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O maquinista que pôs a vida nos trilhos vendendo cocadas

O maquinista que pôs a vida nos trilhos vendendo cocadas

Com o dinheiro da venda dos doces, Altair Spinassé conseguiu viajar pelo país com a mulher. A escola das netas também foi garantida com a renda extra. #somoscapixabas

Publicado em 20 de julho de 2018 às 20:27

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No tilintar de duas colheres que se movem rapidamente nas mãos de Altair Spinassé, 64, cocadas vão ganhando forma. A delicadeza do trabalho em nada lembra as toneladas de minério de ferro que transportava no comando de um trem. Maquinista por quase 20 anos, Altair revela um pouco de sua história entre os trilhos de Vitória-Minas e a doçura que sai da cozinha da sua casa.

Natural de João Neiva, o ex-maquinista veio para Vitória a fim de trabalhar como auxiliar na ferrovia. Mas, em toda folga, fazia o trajeto de volta para visitar a mãe. Em uma dessas viagens, numa parada em Ibiraçu, conheceu o doce que mudaria os rumos de sua vida. Descobriu que a doceira estaria ali diariamente, às 7 horas, produzindo. Então, nos dias que Altair não trabalhava, batia ponto para aprender a fazer cocada.

 Veja vídeo com depoimento de Altair Spinassé, falando sobre sua paixão pelas cocadas 

“Levei muita cacetada no início, mas depois fui aprendendo. Nas folgas, colocava para vender na feirinha do bairro (Jardim Camburi) para ajudar no orçamento. Ainda era auxiliar de maquinista, ganhava pouco e morava de aluguel”, lembra.

Essa era a realidade no final da década de 80, mas logo depois, quando foi promovido a maquinista, a produção de cocadas diminuiu porque era difícil conciliar as duas atividades.

Altair Spinassé, 64 anos, ex-maquinista que recomeçou a vida vendendo cocadas. (Bernardo Coutinho)

Ser maquinista sempre foi um sonho para o jovem Altair e, segundo ele, era na sua época uma grande oportunidade para quem não tinha ensino superior. “Todo mundo que passou por essa função se sente maravilhado. O trem é uma máquina muito grande, e dava uma emoção comandar! Eu me sinto orgulhoso e só tenho a agradecer por isso”, enaltece. 

 

O doceiro exibe as cocadas que acabaram de sair do forno: orgulho e paixão. (Bernardo Coutinho)

Daí que a parada em 2009, com a aposentadoria, deixou Altair um pouco atordoado. “Não sabia fazer nada, só ser maquinista. Então, decidi voltar a fazer cocada. Não podia ficar parado, a cabeça tinha que funcionar”, conta ele, que vende os quitutes para restaurantes e aceita encomendas.

Aspas de citação

Levei muita cacetada no início, mas depois fui aprendendo. Nas folgas, colocava para vender na feirinha para ajudar no orçamento. Ainda era auxiliar de maquinista, ganhava pouco e morava de aluguel

Altair Spinassé, 64, vendedor de cocadas
Aspas de citação

No início, o dinheiro ajudava a pagar a escola das netas. Hoje, além disso, promove momentos de lazer. É com a renda das cocadas que viaja com a esposa, Glorinha, e juntos já fizeram passeios por diversos recantos do país. O próximo será em Ilhéus, na Bahia, mas também já está nos planos um cruzeiro no ano que vem. “Vou ter que fazer bastante cocada para conseguir ir”, brinca.

Embora a cocada seja um prazer, Altair não se esquece da vida que levou como maquinista. Por isso mesmo, ao ser perguntado sobre o capixaba cuja história gostaria que fosse contada, indicou Walter Catabriga Filho, um colega de profissão.

QUEM É WALTER CATABRIGA FILHO

Walter Catabriga Filho. (Acervo pessoal)

Também ex-maquinista, hoje aos 65 anos diz que “toma conta da praia de Camburi” em suas caminhadas diárias. Mas ainda aproveita a aposentadoria para outro prazer: a pesca esportiva. Com grupos de amigos,  costuma viajar de quatro a cinco vezes por ano para pescar. No roteiro, Pantanal, Amazonas e até Argentina, para onde foi em busca do dourado, o “rei do rio”.

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