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Interdição da Terceira Ponte: abandono de usuários é investigado

Interdição da Terceira Ponte: abandono de usuários é investigado

Inquérito civil aponta que não foram adotadas medidas de segurança para garantir segurança de usuários durante a mais longa interdição da via: 8 horas

Publicado em 19 de setembro de 2018 às 19:19

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(Internauta)

O abandono dos usuários que trafegavam pela Terceira Ponte no dia 10 de setembro, quando ela ficou interditada por oito horas para o resgate de uma pessoa que tentava se matar, é alvo de uma investigação. O inquérito civil, aberto pelo Ministério Público do Espírito Santo (MPES), aponta que embora fosse importante salvar uma vida que estava em risco, não foram adotadas medidas para garantir a segurança, a saúde e a proteção das demais pessoas, que tiveram o seu direito de se locomover temporariamente impedido.

O que está sendo apurado pela 27ª Promotoria Cível de Vitória é a violação dos direitos coletivos em decorrência da ausência de um plano de segurança por parte do poder público e da concessionária Rodosol, que permitisse evacuar a ponte e seus acessos, garantindo a segurança de todos os usuários.

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Colocou-se centenas de outras pessoas sob risco, mediante a deficiência na adoção de ações proativas visando resguardar a incolumidade dos demais que permaneceram sem assistência no alto da Terceira Ponte, ou fora dela, com limitação momentânea de exercício do seu direito de locomoção

Promotor Rafael Calhau
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Na portaria que deu origem ao inquérito é relatado que centenas de cidadãos ficaram retidos por cerca de oito horas, sem receber qualquer assistência por parte da Concessionária Rodosol, da Polícia Militar, do Corpo de Bombeiros (Defesa Civil). E o pior, pontua o documento, "tendo sido verificado que motoristas e pedestres transitaram livremente pela pista de rolamento da rodovia estadual, em meio a veículos, ou apoiaram-se na mureta da ponte, em flagrante situação de risco a sua segurança e vida".

De acordo com o documento, naquela ocasião teria que ter sido posto em prática a evacuação da ponte durante o evento ou um plano de contingência, executado em situações de risco anormal no trecho concedido, como é o caso e paralisações, distúrbios, eventos naturais, catástrofes, dentre outros. Como isto não foi feito, os que ficaram retidos no local iniciaram ações que poderiam prejudicar a operação de resgate.

"Como o acionamento de buzinas, tentativas de invasão, aproximação de pessoas no local do evento, travessia de pedestres na pista da Terceira Ponte, dentre outros que poderiam multiplicar os problemas que ocorriam no trecho de concessão provisoriamente interditado", é relatado na portaria.

DEVERES

Interdição da Terceira Ponte parou as cidades de Vitória e Vila Velha. (Vitor Jubini)

O inquérito civil aponta que foi constatado que houve deficiência na atuação da concessionária de serviço público, a Rodosol, da Polícia Militar, do Corpo de Bombeiros Militar e da Guarda Civil Metropolitana de Vitória no sentido de garantirem a segurança dos usuários. "No âmbito de suas atribuições e obrigações legais e contratuais, visando preservar a vida, a incolumidade física, segurança e outros direitos fundamentais dos demais cidadãos diretamente impactados pelo evento noticiado", diz o texto.

Em decorrência disso é pontuado que há indícios de que houve violação a direitos, bem como de violação de cláusulas e obrigações contratuais da Rodosol. Destaca ainda que não só a concessionária, mas também o poder público e demais agentes privados envolvidos precisam manter de forma coordenada um plano de ação para situações de risco ou anormais, que garantam os direitos constitucionais à vida, a segurança, ordem pública e liberdade de locomoção dos cidadãos.

DESESPERO

(Reprodução | Whatsapp)

No dia 10 de setembro, o bloqueio da ponte começou às 15h19 e só terminou às 23h20. A situação deu um nó no trânsito da Grande Vitória. Foi a terceira vez que a principal via de ligação entre Vitória e Vila Velha foi bloqueada por um longo período neste ano, e a quarta vez em 15 meses.

Em 12 de junho, uma tentativa de suicídio também fechou a ponte por cinco horas. Em 19 de julho, a via ficou bloqueada por duas horas. No ano passado, em julho, outra interdição bloqueou os dois sentidos por três horas. Em todos os casos, o Corpo de Bombeiros e a Polícia Militar conseguiram resgatar as pessoas.

A interdição foi feita para que bombeiros e policiais negociassem com uma pessoa que tentava se matar no local. Impacientes, os motoristas e usuários que esperavam por horas no bloqueio promoveram buzinaços, outros tentaram furar o bloqueio da praça de pedágio, em Vitória, e foram contidos após a polícia lançar bombas de efeito moral.

Um drama vivenciado pela publicitária Agatha Becelli, de 22 anos. Ela estava em um dos acesso à ponte, na Avenida Hugo Musso, onde ficou retida por cinco horas. "Tive uma crise renal por segurar a urina. Precisei tomar remédio e faltar a um dia de trabalho. Perdi aula na Universidade Federal do Espírito Santo, tive que me virar com o que tinha no carro para comer ou beber. Minha preocupação aumentou após as 20 horas, quando o movimento diminuiu", relata a jovem que já enfrentou uma cirurgia por problemas renais.

Ela contou ainda que uma família amiga estava vindo da Bahia e ficou presa, aguardando a liberação da ponte. Também viu mães que tiveram que se virar para conseguir alguém pra buscar filhos na escola, pois não conseguiram chegar a tempo.

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Não sou contra a interdição, mas acredito que possa existir alguma forma de não parar duas cidades inteiras por conta disso

Agatha Becelli
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OUTRO LADO

Por nota, a Secretaria de Segurança Urbana de Vitória (Semsu) informou que o efetivo da Guarda Civil Municipal de Trânsito esteve presente nas principais vias do município realizando barreiras com as viaturas, na Praça da Cauê e na Rua Clóvis Machado, indicando rotas alternativas para os motoristas a fim de minimizar os efeitos da interdição da Terceira Ponte. Além disso, os agentes da Central Integrada de Operações e Monitoramento (Ciom) acompanharam toda a movimentação para auxilar os agentes que estavam nas vias da cidade durante a ocorrência.

O Corpo de Bombeiros, por intermédio do tenente-coronel Rodrigo Ribeiro, informou que foi criado um grupo que está elaborando um plano para as situações de emergência que resultam na interdição da Terceira Ponte. O objetivo é evitar que evitar que outras pessoas fiquem retidas no local durante as fases de interdição.  "

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A tática de fechar a ponte para viabilizar o trabalho de resgate de vidas é necessária, é adotada em outros estados e vai ser mantida. Mas reconhecemos que não se pode manter outras pessoas retidas na ponte e em seus acessos. Estamos estudando como podemos retirá-las

Tenente-coronel Rodrigo Ribeiro
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Participam do grupo que elabora o planejamento, além dos bombeiros, representantes da Polícia Militar, da concessionária Rodosol, da Agência de Regulação de Serviços Públicos (Arsp), Ministério Público Estadual e Guardas Municipais de Vitória e Vila Velha.

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