Um ano após a polêmica envolvendo um painel com bonecas afro no Centro Municipal de Educação Infantil (Cmei) Cida Barreto, em Jardim da Penha, Vitória, a creche continua funcionando num espaço anexo à Igreja Evangélica Batista de Vitória (IEBV). Na época, o Ministério Público Estadual (MPES) recomendou que a Prefeitura Municipal de Vitória mudasse a unidade de educação infantil de lugar, mas o processo ainda está tramitando.
Em agosto do ano passado, o pastor da igreja onde funciona a creche, João Brito, pediu que um painel feito por crianças que continha bonecas negras, conhecidas como Abayomi, fosse retirado da creche. Segundo o religioso, a boneca era símbolo de macumba por se originar de uma religião africana. Diante da repercussão, professores, estudantes e representantes de movimentos sociais e culturais fizeram protestos pelas ruas de Jardim da Penha.
ALUGUEL
O prédio em que a escola funciona pertence à Evangélica Batista de Vitória, mas é alugado pela Prefeitura da Capital por quase R$ 40 mil. O espaço onde o trabalho foi exposto é de uso compartilhado entre a creche e a igreja evangélica.
A Secretaria Municipal de Educação de Vitória (Seme) informou apenas, por meio de nota, que o Ministério Público Estadual acolheu o pedido de continuidade do funcionamento do Cmei Cida Barreto no mesmo espaço.
Já o Ministério Público do Espírito Santo (MPES), por meio da Promotoria de Justiça da Educação de Vitória, informa que instaurou procedimento para apurar denúncias de pais de alunos e de movimentos sociais referentes à retirada do painel pedagógico desenvolvido por alunos do Centro Municipal de Educação Infantil (CMEI) Cida Barreto. O procedimento está em tramitação e já foram realizadas diversas diligências. Na época, o Ministério Público Estadual (MPES) recomendou que a Prefeitura Municipal de Vitória mudasse a creche de lugar.
"Não se encontrou um espaço em Jardim da Penha para atender de forma confortável e com as características semelhantes que pudesse proporcionar o mesmo atendimento pedagógico às crianças, razão pela qual o procedimento ainda se encontra em tramitação. Nova reunião já está prevista com a participação dos secretários de Educação, de Obras e de Fazenda de Vitória, além de representantes da Igreja Batista, para discutir as intervenções sugeridas pelo MPES, com o objetivo de atender às questões de segurança física e estrutural do local", disse em nota.
HISTÓRIA
O painel com bonecas afro foi confeccionado por alunos supervisionados pela professora Eduarda Rossana que dava aulas sobre a cultura afro-brasileira. O projeto era chamado de Abayomi e fazia parte do programa institucional da escola Diversidade, que trata da questão étnica-racial.
A professora conta que desde dezembro do ano passado ela foi transferida para o Museu Capixaba do Negro, por pedido próprio. Atualmente, dá aulas de dança para alunos de escola pública que estudam em horário integral.
O professor de história e secretário de combate ao racismo do Sindicato dos Trabalhadores em Educação Pública do Espírito Santo (Sindiupes) Adriano Albertino informou que o sindicato continua sendo contra a permanência da creche no local. Ele alega que há risco de interferência da igreja na educação.
A escola não pode ficar num local que tenha interferência da religião. Escola é laica e o projeto educacional deve ser desenvolvido livremente. Permanecer naquele espaço é dar chance para que os fatos de racismo e intolerância religiosa continuem acontecendo. A prefeitura precisa entender que o interesse público deve vir em primeiro lugar, disse.
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