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Quanto mais a população envelhece, mais caros ficam planos de saúde

Quanto mais a população envelhece, mais caros ficam planos de saúde

População está envelhecendo e aumenta demanda por serviços de saúde. Mais idosos usam planos e pagam caro para garantir assistência

Publicado em 14 de julho de 2018 às 22:19

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A pensionista Edilha Vargas Barbosa Almeida, 83 anos, conta com a ajuda de um filho para manter o plano de saúde, cujo valor de mensalidade ultrapassa os R$ 1,6 mil. Com a sua renda, não seria possível pagar. ( Fernando Madeira)

Com o aumento da expectativa de vida, hoje em 75,8 anos, a população está envelhecendo e, assim, cresce a demanda por serviços de saúde. Nos últimos 10 anos, o número de usuários de planos subiu no Estado, com forte contribuição dos idosos. Todas as faixas etárias a partir de 60 anos apresentaram crescimento na adesão ao serviço e, juntas, representaram um incremento de 63,37%. No grupo dos octagenários, o volume é o mais significativo e quase dobrou. De março de 2008 a março deste ano, passou de 2.853 para 5.543, um aumento de 94,28%.

Os dados são da Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS) que, em junho, autorizou um reajuste de 10% no valor da mensalidade e ainda alterou as regras da coparticipação e franquia permitindo às operadoras a cobrança de até 40% no valor de procedimentos. Esta medida pode dobrar o custo dos planos.

Para os idosos, que já têm um desembolso maior na mensalidade dos planos – a partir dos 59 pode ser até seis vezes o valor da primeira faixa etária, de zero a 18 anos - o aumento pode comprometer a manutenção do contrato com a operadora.

O aposentado Franz Leppaus, 78, aderiu a um novo plano há cerca de cinco anos, por insistência dos filhos que acreditam que, numa emergência, o pai estará bem assistido. “Por mim, nem teria. É muito caro. Pargo cerca de R$ 1 mil para mim e a esposa. Se ficar aumentando, não tenho como continuar”, disse.

Por outro lado, estudos indicam que o envelhecimento da população somado à variação de custos médico-hospitalares deverão elevar as despesas com assistência de saúde suplementar. No Espírito Santo, entre 2008 e 2017, o número de idosos passou de 395 mil para 561 mil, segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).

Reajuste

A projeção de aumento de custos, de 157,3% até 2030, foi feita pelo Instituto de Estudos de Saúde Suplementar (IESS). Questionado se esse reajuste poderá ser repassado ao consumidor, o superintendente executivo da entidade, Luiz Augusto Carneiro, considera que ninguém tem como arcar com a despesa.

“Nem o consumidor nem as operadoras de saúde têm capacidade para absorver os aumentos projetados. Eles já têm sentido os efeitos de seguidos reajustes de dois dígitos”, avalia.

“É um momento de aprofundamento do debate no que se refere à escalada dos custos e, portanto, cenário ideal para a criação de condições que auxiliem no crescimento sustentável de toda a cadeia produtiva da saúde suplementar”, acrescenta o superintendente.

Entre outras propostas para equilibrar os custos, para não pesar nem para usuários nem para empresas, Carneiro defende a reavaliação do modelo de remuneração dos prestadores de serviços que, segundo ele, hoje premia desperdícios na cadeia e incentiva a superutilização dos recursos em saúde.

Além disso, o superintendente acha importante reforçar ações de promoção de saúde e prevenção de doenças para auxiliar no envelhecimento mais saudável e na redução do impacto de doenças crônicas futuramente.

A Associação Brasileira de Planos de Saúde (Abramge) foi procurada por A GAZETA, mas não se posicionou sobre o assunto.

ANÁLISE

Jovem paga pelos idosos

Ao mesmo tempo em que a população está envelhecendo, há um encolhimento nas famílias que, hoje, têm menos filhos. Assim, menos jovens entram em atividade laborativa, que são justamente os que mais contribuem na estrutura de financiamento de um plano de saúde. Isso porque os planos funcionam na base do mutualismo: as empresas se valem dos que pagam, mas pouco utilizam, para cobrir as despesas daqueles que também pagam e usam muito mais. Então, o jovem em geral paga pelos idosos. É a mesma lógica da previdência. Com menos jovens entrando no mercado, diminui o número daqueles que têm planos, uma vez que hoje a maioria tem acesso ao serviço por meio da empresa onde trabalha. Isso tem um impacto na sustentabilidade dos planos no futuro. O que os idosos pagam é insuficiente para cobrir despesas, mas eles também não poderão suportar mensalidade mais alta porque, quando se aposentam, têm queda no rendimento.”

