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300 médicos têm registros de especialistas sob suspeita no ES

300 médicos têm registros de especialistas sob suspeita no ES

Levantamento do CRM revelou casos de documentação irregular

Publicado em 3 de agosto de 2018 às 01:56

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Conselho Regional de Medicina: títulos de entidade foram concedidos para diversas especialidades. (Fernando Madeira/arquivo)

Os registros dos títulos de especialista de 300 médicos do Estado estão sob suspeita. Levantamento realizado pelo Conselho Regional de Medicina (CRM-ES) identificou que eles foram concedidos de forma irregular, sem respeitar as exigências legais. Dentre os casos considerados graves há o de profissionais que não apresentaram nenhum documento que comprove a atuação na área de especialização. E ainda assim obtiveram o registro.

De acordo com o presidente do CRM-ES, Carlos Magno Pretti Dalapícola, nenhum destes títulos foi cancelado. Os registros, em sua maioria, foram concedidos há mais de cinco anos, para diversas especialidades. “A legislação federal estabelece que passados cinco anos, se não houver comprovação de que houve má-fé por parte do médico, pode haver direito adquirido, mesmo que obtido de forma irregular. E a gestão posterior a que fez a concessão não recorreu contra estes registros”, relata

A alternativa encontrada pelo CRM-ES foi encaminhar uma amostra destes processos para a Justiça Estadual, onde foram abertas 10 ações. “Para a maioria desses casos já transcorreu o prazo para cancelamento, a não ser mediante decisão do Judiciário. Minha opinião é de que será difícil reverter esta situação”, assinalou Dalapícola.

Na edição de ontem de A GAZETA foi informado que um título de especialização concedido ao médico paulista Valcinir Bedin foi cancelado pelo Conselho Federal de Medicina (CFM) também por irregularidades no processo. Ele e o atual vice-presidente do Conselho capixaba, Aloízio Farias de Souza, são sócios no Instituto BWS, de São Paulo, investigado por concessão irregular de diplomas.

O pente-fino foi feito no ano de 2015, quando foram avaliados entre dois a três mil registros concedidos no período anterior a 2008. Dentre eles, foram constatadas irregularidades em 300 casos, de concessões ocorridas principalmente entre os anos de 1998 a 2001. “A documentação apresentada pelos médicos não seguia o que determinam nossas resoluções”, disse Dalapícola.

Ao analisar os processos foram descobertos casos de médicos que não apresentaram nenhum documento, outros cujos documentos não serviam para registrar a especialização, havia os que fizeram residência médica em locais não-credenciados pelo Ministério da Educação (MEC), ou que apresentaram apenas cursos de pós-graduação.

Dalapícola explica que Resolução do CFM de abril de 1989 estabelece que para a concessão do título de especialização, a partir desta data, é necessário ser feito residência médica em curso credenciado pelo MEC ou uma prova em uma sociedade de especialização.

Antes bastava reunir documentos que comprovassem a atuação na área, como declarações de concurso público, registros de prontuários, currículo.

O problema foi descoberto após denúncias feitas ao conselho de que médicos que tinham feito os mesmos cursos ou residências, alguns obtiveram o registro de suas especializações e outros não. “Feito o mutirão, constatou-se as irregularidades. Em alguns casos, os médicos foram chamados e os problemas solucionados”, explicou Dalapícola.

Na época em que foram feitas as maiores concessões irregulares estava à frente do Conselho o médico Wildes da Silva Neto, já falecido. Ele assumiu dois mandatos de cinco anos a partir de 1998, mas não chegou a concluir a segunda gestão. “Foi afastado pelo CFM e em seu lugar assumiu o médico Celso Murad”, explicou Dalapícola.

Ele avalia ainda que, apesar dos casos ocorridos no país de problemas médicos decorrentes de profissionais não-especializados, situação detectada pelo CRM não impõe riscos aos pacientes. “O título garante anunciar a sua especialidade”, pondera.

NOS REGISTROS

Problemas

Identificados pelo CRM:

Sem documento

Não apresentaram nenhum documento para comprovar a atuação na área de especialidade.

Sem valor

Documentos não serviam para registrar a especialização.

Não credenciado

Alguns médicos fizeram residência médica, que é exigida, mas em locais não credenciados pelo Ministério da Educação.

Só pós

Houve casos de médicos que apresentaram apenas cursos de pós-graduação, quando é exigido a residência médica ou prova na sociedade especializada.

OPINIÃO DA GAZETA

É fundamental que as autoridades responsáveis atuem com agilidade para elucidar as irregularidades apontadas pelo CRM, com a devida punição dos culpados. A sociedade precisa ter segurança quanto à devida qualificação e competência dos profissionais da saúde.

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