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Os 30 pontos de ônibus mais perigosos das BRs

Os 30 pontos de ônibus mais perigosos das BRs

Margens das rodovias se tornaram alvos de assaltantes

Publicado em 25 de agosto de 2018 às 00:53

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Acordar às 4 horas para trabalhar, todos os dias, já pode ser considerado algo cansativo. Agora, imagine levantar nesse horário e ainda ter que conviver com o medo de bandidos e até mesmo de não retornar para casa? Essa é a sensação pela qual passam os trabalhadores que precisam pegar ônibus em pontos localizados nas rodovias federais que cortam a Grande Vitória.

Com a ajuda dos passageiros, a reportagem mapeou os 30 pontos de ônibus mais perigosos que ficam às margens das rodovias. São diversos relatos e reclamações de falta de segurança em paradas de coletivos no trecho da BR-262, entre Jardim América e o viaduto próximo à Ceasa, em Vila Capixaba, além da BR 101, no caso, Rodovia do Contorno e o trecho entre Carapina e Serra-Sede, na Serra.

Técnica em enfermagem, 38 anos. "Eu fui assaltada nesse ponto uma vez, mas era à tarde. Quando desci do ônibus, eu estava com o celular na mão, meu marido me esperando do outro lado da pista. Passaram três caras de bicicleta, me abordaram e levaram meu celular. Aqui é perigoso. Eu pego ônibus todo dia de manhã, mas quando estou sozinha não consigo ficar tranquila. Não me sinto nem um pouco seguro. Evito mexer no celular, quando motoqueiros passam a gente se afasta. Realmente existe esse medo."Ponto de ônibus: BR 101, em Carapina, Serra (em frente ao posto de gasolina Makro) . (Bernardo Coutinho)

O horário mais visado para os criminosos, segundo os trabalhadores, é a parte da manhã, entre 5h30 e 7h. Quase todas as pessoas entrevistadas já sofreram um assalto, presenciaram um, ou ouviram relatos de amigos que ficam no mesmo ponto e já foram vítimas da ação dos criminosos.

Um dos locais de maior perigo citado é o ponto em frente à entrada de Nova Rosa da Penha II, na Rodovia do Contorno. O primeiro problema já começa em relação à estrutura do local. Além de não possuir abrigo, nem local para sentar, o ponto fica em uma pequena extensão da BR-101, a poucos metros da pista, desprotegido, e sequer há uma placa para indicar a parada dos coletivos.

Além disso, a barra de proteção lateral da pista fica atrás das pessoas que aguardam o transporte. Com isso, os bandidos que se aproximam, geralmente de moto, conseguem encurralar as vítimas.

Doméstica, 54 anos. "Semana passada eu estava no ponto e tive que atravessar correndo para fugir de um assalto. Quase fui atropelada. Dois indivíduos que vinham de bicicleta tentaram roubar a minha bolsa. Eu atravessei na frente do ônibus, de um carro, eles me seguiram e só pararam porque passou uma viatura. Eu estava com meu pagamento todo na bolsa. Eu trabalho duas vezes na semana e o dinheirinho que dá para ganhar, quase perco. É muita violência. A gente sai e não sabe se volta. Eu moro perto de Timbuí, venho até aqui com meu filho e daqui vou para Jardim Camburi. Eu já fui assaltada aqui antes. Me levaram o celular, documento, bolsa, tudo, fiquei sem nada. Deixo meus filhos e meus netos em casa para trabalhar nessa insegurança." Ponto de ônibus: BR 101, Jardim Tropical, Serra. Pista lateral, sentido Vitória, ao lado de uma concessionária. (Bernardo Coutinho)

Foi o caso de uma doméstica de 41 anos. Ela utiliza o local para embarcar no transporte público três vezes por semana. Mesmo assim foi vítima de assalto por quatro vezes.

“Eu já presenciei e já fui assaltada umas quatro vezes nesse mesmo ponto, aqui na entrada de Nova Rosa da Penha. Eles aparecem como se não quisessem nada, esperam chegar mais gente no ponto, ficam perto das pessoas. Vêm de moto, de carro e exigem celular e dinheiro. Se você não tiver um celular bom, ainda corre o risco de apanhar. Eu já presenciei pessoas sendo agredidas em assaltos aqui.”

Outro local visado por assaltantes no período de final da madrugada e início da manhã é um ponto localizado na entrada do bairro Central Carapina, na Serra, no sentido Serra-Sede da BR-101.

