entre outras coisas, pacientes são retirados da estrada, o custo de tratamento é reduzido e, além disso, dará maior agilidade na solução do caso do paciente”, acrescenta. Carmen diz que o Estado também precisa fazer sua contrapartida financeira. O pedido está em análise no governo.

Teleconsultoria

O que é

Segunda opinião

Quando um profissional de saúde da atenção básica - médico generalista, dentista, enfermeiro - busca uma segunda opinião formativa com um especialista por meio do Telessaúde para esclarecer, entre outras dúvidas, o caso de um paciente.

Como é feita

Computador

A consulta é feita por intermédio de programa de computador e pode ser de duas maneiras: síncrona (em tempo real), por vídeo, com o paciente ou não no consultório; ou ainda assíncrona, com mensagem direcionada ao especialista, que tem até 72 horas para responder. Nas orientações, ele pode indicar exames a serem solicitados e o que esperar do paciente na sua consulta de revisão.

O que pode

Recursos

Pelo Telessaúde, podem ser enviados vídeos, fotos, exames e outros dados do paciente. Essa é uma ferramenta criptografada, garantindo a segurança das informações. Por isso a teleconsulta é liberada por esse canal, e não por e-mail ou aplicativo de mensagens.

Telessaúde: medicina à distância. (Arabson)

PROFISSIONAIS APROVAM

Embora os 78 municípios do Estado tenham aderido ao Telessaúde, nem todos utilizam a ferramenta com frequência. Mas, para quem já conhece, as vantagens são evidentes.

Atuando em Jacaraípe, na Serra, a médica Mariana de Oliveira Dantas Silva conta que se deparou com uma paciente que, em um primeiro momento, encaminhou a um hematologista. Como ela não conseguia a consulta com o especialista, Mariana decidiu recorrer à teleconsultoria.

“Debati o que eu já havia feito, encaminhei exames, verifiquei se precisava de outros. Quem me atendeu foi muito solícito e acabei descartando o encaminhamento ao hematologista. O caso ainda está em andamento, mas pulei uma etapa no tratamento e evitei que a paciente ficasse na fila aguardando um médico”, frisa.

Também da Serra, a clínica geral Ana Elize Turini recorreu ao Telessaúde para saber sobre a substituição de uma medicação, que estava em falta no mercado, mas era recomendada a recém-nascidos. “Pensei: posso utilizar a ferramenta porque, com o corpo docente da Ufes, certamente vão me repassar uma informação atualizada. Foi ótimo! Tive a resposta um dia depois, com artigos e a conclusão de que já não havia necessidade tão grande da medicação.”

Enfermeira em Santa Maria de Jetibá, Letícia Manhani diz que usa com frequência o Telessaúde. “Os problemas são resolvidos muito mais rápido do que se precisássemos encaminhar os pacientes. Para quem está no interior, é excelente.”

LAUDO

Além de consultas, o Telessaúde no Espírito Santo permite a emissão de laudos e diagnósticos à distância. Um dos novos serviços previstos para o segundo semestre é o tele-estomatologia a fim de atender pacientes na área de saúde bucal.

Chefe da unidade de e-saúde da Ufes, Carmen Barreira-Nielsen disse que o hospital universitário recebe muita demanda de teleconsultoria com fotos de cavidade bucal. Então, como existe o curso de Odontologia na instituição, profissionais começaram a ser qualificados para que a nova tele, com a emissão de diagnósticos, passasse a ser oferecida.

“Estamos fazendo adaptação na plataforma e vamos também capacitar toda as equipes de saúde bucal nos municípios. Queremos, agora no segundo semestre, iniciar a oferta do serviço”, afirma. Já os tele-laudos interligam as unidades de saúde com o Hucam de outra forma. Um exame, como um eletrocardiograma por exemplo, é inserido na plataforma e um especialista, neste caso um cardiologista, avalia e emite o laudo que vai determinar os próximos encaminhamentos para o paciente.

