O Espírito Santo registrou mais casos de malária do tipo grave em dez dias do que foram notificados em 15 anos. Dados do Ministério da Saúde mostram que, entre 2003 e 2017, o Estado relatou 112 casos de malária causada pelo protozoário falciparum. Desde que o surto começou a ser identificado no Noroeste do Estado, no início de agosto, já são 117 registros.
Nunca houve um surto de tão grande intensidade, avalia o médico infectologista e professor da Ufes Crispim Cerutti Junior.
Como a malária mais grave não é comum no Estado, especialistas e governo acreditam que ela tenha sido introduzida a partir de alguém que esteve na região amazônica, onde doença, causada pelo falciparum, é comum.
Para o médico, o grande número de notificações se deve ao atraso no diagnóstico dos primeiros infectados. Os profissionais de saúde demoraram para reconhecer a doença. Por muito tempo, os sintomas foram atribuídos à dengue.
O último surto de malária provocada pelo protozoário falciparum aconteceu em 2004, em Governador Lindenberg, quando 39 pessoas foram diagnosticadas com a doença e uma morreu.
A única vítima naquela época foi uma menina de 11 anos, que era do município afetado e chegou ao Hospital Infantil de Vitória com suspeita de leucemia. Na Capital, ela recebeu o diagnóstico correto, mas não resistiu. A criança e os pais que também contraíram a doença foram ao Norte do Brasil meses antes.
Desta vez, a doença também já fez uma vítima, o aposentado Ailton Pereira da Silva, 72, de Vila Pavão, onde estão concentrados a maioria dos casos: 95. Ele passou por dois hospitais antes de ter o diagnóstico de malária. O primeiro médico que o examinou disse que era dengue e pneumonia.
IMPORTADOS
Os demais casos de malária grave registrados nos últimos anos no Estado foram quase todos importados, ou seja, de pessoas que viajaram para locais onde a doença é comum, inclusive outros países. Temos muitos casos de malária falciparum entrando pelos portos do Estado por meio dos tripulantes. Na África, por exemplo, esse é o tipo mais comum de malária, explica o Cerutti.
Segundo o infectologista, especialista em doenças tropicais, Aloísio Falquetto, vários locais do Estado têm o Anopheles, mosquito transmissor. Como nessas regiões há um fluxo de pessoas para locais onde a doença existe, o Espírito Santo é considerado vulnerável. Neste ano ainda tivemos uma época de chuvas abundantes o que facilitou o enchimento dos lagos e represas e aumentou a proliferação do vetor.
Ele avalia ainda que a velocidade com que o número de casos aumentou nos primeiros dias após a identificação do surto se deve aos esforços de diagnóstico. Em Vila Pavão tinha mais de 30 dias que havia pessoas doentes e ninguém percebeu. Quando começaram a fazer os exames é que foram descobrindo as pessoas.
O número de notificações diminuiu o ritmo nos últimos dois dias, com apenas um caso a mais, passando de 116 para 117. Os especialistas destacam que a tendência agora é mesmo que os registros reduzam por conta dos esforços para diagnóstico, tratamento e combate ao mosquito.
TIRA-DÚVIDAS DA DOENÇA
Como a malária grave é transmitida?
As pessoas pegam malária pela picada do mosquito Anopheles darlingi, que se prolifera em áreas rurais. Não é comum se deparar com ele nas áreas urbanas.
A malária grave passa de pessoa para pessoa?
Não. O mosquito tem que picar alguém com o protozoário falciparum no sangue e, em seguida picar também a pessoa saudável para infectá-la.
Quais são os sintomas?
Os sintomas principais são febre alta e calafrios. Também pode ocorrer dor no corpo, vômitos e fraqueza.
A malária grave pode matar?
Sim.
Posso me vacinar?
Não há vacina contra malária. Os protozoários causadores são complexos, então é muito difícil fazer imunização. E não é por falta de pesquisa: grupos no mundo todo tentam há décadas achar uma vacina, mas os resultados nunca são muito bons.
Como funciona o tratamento?
Para cada tipo de malária (existem cinco no Brasil) há um tratamento diferente. No caso grave, que acontece no Noroeste do Estado, há dois medicamentos. A estratégia depende das autoridades de saúde, mas a eficácia dos dois é a mesma. O tratamento é curto, dura três dias. O remédio só pode ser conseguido pelo Estado, ou seja, não está disponível em farmácias.
O que fazer para não pegar a doença?
Evitar o contato com o mosquito. O inseto tem hábitos noturnos. É recomendado ficar dentro de casa nesse horário, com telas nas janelas e portas. Para dormir, pode usar mosquiteiro. Também é importante usar roupas longas e aplicar repelente nas partes expostas.
O que fazer se sentir os sintomas?
Todas as pessoas que moram ao Norte do Rio Doce ou estiveram na região recentemente e tiverem febre sem ser acompanhada de nariz entupido ou escorrendo devem procurar assistência médica porque pode ser malária.
A Grande Vitória pode ter um surto?
É improvável. Pode haver gente da região onde há o surto que venha para a Grande Vitória, mas as condições de transmissão na região urbana não são boas.
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