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Estado tem mais casos de malária grave em 10 dias do que em 15 anos

Estado tem mais casos de malária grave em 10 dias do que em 15 anos

Desde o início do mês, já foram 117 registros de moradores da Região Noroeste

Publicado em 12 de agosto de 2018 às 00:53

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O Anopheles é o transmissor da malária, que tem cura, se for tratada logo e de forma adequada. (Reprodução/Internet)

O Espírito Santo registrou mais casos de malária do tipo grave em dez dias do que foram notificados em 15 anos. Dados do Ministério da Saúde mostram que, entre 2003 e 2017, o Estado relatou 112 casos de malária causada pelo protozoário falciparum. Desde que o surto começou a ser identificado no Noroeste do Estado, no início de agosto, já são 117 registros.

“Nunca houve um surto de tão grande intensidade”, avalia o médico infectologista e professor da Ufes Crispim Cerutti Junior.

Como a malária mais grave não é comum no Estado, especialistas e governo acreditam que ela tenha sido introduzida a partir de alguém que esteve na região amazônica, onde doença, causada pelo falciparum, é comum.

Para o médico, o grande número de notificações se deve ao atraso no diagnóstico dos primeiros infectados. “Os profissionais de saúde demoraram para reconhecer a doença. Por muito tempo, os sintomas foram atribuídos à dengue.”

O último surto de malária provocada pelo protozoário falciparum aconteceu em 2004, em Governador Lindenberg, quando 39 pessoas foram diagnosticadas com a doença e uma morreu.

A única vítima naquela época foi uma menina de 11 anos, que era do município afetado e chegou ao Hospital Infantil de Vitória com suspeita de leucemia. Na Capital, ela recebeu o diagnóstico correto, mas não resistiu. A criança e os pais – que também contraíram a doença – foram ao Norte do Brasil meses antes.

Desta vez, a doença também já fez uma vítima, o aposentado Ailton Pereira da Silva, 72, de Vila Pavão, onde estão concentrados a maioria dos casos: 95. Ele passou por dois hospitais antes de ter o diagnóstico de malária. O primeiro médico que o examinou disse que era dengue e pneumonia.

IMPORTADOS

Os demais casos de malária grave registrados nos últimos anos no Estado foram quase todos importados, ou seja, de pessoas que viajaram para locais onde a doença é comum, inclusive outros países. “Temos muitos casos de malária falciparum entrando pelos portos do Estado por meio dos tripulantes. Na África, por exemplo, esse é o tipo mais comum de malária”, explica o Cerutti.

Segundo o infectologista, especialista em doenças tropicais, Aloísio Falquetto, vários locais do Estado têm o Anopheles, mosquito transmissor. Como nessas regiões há um fluxo de pessoas para locais onde a doença existe, o Espírito Santo é considerado vulnerável. “Neste ano ainda tivemos uma época de chuvas abundantes o que facilitou o enchimento dos lagos e represas e aumentou a proliferação do vetor.”

Ele avalia ainda que a velocidade com que o número de casos aumentou nos primeiros dias após a identificação do surto se deve aos esforços de diagnóstico. “Em Vila Pavão tinha mais de 30 dias que havia pessoas doentes e ninguém percebeu. Quando começaram a fazer os exames é que foram descobrindo as pessoas.”

O número de notificações diminuiu o ritmo nos últimos dois dias, com apenas um caso a mais, passando de 116 para 117. Os especialistas destacam que a tendência agora é mesmo que os registros reduzam por conta dos esforços para diagnóstico, tratamento e combate ao mosquito.

TIRA-DÚVIDAS DA DOENÇA

Como a malária grave é transmitida?

As pessoas pegam malária pela picada do mosquito Anopheles darlingi, que se prolifera em áreas rurais. Não é comum se deparar com ele nas áreas urbanas.

A malária grave passa de pessoa para pessoa?

Não. O mosquito tem que picar alguém com o protozoário falciparum no sangue e, em seguida picar também a pessoa saudável para infectá-la.

Quais são os sintomas?

Os sintomas principais são febre alta e calafrios. Também pode ocorrer dor no corpo, vômitos e fraqueza.

A malária grave pode matar?

Sim.

Posso me vacinar?

Não há vacina contra malária. Os protozoários causadores são complexos, então é muito difícil fazer imunização. E não é por falta de pesquisa: grupos no mundo todo tentam há décadas achar uma vacina, mas os resultados nunca são muito bons.

Como funciona o tratamento?

Para cada tipo de malária (existem cinco no Brasil) há um tratamento diferente. No caso grave, que acontece no Noroeste do Estado, há dois medicamentos. A estratégia depende das autoridades de saúde, mas a eficácia dos dois é a mesma. O tratamento é curto, dura três dias. O remédio só pode ser conseguido pelo Estado, ou seja, não está disponível em farmácias.

O que fazer para não pegar a doença?

Evitar o contato com o mosquito. O inseto tem hábitos noturnos. É recomendado ficar dentro de casa nesse horário, com telas nas janelas e portas. Para dormir, pode usar mosquiteiro. Também é importante usar roupas longas e aplicar repelente nas partes expostas.

O que fazer se sentir os sintomas?

Todas as pessoas que moram ao Norte do Rio Doce ou estiveram na região recentemente e tiverem febre – sem ser acompanhada de nariz entupido ou escorrendo – devem procurar assistência médica porque pode ser malária.

A Grande Vitória pode ter um surto?

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É improvável. Pode haver gente da região onde há o surto que venha para a Grande Vitória, mas as condições de transmissão na região urbana não são boas.

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