WEBCONFERÊNCIAS PARA QUALIFICAÇÃO

Além de consultas, o Telessaúde também ajuda a promover a qualificação dos profissionais por meio de webconferências e debates de temas diversos na saúde. Chamado de tele-educação, o serviço é bastante requisitado e tem mais de 10 mil seguidores em plataforma de vídeo na internet.

“Hoje, quando se fala em qualificação de pessoal ou instrução para desenvolver habilidades, a educação à distância é uma alternativa que nos permite atingir o máximo de pessoas sobre determinado assunto onde quer que estejam”, observa Luiz Claudio Oliveira da Silva, chefe do Núcleo Especial de Desenvolvimento de Recursos Humanos da Secretaria de Estado da Saúde (Sesa), órgão que também integra a equipe de Telessaúde no Espírito Santo.

Trata-se de palestras feitas por especialistas da Sesa, da Universidade Federal do Espírito Santo (Ufes) ou dos municípios, e transmitidas pela internet, em um horário pré-agendado. Para os profissionais que não conseguirem eventualmente acompanhar ao vivo, o material é gravado e fica disponibilizado no YouTube para acesso livre.

“São temas frequentes na atenção primária, e muitas vezes seguimos sinalizações que chegam por meio da teleconsulta. Se um determinado tema está gerando muitas questões, preparamos atividades específicas. Sarampo, por exemplo, foi um que já tratamos”, afirma Carmen Barreira-Nielsen, chefe da unidade de e-saúde da Ufes. Atualmente, segundo ela, há mais de 160 materiais educacionais disponíveis off-line e que são acessados por profissionais, inclusive de outros países.

Em parceria com a Ufes, Sesa e Instituto Federal do Espírito Santo (Ifes), Vitória também utiliza o telessaúde e dispõe de uma estratégia de educação. “É a ETSUS, a escola técnica do SUS que tem a missão de desenvolver ações de formação profissional, pesquisa e integração ensino-serviço-comunidade no SUS a fim de transformar e qualificar as práticas de atenção, educação e gestão em saúde. A ETSUS é uma referência para Vitória e a região metropolitana”, afirma a diretora Sheila Cruz.

SANTA CASA INTERLIGA 130 UNIVERSIDADES

A Santa Casa de Vitória também está integrada à Rede Universitária de Telemedicina (Rute) e, com o uso da tecnologia, tem promovido a qualificação e a troca de experiências de alunos e professores da Emescam.

“Estruturamos o serviço educacional e estamos interligados a várias universidades. São quase 130 no país e algumas no exterior”, conta Rosane Mageste, coordenadora da Telemedicina do hospital.

“Cada vez mais precisaremos unir medicina e tecnologia, tanto na qualificação quanto na assistência. O uso da inteligência artificial vai dar um salto para a medicina e logo se tornará rotina”, completa Rosane.

CRIAÇÃO DO IFES

A plataforma utilizada no Telessaúde do Espírito Santo para acesso à internet a fim de promover as teleconsultas foi toda desenvolvida no Estado.

O trabalho foi realizado por uma equipe do Instituto Federal do Espírito Santo (Ifes) e, agora, já são oito softwares sendo registrados.

“Todos eles estão sendo utilizados no Estado e a boa notícia é que já começamos a fazer o licenciamento dessa tecnologia”, ressalta Rodrigo Varejão Andreão, professor da instituição.

Além da plataforma para consultas, há também uma para exames e laudos. “Pretendemos continuar ampliando nossos produtos. O Telessaúde tem várias possibilidades e depende muito dos parceiros identificarem a demanda para que possamos atendê-la”, diz. “Também fazemos pesquisas sobre novas formas de fazer com que a tecnologia proporcione mais benefícios à população na área de saúde”, acrescenta.

Rodrigo Varejão afirma que a ideia de oferecer tecnologia para os municípios exige um processo de sensibilização, já que a utilização do computador no trabalho pelos profissionais de saúde ainda é restrito.

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“O Telessaúde propõe que o uso seja mais frequente também para qualificar o trabalho deles”, conclui. 

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