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500 pacientes com HIV sem médico no Hucam

500 pacientes com HIV sem médico no Hucam

Infectologista pediu afastamento em julho, mas ainda não foi substituído. médico era cedido pela Sesa

Publicado em 13 de setembro de 2018 às 22:29

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(Guilherme Ferrari)

Quem tem HIV, tem pressa. No entanto, 500 soropositivos podem ter que esperar pelo tratamento no Hospital Universitário Cassiano Antonio Moraes (Hucam). Esse é o número de pessoas que dependem do atendimento de um infectologista no hospital que pediu afastamento da função em julho. Não há nenhuma previsão de quando ele será substituído. Se o problema não for solucionado, os pacientes ficam sem medicamento, o que coloca em risco a qualidade de vida deles.

Segundo o hospital, nos casos em que o acompanhamento não foi transferido para outras unidades, as consultas com o médico foram desmarcadas e uma nova data será informada quando a Secretaria Estadual de Saúde (Sesa) substituir o profissional. O Hucam é de responsabilidade do Governo Federal, mas o infectologista era cedido pela Sesa.

A Sesa alega que o hospital ainda não solicitou um novo médico oficialmente. Já o Hucam garante que fez, sim, o pedido em uma reunião no dia 16 de julho, que contou, inclusive, com a presença da Coordenação Estadual de DST Aids da Sesa, da chefia do Núcleo Especial de Vigilância Epidemiológica e da subsecretaria de Estado da Saúde para assuntos de Regulação e Organização da Atenção à Saúde.

“Os termos da reunião foram inclusive relatados em Nota Técnica do dia 30 de julho, assinada pela coordenadora Estadual de DST Aids da Sesa e endereçada à chefe do Núcleo Especial de Vigilância Epidemiológica da mesma secretaria, em que foi ratificado o pedido por um infectologista“, complementa o Hucam em nota enviada à reportagem.

Janette Alvim e Isaque de Oliveira, representantes de movimentos de pessoas com HIV, falam da falta de profissional no Hucam. (Fernando Madeira)

Outros três infectologistas atendem no hospital, mas não conseguem absorver todos os pacientes do profissional que deixou a função. Em meio ao impasse, estão os 500 portadores do vírus HIV e mais 130 pacientes com hepatites B ou C que se consultavam com o médico. Ao todo, o Hucam realiza o tratamento de 2 mil pessoas infectadas pelo HIV. 

A DENÚNCIA

A denúncia foi feita pela representante estadual do Movimento Nacional das Cidadãs PositHIVas (MNCP) e Membro da Rede Nacional De Pessoas Vivendo com HIV/AIDS (RNP+), a escritora Janette Alvim, de 56 anos.

Ela mesma se trata no hospital há 20 anos e tinha uma consulta marcada que foi cancelada. “Preciso ir ao médico de dois em dois meses para pegar a receita. Quando o paciente interrompe a medicação por um ou mais dias, o quadro piora. E aí pode ter a falha terapêutica. Ou seja, futuramente essa medicação pode não fazer mais efeito e o paciente vai precisar trocar os remédios. É uma situação caótica”, critica.

O Hucam recebe também pacientes de cidades do interior. Mesmo que os soropositivos sejam transferidos para outras unidades de saúde, Janette avalia que muitos deles acabam interrompendo o tratamento por temerem sofrer preconceito em um hospital que não esteja acostumado a ir. “É uma relação de confiança construída. Quem não tem uma estrutura, desiste do tratamento”, explica.

Representante capixaba da Rede Nacional de Jovens Vivendo com HIV e Aids (RNAJVHA-ES), Isaque Oliveira, 22, alerta que os pacientes dessa faixa etária estão assustados com a possibilidade de não conseguir consultas com infectologistas no Hucam.

“Eles me procuram desesperados. A gente sabe que jovem tem vida sexual ativa e ele tem medo de transmitir por não saber como está a carga viral (quantidade de vírus no sangue)”, relata.

NOTA DO HUCAM

"O Hospital Universitário Cassiano Antônio Moraes esclarece que, no dia 16 de julho de 2018, representantes do Hucam solicitaram um médico infectologista dos quadros da Sesa para substituir o profissional que havia se desligado da função dias antes e era cedido pela própria secretaria. Ele atendia a cerca de 500 pacientes portadores do vírus HIV e outros 130 pacientes com hepatites B ou C.

A solução foi proposta desta forma tendo em vista a impossibilidade, por conta do calendário eleitoral e da urgência pela manutenção dos atendimentos, de se convocar novos infectologistas por meio de concurso público.

Nesta reunião, além dos representantes do Hucam, participaram integrantes da equipe da Coordenação Estadual de DST Aids da Sesa, da chefia do Núcleo Especial de Vigilância Epidemiológica e a subsecretária de Estado da Saúde para assuntos de Regulação e Organização da Atenção à Saúde.

A resposta dada na mesma reunião pela subsecretária foi de que a Sesa poderia verificar esta possibilidade dentro dos limites da lei.

Os termos da reunião foram inclusive relatados em Nota Técnica do dia 30 de julho, assinada pela coordenadora Estadual de DST Aids da Sesa e endereçada à chefe do Núcleo Especial de Vigilância Epidemiológica da mesma secretaria, em que foi ratificado o pedido por um infectologista"

NOTA DA SESA

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"A Secretaria de Estado da Saúde informa que, até o momento, não recebeu nenhuma solicitação formal do Hospital das Clínicas solicitando substituição do profissional"

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