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Faxineira se forma em Direito na faculdade em que trabalha no ES

Faxineira se forma em Direito na faculdade em que trabalha no ES

Enquanto aguarda para fazer a prova da OAB, Adenizi continua atuando na mesma função de faxineira

Publicado em 1 de agosto de 2018 às 18:56

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Adenizi foi bolsista da faculdade, que dá oportunidade para todos os funcionários. (Marcelo Prest)

Há nove anos, Adenizi Souza Munizi, de 58 anos, não imaginava que iria alternar a rotina de limpeza pela de estudos em uma faculdade particular de Vitória. Trabalhando desde 2009 na unidade, ela se formou na mesma instituição e descobriu que poderia mudar de vida, independentemente de idade ou classe social.

Adenizi foi bolsista da faculdade, que dá oportunidade para todos os funcionários que querem estudar algum curso superior. Há cerca de três meses se formou em Direito e agora estuda para a prova da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB).

Até o final do ano passado, quando terminou a graduação, foram muitas barreiras, principalmente a do preconceito por ser faxineira. 

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Tem gente que vê a gente como a gente, mas tem quem não. Acha que é só mais uma que trabalha na limpeza. O preconceito fica estampado

Desabafo de faxineira que virou bacharel em Direito
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Enquanto aguarda para fazer a prova da OAB, continua atuando na mesma função de faxineira na faculdade. Todos os dias acorda bem cedo para pegar o ônibus, às 5 horas, em São Benedito, Cariacica, e segue até a faculdade, que fica na Avenida Leitão da Silva, em Vitória.

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Lá, Adenizi fica de 7 às 16 horas no trabalho duro de limpar salas e corredores, além de auxiliar em outras atividades. “Sou acostumada a trabalhar. Serviço para mim não assusta. Sou simples do jeito que você está vendo”, ressaltou.

Durante a faculdade, no final da tarde, ela conseguia se dedicar aos estudos aguardando o horário da aula. “Eu sempre adiantava algumas coisas em casa no final de semana e, durante a semana, estudava até tarde. Chegava em casa só às 23 horas. Isso quando não perdia o ônibus e chegava mais de meia-noite em casa”, declarou.

Adenizi é a primeira pessoa da família com curso superior. Ela tem duas filhas, uma de 27 e outra de 32 anos, além de quatro netos, e é divorciada. Natural de uma região rural de Guarapari, na Região Metropolitana de Vitória, ela lembra que a vontade de fazer faculdade veio com o mesmo sentimento de acabar com o preconceito contra quem não tem formação.

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Às vezes você chega em certos locais e vê um preconceito contra leigos. Eu achava aquilo uma injustiça. Foi crescendo mais a vontade de fazer um curso superior, especialmente o Direito, para poder fazer Justiça

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UMA DAS MELHORES ALUNAS

E não é porque trabalha o dia todo que falta dedicação aos estudos. Adenizi foi uma das melhores da sala de aula e nunca reprovou. Tirou a nota 9,5 no Trabalho de Conclusão de Curso (TCC).

A orientadora dela, a professora Alline Correia Devens, de 27 anos, tem a mesma idade que uma das filhas de Adenizi e vê isso com orgulho. “Ela é uma aluna extremamente dedicada com muito afinco no aprendizado, sempre buscando informação. É um grande exemplo para mim, que tenho a mesma idade que uma das filhas dela”, explicou.

Adenizi com a professora orientadora Alline Correia Devens, que a ajudou na formação e no TCC . (Marcelo Prest)

ÁREA AINDA INDEFINIDA

A próxima meta de Adenizi é passar na prova da OAB. Mesmo assim, ainda não sabe ao certo qual área vai seguir. “O curso abrange muitas áreas. Eu posso advogar ou não. Mas eu quero passar (na prova). Por enquanto estou focada na OAB e não penso em outra coisa. Até penso, mas é segredo, guardo pra mim”, afirmou, brincando.

A bacharel em Direito e também faxineira sabe bem que deixa um legado importante para a família e acredita que vai servir de exemplo para muitas pessoas que querem adquirir o mesmo conhecimento que ela procurou, não importando a idade ou classe social.

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Você tem querer, tem que ter força de vontade e perseverança. Muitas barreiras vêm, mas você tem que superar. Eu vou servir de exemplo para meus netos no futuro. Eles vão ver e pensar: Se minha avó conseguiu, eu também consigo

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