Uma moradora do bairro Diamantina, que já foi assaltada duas vezes no local, na pista lateral da rodovia, diz que só fica no abrigo se estiver acompanhada. Caso contrário, prefere pegar o ônibus em direção ao Terminal de Carapina.

“Eu vou no sentido contrário ao que eu tenho que pegar, justamente por conta de insegurança. Eu já fui assaltada duas vezes nesse ponto de ônibus. A última foi em março deste ano. Da outra vez eu e minha colega corremos para o meio da pista", contou.

Estratégias

O medo de ser assaltado fez com que os passageiros criassem estratégias próprias para tentar prever a ação dos bandidos, ou se defender. Um  eletricista, de 59 anos, contou que pega ônibus em um ponto em frente a uma fábrica de refrigerantes, na altura do bairro Planeta, na Rodovia do Contorno, em Cariacica. Ele conta que já presenciou assaltos, mas nunca foi uma vítima. Por isso, tenta chamar pouca atenção quando está no local.

"Eu, graças a Deus, nunca fui vítima, mas já presenciei gente sendo assaltada e tenho amigos que já foram aqui. Eu fico muito atento, mais longe do ponto, em pé, procuro não dar bobeira. Mexer no celular então, nem pensar. Não deixo nada de valor visível. Fico perto do matagal e vigiando se alguém suspeito se aproxima", relatou.

Auxiliar administrativo, 32 anos. "Esse ponto é muito perigoso. Eu moro em Central Carapina, venho nesse horário e às vezes um pouco mais cedo. Tenho o costume de chegar aqui e não ficar muito tempo, por conta do medo de assalto. Eu procuro já chegar bem perto do horário do ônibus passar. Outro dia eu estava vindo para o ponto e uma moça me abordou do outro lado da rua, falando que não era para atravessar, pois haviam acabado de assaltar. Quando eu tenho que ficar sozinha, fico ligada porque não tem para onde correr. "Ponto de ônibus: BR 101, Serra. Ao lado de uma loja de pneus, na pista lateral, altura de São Diogo II. (Bernardo Coutinho)

Uma auxiliar administrativo de 32 anos, que mora em Central Carapina e pega ônibus em um ponto no sentido Serra-Sede da BR-101, na altura do bairro São Diogo II, diz que como está no mesmo ponto todos os dias e já sabe o horário em que o coletivo vai passar, procura chegar o mais perto possível do momento de entrar no veículo.

"Esse ponto aqui é muito perigoso. Tenho o costume de chegar aqui e não ficar muito tempo, por conta do medo de assalto. Eu procuro já chegar bem perto do horário do ônibus passar. Quando eu tenho que ficar sozinha, fico ligada porque não tem para onde correr. Se eu vejo alguém estranho, fico esperta para poder atravessar para o outro lado", contou.

Uma doméstica de 40 anos, moradora de Santo André, em Cariacica, diz que ficou traumatizada após ser assaltada quando chegava a um abrigo de coletivo na BR-262, perto do viaduto da Ceasa. Ela disse que desde então prefere caminhar de casa até o Terminal de Campo Grande, ao invés de ficar no local.

"O foco deles é o trabalhador, a maioria mulheres, e agora levam tudo. São muito agressivos. Agora eu prefiro correr o risco de ir andando até o terminal. Está muito perigoso. Nosso bairro aqui, Santo André, já foi muito tranquilo, mas com na BR eles têm saída para qualquer lugar", afirmou.

Auxiliar de limpeza, 34 anos."Eu moro em Diamantina. Quando eu venho para a BR e vejo que não tem ninguém no ponto, eu pego o ônibus no sentido Terminal de Carapina. Depois eu pego um para voltar nesse sentido Serra-Sede, para onde eu preciso ir. Eu já fui assaltada duas vezes nesse ponto de ônibus. A última foi em março deste ano. Da outra vez eu e minha colega corremos para o meio da pista. O rapaz chegou, veio parando perto da gente, aí desconfiamos e corremos. Ele veio a pé e me levou o celular, me ameaçou. Está terrível a situação de assalto aqui. Polícia a gente vê dentro de Central Carapina, mas aqui na rodovia é muito difícil." Ponto de ônibus: BR 101, Serra. Em frente à entrada de Central Carapina, do outro lado da pista. (Bernardo Coutinho)

E o policiamento?

