> >
Caso Dondoni: 10 anos após tragédia, empresário será julgado no ES

Caso Dondoni: 10 anos após tragédia, empresário será julgado no ES

Empresário dirigia embriagado quando atingiu um Fiat Uno, na BR 101; três pessoas morreram

Publicado em 1 de agosto de 2018 às 21:44

Ícone - Tempo de Leitura 0min de leitura
Chegada à Delegacia de Delitos de Trânsito do motorista Wagner José Dondoni de Oliveira. (Gabriel Lordêllo | Arquivo | A Gazeta)

Uma década após matar uma família inteira em um acidente de trânsito, o empresário Wagner José Dondoni de Oliveira deverá enfrentar o julgamento, já que o último recurso por ele apresentado não foi aceito pelo Superior Tribunal de Justiça (STJ). Mas a marcação da data em que deverá ocorrer o Júri Popular ainda aguarda a definição do juiz. Dois deles já se declararam como impedidos para conduzir o caso.

De acordo com o site do Tribunal de Justiça do Espírito Santo (TJES), o processo está agora com a juíza Jaqueline Teixeira, da Vara Criminal de Viana. Está sendo aguardada nos próximos dias uma manifestação dela, e, se continuar no caso, poderá marcar a data da audiência. Antes, porém, a magistrada deverá intimar as partes envolvidas para se manifestarem sobre as provas que querem apresentar no júri. Mas ainda não há previsão de data para tal intimação.

A expectativa de Odilon Martins Silveira, advogado que atua como assistente da acusação, representando os familiares de Ronaldo Andrade, que perdeu a esposa e os filhos no acidente, é de que se tenha mais agilidade no processo. "Não há mais recursos e com o retorno do processo para a Justiça Criminal de Viana esperamos que o julgamento se dê numa data mais próxima possível a fim de que tenhamos uma resposta para a família das vitimas e para a sociedade", destacou, lembrando que o julgamento já chegou a ser marcado duas vezes e adiado em decorrência de recursos.

Motorista embriagado em uma S10 atingiu um Fiat Uno e matou três pessoas. (Gustavo Louzada/Arquivo A Gazeta )

O último recurso feito por Dondoni foi destinado ao STJ e já transitou em julgado - quando não há mais recursos a serem feitos -, no dia 7 do mês de junho. Com isso, o Tribunal de Justiça informou à 1ª Vara Criminal de Viana que poderia dar prosseguimento. Desde o último dia 19, o processo está concluso para despacho, aguardando as próximas etapas até o julgamento, mas este trânsito foi interrompido pela indisponibilidade dos juízes.

Ao STJ, o empresário questionou a sua pronúncia, a decisão que o encaminhou para o Tribunal do Júri. "Ele questionou em várias instâncias querendo mudar de homicídio doloso para culposo. Na prática, queria transformar os homicídios cometidos naquele dia apenas em crime de trânsito, com uma pena menor. Mas não obteve êxito", explicou Odilon, acrescentando que no processo há provas contundentes, mas que o réu busca a imputação do crime num tipo legal cuja pena é menor. O que perseguido a exaustão pela defesa do réu, felizmente não logrando êxito nos seus intentos", assinalou.

Wagner José Dondoni de Oliveira, motorista que provocou o acidente com mortes na BR 101. (Gustavo Louzada | Arquivo | A Gazeta)

Em sua decisão, o ministro Sebastião Reis Júnior, do STJ, destacou que pelos elementos presentes no processo "não se pode desconsiderar que o recorrente (Dondoni) tenha agido com dolo eventual, não só por dirigir alcoolizado, conforme demonstrado no laudo etílico, mas também porque, conforme relatos testemunhais, o apelante dirigia em alta velocidade, em 'ziguezague', e em estrada de grande circulação de veículos mesmo tendo sido aconselhado por socorristas, a não dirigir o veículo, por demonstrar estar embriagado, o que em tese caracterizaria o dolo eventual".

