Início de 2014. Era grande a expectativa de comerciantes, empresários e usuários para a realização das obras de ampliação da Avenida Leitão da Silva, em Vitória. Com a promessa de uma via revitalizada em um ano, o cenário poderia ser de valorização imobiliária. Mas, após quatro anos e meio com a avenida ainda em obras, 26 lojas fecharam segundo a associação que representa comerciantes e empresários da região. O que se vê por toda sua extensão são imóveis vazios com placas de vende-se e aluga-se.
A reportagem de A GAZETA percorreu a Leitão da Silva e contou 22 placas. Entre os diversos imóveis à disposição para locação, está um galpão de uma empresa de prestação de serviço para a indústria naval que no anúncio indica ter mudado de local. Um pouco mais à frente, há um prédio vazio onde por anos funcionou um supermercado.
A despachante Maria da Penha Soares Lima, 57 anos, trabalha há mais de 20 na empresa da família, localizada na avenida. Ela diz que as lojas fecharam por queda no movimento de clientes e relembra a época de pleno funcionamento do comércio de serviços do local, com restaurantes, lanchonetes, salão de beleza, lojas de material de construção, iluminação e oficinas. A avenida era excelente. A movimentação da loja que trabalho era boa e agora está bem precária, analisa.
Além da crise financeira, Maria da Penha atribui a situação aos transtornos causados pela obra: trânsito complicado, falta de local para estacionar e também poeira. Nesse cenário, muitos comerciantes não conseguiram mais pagar o aluguel do ponto comercial. A grande maioria aqui é aluguel, a não ser as grandes empresas. É difícil conciliar aluguel e imposto com a queda no movimento que teve.
O presidente da Associação de Comerciantes e Empresários da Avenida Leitão da Silva, Wellington Gonçalves, afirma que hoje a maioria dos comerciantes que atua no local é proprietária de seus imóveis, e confirma que o pagamento de aluguel foi um dos fatores que fizeram muitos encerrarem suas atividades na avenida. Quem pôde mudar, migrar para outro lugar, migrou, relata Wellington.
PREJUÍZO
Segundo lojistas que continuam com seus negócios na avenida, desde 2014 as vendas caíram mais de 50%. Algumas empresas que têm atendimento via call center não foram tão afetadas, mas nós que precisamos que o consumidor venha direto no nosso balcão fomos extremamente afetados, ressalta Wellington.
Apesar das interferências na mobilidade da avenida com as obras, Wellington pontua que diversos comércios continuam em plena atividade. Diz ainda confiar na promessa feita pelo secretário de Transportes e Obras Públicas do governo do Estado, Paulo Ruy Carnelli, de que a avenida será entregue pronta, finalmente, ainda este ano.
Estamos muito esperançosos porque o governo do Estado, através do secretário, nos prometeu a entrega da obra pronta em dezembro de 2018.
VALOR DO ALUGUEL CAIU E NÃO SEGUROU COMERCIANTE
Entre as placas de vende-se ou aluga-se fixadas nos pontos comerciais, a de um restaurante bem conhecido na Avenida Leitão da Silva se destaca. Funcionou por oito anos na região e foi fechado há dois meses porque o dono não conseguia mais arcar com os custos do aluguel e o pagamento de funcionários, mesmo com queda de R$ 3 mil no valor da locação.
O negócio não se sustentou por causa da queda do movimento. O ponto comercial era alugado e, para não perder o cliente, o dono do local reduziu o valor da locação. Originalmente, valendo R$ 5 mil, no final do contrato estava sendo cobrado pouco mais de R$ 2 mil.
Fui abaixando o preço, mas ele (o dono do restaurantes) não conseguiu se manter. Há quatro anos, em vez de fazer o reajuste, só diminuía o valor, mas infelizmente não tinha mais jeito, disse o proprietário Fernando Novais.
Desde quando o locatário entregou o ponto, há dois meses, Fernando colocou a placa anunciando a disponibilidade de locação. Mas nesse período recebeu poucas ligações de possíveis interessados. Situação que, para Novais, só será possível mudar com as obras finalizadas na avenida. É um imóvel grande, e só duas pessoas me ligaram até agora. Em outra época bombava de interessados, hoje quem liga não vem nem olhar.
FUGA DE CLIENTES
A dificuldade de mobilidade com poucas linhas de ônibus passando pelo local, sem vagas de estacionamento e com calçadas destruídas para o acesso aos serviços comerciais oferecidos na avenida são problemas que persistem durante todo período de obras, há quatro anos e meio. Situações que afastam as pessoas da região.
A estudante Simone Lima dos Santos mora no bairro Resistência, em Vitória. Ela precisou buscar uma encomenda na agência dos Correios, que fica na avenida, e, após pegar um ônibus que só passa pela Reta Penha, seguiu a pé até ao local.
Precisei sair da Reta Penha para vir aos Correios. Se tivesse um acesso mais fácil, evitaria esse transtorno de atravessar a obra. Do jeito que está difícil aqui, as pessoas acabam optando pela Reta da Penha, disse.
O trânsito não está interrompido, mas as pistas para passagem de veículos foram reduzidas. E uma vaga de estacionamento é bastante disputada. Para estacionar é horrível. Parei o carro a três quarteirões do local que tenho que ir, desabafou a sommelier Andressa Lauer.
CONCLUSÃO DE OBRA EM DEZEMBRO
Faltando apenas quatro meses para o final do ano, o Departamento de Estradas de Rodagem do Estado do Espírito Santo (DER-ES) garante que vai entregar a Avenida Leitão da Silva em dezembro. Mas, questionado sobre os detalhes do andamento das obras, o órgão informou apenas que está realizando o serviço de drenagem e conclusão da nova pista, e que não seria possível precisar a porcentagem do que foi feito, pois são várias frentes de obras e serviços diferentes que estão sendo executados.
Em 28 fevereiro deste ano, o secretário de Planejamento do governo do Estado, Regis Mattos Teixeira, admitiu que apenas em 2019 as obras de macrodrenagem do local seriam finalizadas. Entretanto, no mesmo dia, o DER afirmou que iria tentar recuperar o tempo perdido causado pelas chuvas e entregar a obra ainda em 2018.
Histórico
As obras da Leitão da Silva protagonizaram uma novela de atrasos no Estado. A via é cortada por um valão, e, além de ampliação da avenida com três pistas de cada lado, no lugar de duas , a intervenção tem o objetivo de acabar com os constantes alagamentos da região. Iniciada em janeiro de 2014, a previsão de conclusão era julho de 2015, mas com prazos acima do esperado e revisões no projeto, o gasto saltou de R$ 50 milhões para R$ 115 milhões.
Após 2015, o novelão de prazos se estendeu e foram mais quatro novas datas. Primeiro, no final de 2016, com a perspectiva de entregar as vias e realizar a reestruturação do sistema de saneamento e drenagem. Com a promessa não cumprida, o prazo foi para o primeiro semestre de 2017. Não concluído, a promessa passou a ser entregar no primeiro semestre de 2018 e, agora, para dezembro.
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