Sem ter o que comer e onde morar, era difícil imaginar um futuro. Depois de ter aceitado a ajuda do poder público, cinco pessoas que moravam na rua retomaram o rumo da própria história e agora são autoras de uma exposição de arte. A mostra, que vai ser lançada nesta quinta-feira (30), faz parte da campanha Ainda dá tempo! da Associação de Comerciantes da Praia do Canto, em Vitória.
O objetivo da iniciativa é conscientizar a população sobre como ajudar de forma efetiva as pessoas que estão em situação de rua. Segundo o presidente da associação, César Saade, dar esmola aos moradores de rua faz com que eles permaneçam nessa condição. De acordo com ele, os autores dos quadros são a prova de que é possível ressocializar essas pessoas.
Nós queremos dar dignidade aos moradores de rua e os autores das telas podem dar testemunho de que a ajuda da prefeitura está dando certo. Eles fazem parte da Escola da Vida (projeto da prefeitura que acolhe moradores de rua) e fizeram os quadros para ilustrar nossa campanha, explicou Saade.
A exposição surgiu de uma oficina de arte orientada pelos artistas Zota e Luciano Feijão. A mostra vai ficar no Pátio Praia Shopping até o dia 15 de setembro. Depois, ela vai ser itinerante e rodar por outros bairros da Capital. Conversamos com as associações de outros bairros e queremos que esse movimento seja replicado. Vamos levar a exposição para Jardim da Penha, Jardim Camburi e Bento Ferreira.
Além da mostra, moradores e comerciantes vão fazer um trabalho de abordagem à população no próximo sábado, às 11 horas, no cruzamento entre a Chapot Presvot e Aleixo Netto, na Praia do Canto. Segundo Saade, o objetivo é orientar como as pessoas podem ajudar, além de apresentar os serviços oferecidos pelo poder público como o Centro de Referência Especializado de Assistência Social para a população de rua (Centro-POP).
Quando a gente sai de manhã cedo em casa percebemos como está frio. É triste e deprimente ver os moradores de rua passando por isso. Decidimos não cruzar os braços e fazer a nossa parte. É um trabalho de conscientização da população.
Vulneráveis a ação dos traficantes, os moradores de rua acabam se envolvendo com drogas. Com R$ 5 a R$ 10 eles conseguem comprar uma pedra de crack. Como já não tem perspectiva de vida, eles consomem o entorpecente para tentar aliviar a situação em que vivem. Mas na verdade só se prejudicam ainda mais, disse Saade.
SUPERAÇÃO
Entre idas e vindas, Marcos Luiz de Castro, conhecido como Formiga, de 64 anos, enfrentou cerca de 10 anos na rua. Ele começou a participar da Escola da Vida, da Prefeitura de Vitória, e é um dos autores das telas que fazem parte da exposição. Produzimos os desenhos com nanquim, escova de dente e gaze. Foi legal ter produzido, ficamos batendo papo e o tempo passou rápido.
Hoje, Formiga dorme em um abrigo da administração municipal e tem esperança de conseguir um aluguel social. Quero conseguir uma casa para eu morar e dar minhas oficinas. Eu ensino colocar adesivos, fazer placas e toldos. Fui diagramador durante anos e trabalhei muito com comunicação visual. Sei que posso ajudar a capacitar muitas pessoas, comentou.
Ainda segundo Formiga, os moradores de rua precisam de oportunidades. Ainda dá tempo com certeza de mudar a vida dessas pessoas. Ter uma chance é a esperança deles.
SITUAÇÃO É TEMA DE COBERTURA
A complexa situação dos moradores de rua é abordada constantemente por A GAZETA. Ao todo, são cerca de 500 pessoas que vivem nessas condições na Grande Vitória. Esse drama social desafia as autoridades e assusta a população quando há casos de violência.
Semana passada, um morador de rua arremessou um bloco de pedra que atingiu um carro e quase feriu o motorista, em Itaparica, em Vila Velha. No mês de maio deste ano, a empresária Simone Venturini Tonani, de 42 anos, morreu após ter sido atingida por um vergalhão na cabeça. A barra de ferro foi arremessada por uma morador de rua na Praia da Costa, também em Vila Velha.
Prefeituras garantem que fazem abordagem, mas não podem obrigar ninguém a se tratar, enquanto a Polícia Militar diz que só pode intervir se houver crime.
Boa parte dos moradores de rua são usuários de droga, segundo o presidente da Associação dos Comerciantes da Praia do Canto, César Saade. Para alimentar o vício, arrombam lojas e roubam o que veem pela frente. Eles cometem o crime mesmo sabendo que os lugares têm alarmes e videomonitoramento. Quando são detidos pela polícia, logo depois são soltos porque o crime não é considerado grave.
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