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Um ano após polêmica, creche continua funcionando em Igreja evangélica

Um ano após polêmica, creche continua funcionando em Igreja evangélica

Pastor mandou retirar boneca negra do local num ato que gerou diversos protestos. Na época, MPES recomendou que prefeitura mudasse a creche de lugar

Publicado em 14 de agosto de 2018 às 20:35

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Boneca Abayomi confeccionada em creche de Jardim da Penha. (WhatsApp | Gazeta Online)

Um ano após a polêmica envolvendo um painel com bonecas afro no Centro Municipal de Educação Infantil (Cmei) Cida Barreto, em Jardim da Penha, Vitória, a creche continua funcionando num espaço anexo à Igreja Evangélica Batista de Vitória (IEBV). Na época, o Ministério Público Estadual (MPES)  recomendou que a Prefeitura Municipal de Vitória mudasse a unidade de educação infantil de lugar, mas o processo ainda está tramitando.

Em agosto do ano passado, o pastor da igreja onde funciona a creche, João Brito, pediu que um painel feito por crianças que continha bonecas negras, conhecidas como Abayomi, fosse retirado da creche. Segundo o religioso, a boneca era “símbolo de macumba por se originar de uma religião africana”. Diante da repercussão, professores, estudantes e representantes de movimentos sociais e culturais fizeram protestos pelas ruas de Jardim da Penha.

ALUGUEL

O prédio em que a escola funciona pertence à Evangélica Batista de Vitória, mas é alugado pela Prefeitura da Capital por quase R$ 40 mil. O espaço onde o trabalho foi exposto é de uso compartilhado entre a creche e a igreja evangélica.

A Secretaria Municipal de Educação de Vitória (Seme) informou apenas, por meio de nota, que o Ministério Público Estadual acolheu o pedido de continuidade do funcionamento do Cmei Cida Barreto no mesmo espaço. 

Já o Ministério Público do Espírito Santo (MPES), por meio da Promotoria de Justiça da Educação de Vitória, informa que instaurou procedimento para apurar denúncias de pais de alunos e de movimentos sociais referentes à retirada do painel pedagógico desenvolvido por alunos do Centro Municipal de Educação Infantil (CMEI) Cida Barreto. O procedimento está em tramitação e já foram realizadas diversas diligências. Na época, o Ministério Público Estadual (MPES) recomendou que a Prefeitura Municipal de Vitória mudasse a creche de lugar.

"Não se encontrou um espaço em Jardim da Penha para atender de forma confortável e com as características semelhantes que pudesse proporcionar o mesmo atendimento pedagógico às crianças, razão pela qual o procedimento ainda se encontra em tramitação. Nova reunião já está prevista com a participação dos secretários de Educação, de Obras e de Fazenda de Vitória, além de representantes da Igreja Batista, para discutir as intervenções sugeridas pelo MPES, com o objetivo de atender às questões de segurança física e estrutural do local", disse em nota.

HISTÓRIA

O painel com bonecas afro foi confeccionado por alunos supervisionados pela professora Eduarda Rossana que dava aulas sobre a cultura  afro-brasileira. O projeto era chamado de Abayomi e fazia parte do programa institucional da escola “Diversidade”, que trata da questão étnica-racial.

A professora conta que  desde dezembro do ano passado ela foi transferida para o Museu Capixaba do Negro, por pedido próprio. Atualmente, dá aulas de dança para alunos de escola pública que estudam em horário integral.

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“Eu terminei o projeto conforme havia planejado antes de vir. Na época, eu sofri muito com toda a repercussão, mas foi preciso lutar para ajudar a combater o racismo, fortalecer as relações étnico-raciais e cumprir a lei. Espero que tenha dado coragem para outros professores”

Eduarda Rossana, professora
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O professor de história e secretário de combate ao racismo do Sindicato dos Trabalhadores em Educação Pública do Espírito Santo (Sindiupes) Adriano Albertino informou que o sindicato continua sendo contra a permanência da creche no local. Ele alega que há risco de interferência da igreja na educação.

 

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 “A escola não pode ficar num local que tenha interferência da religião. Escola é laica e o projeto educacional deve ser desenvolvido livremente. Permanecer naquele espaço é dar chance para que os fatos de racismo e intolerância religiosa continuem acontecendo. A prefeitura precisa entender que o interesse público deve vir em primeiro lugar”, disse.

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