Em todos os pontos de ônibus localizados nas rodovias, pelos quais a equipe de reportagem passou e ouviu os passageiros, as reclamações eram semelhantes. Ou os trabalhadores relatavam que não percebiam a presença de policiamento, ou diziam que a atuação da polícia estava focada somente dentro dos bairros nos arredores.

"A segurança não existe. As promessas chegam durante as campanhas políticas, de educação, saúde, segurança, mas tudo fica só na promessa. Nesses horários de pico deveria passar mais viatura", relatou um auxiliar de serviços gerais de 62 anos, acostumado a pegar o coletivo em um ponto de Nova Rosa da Penha, na Rodovia do Contorno.

"Está terrível essa situação de assalto aqui. Polícia a gente vê dentro de Central Carapina, mas aqui na rodovia é muito difícil", afirmou também uma auxiliar de limpeza de 34 anos, que utiliza o ponto em frente á entrada de Central Carapina, na BR-101, na Serra.

Montador de garrafa, 19 anos. "Aqui estão assaltando direto. É muito perigoso. Normalmente é na faixa de horário entre 5h30 e 6h30. Uma colega minha que pega ônibus mais cedo disse que estava na hora do assalto e o pessoal saiu correndo para o outro lado da pista, correndo risco de ser atropelado. Alguns jogaram os celulares no mato, mas eles levaram assim mesmo. Os bandidos vêm de moto, um fica aqui e o outro deu a volta por trás do ponto. Normalmente é nesse horário do pessoal ir trabalhar e à noite. O pessoal costuma ficar mais perto do mato, tentando arrumar um jeito de não perder o celular." Ponto de ônibus: Rodovia do Contorno, Cariacica . (Bernardo Coutinho)

O outro lado

Procurada para falar sobre a segurança nos pontos de ônibus das rodovias federais, a Secretaria de Estado da Segurança Pública (Sesp) passou a responsabilidade do patrulhamento, exclusivamente, para a Polícia Rodoviária Federal (PRF) e afirmou que esses locais não são de responsabilidade do órgão.  Sobre as investigações dos crimes, ressaltou que a Polícia Civil investiga somente os que são registrados pelas vítimas nas delegacias, mas não informou se aconteceram prisões de suspeitos recentemente nem quantas denúncias foram feitas.

Já a PRF fez questão de ressaltar que, de acordo com o artigo 144 da Constituição Federal, a Segurança Pública, dever do Estado, deve ser exercida por Polícia Federal, Polícia Rodoviária Federal, Polícia Ferroviária Federal, Polícia Civil, Polícia Militar e Corpo de Bombeiros Militar.

A competência exclusiva da PRF, de acordo com o próprio órgão, é referente somente a ações administrativas, tais como multas de trânsito, recolhimento de veículos, entre outras. A corporação ainda informou que não tem registros de ocorrências em pontos de ônibus, uma vez que tais fatos são registrados na Polícia Civil, que faz a devida investigação.

Nem SESP e nem a PRF responderam sobre ações de prevenção dos crimes contra passageiros de ônibus que aguardam o coletivo nos pontos das rodovias federais.

Doméstica, 41 anos. "Aqui os assaltos são quase todos os dias. Se você tiver dinheiro tem que esconder bem, porque até dentro das bolsas eles revistam tudo. Eu já presenciei e já fui assaltada umas quatro vezes nesse mesmo ponto, aqui na entrada de Nova Rosa da Penha. Eles aparecem como se não quisessem nada, esperam chegar mais gente no ponto, ficam perto das pessoas, é normal. Vêm de moto, de carro e exigem celular e dinheiro. Se você não tiver um celular bom, ainda corre o risco de apanhar. Eu já presenciei pessoas sendo agredidas em assalto aqui. Toda a região é complicada. O pessoal sai para trabalhar e tem que passar por isso. Aqui na BR é muito difícil você ver polícia rodando. E olha que eu pego ônibus somente três vezes na semana. Eu moro em Nova Rosa da Penha. Imagino para quem sai todos os dias para trabalhar e tem que passar por isso. É muito complicado." Ponto de ônibus: Rodovia do Contorno, Cariacica, em frente ao bairro Nova Rosa da Penha. . (Bernardo Coutinho)

ENTREVISTA: "O pior de tudo foram as agressões"

Uma doméstica de 40 anos contou como foi o dia em que dois bandidos a agrediram, a caminho do ponto de ônibus no bairro Santo André, próximo à BR-101, em Cariacica, e ressaltou que precisou mudar a rotina por conta do medo, assim como outros moradores do local.