Todos os advogados cujos nomes constam no processo informaram não estar mais na defesa do empresário Dondoni. Nem o empresário nem o advogado que atualmente faz a defesa dele foram encontrados pela reportagem.

LONGA ESPERA

No dia 20 de abril, a família de Ronaldo Andrade, 35, seguia para Guaçuí, no Sul do Espírito SAnto. No carro estavam a esposa, Maria Sueli Costa Miranda, 29, e os filhos Rafael Scalfoni Andrade, 14, e Ronald Costa Andrade, 4 anos. Na altura do quilômetro 304, próximo ao posto Flecha, em Viana, o carro em que viajavam, um Fiat Uno, guiado por Ronaldo, foi atingido pela S10 de Dondoni. Rafael morreu no local. Ronald, horas após ser socorrido. E a mãe, três dias depois. Ronaldo ficou muito machucado. Dez horas após o acidente, Dondoni foi submetido ao teste etílico, que apontou 6,7 decigramas de álcool por litro de sangue. 

Dez quilômetros antes do acidente que matou três pessoas, Dondoni já havia provocado outra ocorrência, ao jogar a S10 contra o carro de uma família de turistas na altura de Seringal, que teve que desviar e acabou capotando. Ele fugiu do local sem prestar socorro. Um pouco antes, ele havia entrado descontrolado em um posto de gasolina, em Guarapari, e quase colidiu contra uma ambulância. Chegou a ser alertado pelos socorristas a não seguir viagem. No dia do acidente que matou a família, a Polícia Rodoviária Federal (PRF) já tinha sido acionada sobre um motorista que estava 'ziquezagueando' pela pista, mas não chegou a tempo de impedir a tragédia.

ENTENDA

Ronaldo, único sobrevivente do Fiat Uno, durante velório dos filhos. (Nestor Müller | Arquivo | A Gazeta)

O acidente

A caminhonete S10 guiada por Wagner Dondoni e o Fiat Uno dirigido por Ronaldo Andrade colidiram por volta das 7 horas do dia 20 de abril de 2008, no km 304 da BR 101, próximo ao posto Flecha, em Viana.

As vítimas

A família de Ronaldo seguia para Guaçuí, no Sul do Estado. Seu filho, Rafael Scalfone Andrade, de 13 anos, morreu no local. O caçula, Ronald, 3 anos, morreu horas depois. A mulher do cabeleireiro, Maria Sueli Costa Miranda, 29, ainda ficou internada por três dias, mas não resistiu aos ferimentos.

Reprodução da foto da esposa e dos filhos de Ronaldo Andrade, que os perdeu em um acidente na BR 101, provocado por um motorista embriagado. (Arquivo A Gazeta)

Embriaguez

A embriaguez do empresário foi comprovada por meio de um exame feito com a coleta de sangue: o resultado foi 6,7 decigramas de álcool por litro de sangue. O teste foi realizado 10 horas após a colisão. Na hora do acidente, esse índice deveria ser ainda maior, já que estudos mostram que o corpo humano começa a eliminar o álcool depois de seis horas do consumo.

A prisão

Dondoni foi detido após o acidente e foi levado para o DPJ de Cariacica, mas foi liberado após pagar fiança de R$ 2,1 mil.

Liberdade

Em setembro de 2008, Dondoni saiu da cadeia. Meses depois, sem carteira de motorista, tentou retirar uma nova habilitação, em Minas Gerais, mas foi descoberto.

VEJA MATÉRIAS DE A GAZETA SOBRE O CASO

Este vídeo pode te interessar

Notou alguma informação incorreta no conteúdo de A Gazeta? Nos ajude a corrigir o mais rapido possível! Clique no botão ao lado e envie sua mensagem

Envie sua sugestão, comentário ou crítica diretamente aos editores de A Gazeta

A Gazeta integra o

The Trust Project
Saiba mais