Juliano César Gomes, economista

CRIANÇAS E JOVENS ESTÃO DEIXANDO PLANOS

Enquanto é elevada a participação de idosos nos planos de saúde, a última década revela uma saída significativa das operadoras de crianças e jovens, na faixa dos 10 aos 29 anos. Entre os de 20 a 24 anos, a maior redução: 29,71%.

É o caso do universitário Rômulo Benha Alvarenga, 24, que há dois anos voltou a utilizar os serviços públicos de saúde. Segundo ele, a morte da mãe em 2016 fez o orçamento da família diminuir e foi preciso optar por qual conta pagar.

“Ou a gente pagava plano de saúde, ou contas de casa como água e luz”, revela o jovem.

Rômulo, 24, há dois anos deixou o plano e passou a utilizar os serviços públicos. ( Fernando Madeira)

“Eram quase R$ 1 mil do nosso orçamento, para mim, meu irmão e meu pai, e ficou pesado. Cada faixa etária tem um valor e, à medida que a gente vai ficando mais velho, fica mais caro”, completa.

As regras para reajuste hoje implantadas pela Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS) estabelece 10 faixas etárias, começando em zero a 18 anos até os mais de 59.

Para Luiz Augusto Carneiro, superintendente executivo do o Instituto de Estudos de Saúde Suplementar (IESS), é preciso rever algumas políticas do sistema porque os impactos negativos vão além da população idosa.

“E um eventual repasse do aumento dos custos, os beneficiários em todas as faixas etárias irão sentir o impacto e correm risco de não ter condições de se manter em seus planos”, afirma Carneiro.

“Por isso, é necessário reformular o sistema de saúde suplementar que vise a inserção de indicadores de qualidade hospitalar (para conferir maior transparência e eficiência aos hospitais); mudança de modelo de pagamento; melhor análise de custo efetividade para a inserção de novas tecnologias; e evitar erros e práticas abusivas”, finaliza.

COM ALTO CUSTO, IDOSOS PROCURAM REDE PÚBLICA

Com o custo elevado na área da saúde, a maioria dos idosos no Estado se mantém na rede pública. Na Grande Vitória, prefeituras desenvolvem ações específicas para essa parcela da população.

Na Capital, o atendimento é realizado tanto em unidades de saúde, quanto no Centro de Referência em Atenção ao Idoso (Crai) para onde são encaminhados aqueles que apresentam algum comprometimento maior de sua autonomia. Para esse público, há ainda atividades nos Serviços de Orientação ao Exercício (SOE).

“As atividades são muito importantes, juntamente com as ações de caráter individual, como consultas e visitas, pois oferecem atenção integral à saúde da população idosa de Vitória”, observa Sandra Bissoli, chefe da equipe técnica de Atenção à Saúde do Idoso.

Todas as 29 unidades realizam consultas com idosos, mas algumas também promovem ações específicas, como as de Maruípe, Resistência, Itararé e São Cristóvão.

Já na Serra, entre outras ações, existe atendimento especializado com geriatra por meio do Ambulatório Municipal de Especialidades (Ames), acompanhamento mensal das Instituições de Longa Permanência para Idosos (ILPIs) junto com o médico geriatra da rede, trabalho em conjunto com a assistência social para o cuidado de idoso, fragilizado ou em risco social, segundo afirma a assessoria da prefeitura.

No município de Cariacica, também há um programa específico para os idosos, que funciona na unidade de Jardim América. Além de médico geriatra, há na equipe assistente social, profissionais de enfermagem, fonoaudiologia, assistência social e fisioterapia. O município de Vila Velha não deu retorno à demanda.

ANS AVALIA NOVA METODOLOGIA DE REAJUSTE

A Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS), órgão regulador dos planos de saúde no país, avalia possibilidade de criar uma nova metodologia de reajuste dos planos a partir de 2019.

O assunto vai ser debatido em audiência pública, nos próximos dias 24 e 25, no Rio de Janeiro. Uma proposta está sendo elaborada pela diretoria de Normas e Habilitação dos Produtos da ANS e será apresentada no encontro.

O último aumento concedido, de 10%, é alvo de queixas e questionamentos, assim como as novas regras de coparticipação que passam a valer no final do ano e possibilitará que as operadoras cobrem até 40% dos valor dos procedimentos.

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Na última semana, houve audiência no Senado para discutir o assunto, porém a assessoria da ANS garantiu que não haverá mudanças por parte do órgão, nem no reajuste nem na coparticipação.

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