Quando você foi assaltada e como tudo aconteceu?

Eu fui assaltada no dia 2 de maio. Eu saí de casa por volta das 6h para ir trabalhar. No caminho para o ponto, olhei para frente e vi um carro preto. Eu já sabia que era assalto e corri para o meio fio. Aí o carro veio atrás de mim, saiu um indivíduo correndo e veio na minha direção. Eu entrei em um beco e ele correu atrás de mim. O local não tinha saída e quando ele olhou, viu que ninguém saiu de casa, veio na minha direção com a arma na mão, apontada para a minha cabeça.

O que ele fez?

Ele mandou eu entregar a bolsa, se não ele iria atirar. Eu foquei na arma e percebi que era de mentira, quando ele chegou perto de mim. Ele colocou a mão na minha bolsa e eu puxei de volta.

Qual foi a reação dele?

O bandido ficou sem ação quando viu que eu percebi que a arma era falsa. Ele continuou tentando puxar a bolsa, aí o outro veio correndo, estava de touca ninja, já chegou me dando vários socos na cabeça, por todos os lados, e não tive como fazer nada. Quando ele chegou me espancando, eu soltei a bolsa e eles levaram, mandando eu não olhar para trás.

Doméstica foi assaltada várias vezes em ponto de ônibus. (Fernando Madeira)

O que passou pela sua cabeça nesse momento?

O pior foram as agressões. Você sai para trabalhar e se sente indignado. Hoje em dia a gente não está podendo nem sair para trabalhar. Não tô falando nem de lazer. Revolta muito. Sempre estamos correndo risco. Eu saía mais cedo e agora só saio depois de 6h, porque o dia já clareou. Só quem não tem opção que sai 5h.

E há outros relatos desse tipo de problema na região?

Eu conheço gente que também já foi parar no hospital por conta de assalto em ponto. Alugou uma casa em cima do ponto de ônibus, para poder pegar somente quando o ônibus realmente estiver chegando. É um absurdo a gente ter que mudar de rotina por conta de insegurança.

O que você faz para tentar evitar que aconteça novamente?

O foco deles é o trabalhador, a maioria mulheres, e agora levam tudo. São muito agressivos. Agora eu prefiro correr o risco de ir andando até o terminal. Está muito perigoso. Nosso bairro aqui, Santo André, já foi muito tranquilo, mas com na BR eles têm saída para qualquer lugar. E não tem policiamento suficiente para pegar. Você não sabe para onde eles foram. Viramos prisioneiros.

Auxiliar de serviços gerais, 62 anos ."Eu não presenciei assaltos, mas tenho dado muita sorte. As pessoas sempre comentam que aqui tem assalto com frequência. Mas graças a Deus eu nunca fui vítima de assalto. A gente fica de olho nos arredores e todo mundo anda muito assustado. A segurança não existe. As promessas chegam durante as campanhas políticas, de educação, saúde, segurança, mas tudo fica só na promessa. Nesses horários de pico deveria passar mais viatura. Além disso, o ponto é lamentável. Aqui sequer tem uma placa, quanto mais um abrigo ou um lugar para sentar. Muitas vezes os motoristas novos na linha nem sabem que isso aqui é um ponto de ônibus.Ponto de ônibus: Rodovia do Contorno, Cariacica, em frente ao bairro Nova Rosa da Penha . (Bernardo Coutinho)

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Eletricista, 59 anos. "Eu pego ônibus aqui quase todo dia. É muito perigo em todo lugar, seja no ponto, seja dentro do ônibus. É assalto para todo lado. Eu, graças a Deus, nunca fui vítima, mas já presenciei gente sendo assaltada e tenho amigos que já foram aqui. O Contorno é um local muito complicado, principalmente para quem pega as linhas 540 e 596. Normalmente eles atacam na parte da manhã, nos primeiros horários, e depois das 18h. Visam os trabalhadores e querem celulares, que é fácil para vender, e tem a culpa de quem compra também, que contribui. Eu fico muito atento, mais longe do ponto, em pé, procuro não dar bobeira. Mexer no celular então, nem pensar. Não deixo nada de valor visível."Ponto de ônibus: Rodovia do Contorno, Cariacica, (em frente a empresa da Coca-Cola). (Bernardo Coutinho)

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