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Juiz sobre médico denunciado: paciente era 'gado a ser destrinchado'

Juiz sobre médico denunciado: paciente era "gado a ser destrinchado"

Sentença contra o médico Renato Tatagiba cita que ele opera em "escala industrial"

Publicado em 19 de setembro de 2018 às 01:44

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Depois da cirurgia feita pelo cirurgião, paciente diz que passou a tomar diversos medicamentos. (Ricardo Medeiros)

Em um dos processos já julgados na Justiça do Espírito Santo, o médico Renato Tatagiba foi condenado a pagar R$ 13,5 mil a uma paciente por danos morais. Na sentença, o juiz do 3º Juizado Especial Cível de Cariacica, Ademar João Bermond, afirmou que o médico realiza procedimentos cirúrgicos em “escala industrial” e que tratou a paciente que o processou como “gado a ser destrinchado em açougue”.

A cirurgia de mastopexia (correção de mamas caídas) com prótese, abdominoplastia e lipoaspiração de abdômen, flancos e dorso foi realizada em janeiro de 2012 pelo valor de R$ 7,5 mil. Mas, de acordo com os autos, o procedimento deixou sequelas na paciente como “barriga torta e seios de tamanhos diferentes”.

“Esse procedimento consiste numa cirurgia estética, que é obrigação de resultado. Em casos assim, o profissional médico assume a obrigação de melhorar a aparência física do paciente, proporcionando o resultado pretendido. E o resultado satisfatório não se limita à melhoria estética, mas num atendimento pós-operatório atencioso e responsável”, afirmou o magistrado na sentença.

As cicatrizes que ficaram na paciente não estão no campo do que se pode considerar aceitável em um procedimento dessa natureza, segundo o magistrado. “Embora o contrato informe sobre o resultado de cicatrizes, não esclarece a extensão.”

Só dos seios terem ficados em tamanhos diferentes já revelaria o insucesso do procedimento, segundo o juiz, que mencionou que o médico Renato Tatagiba é réu em “dúzias de ações”. “Não se pode ordinarizar um procedimento cirúrgico como se fosse algo mecânico e desprezível de acompanhamento permanente do médico. O profissional que age dessa forma busca lucro a todo custo, olvidando-se (esquecendo-se) que o bem maior é a própria vida. Aliás, a satisfação do profissional, antes que financeira, deve ser a satisfação do cliente, com o alcance do resultado pretendido”, destacou.

Ainda de acordo com Bermond, o procedimento estético defeituoso tem consequência grave porque além de ser esteticamente irreversível, resulta ainda em um grave abalo psicológico. Portanto, ele determinou que o cirurgião restituísse o valor gasto com a cirurgia além do valor de R$ 6 mil por danos morais.

CIRURGIAS

No centro cirúrgico onde Renato Tatagiba atuava, em Vila Velha, eram realizadas em média 10 cirurgias por dia.

A informação é de um funcionário da clínica ouvido pela Polícia Civil durante a investigação solicitada pelo Ministério Público Estadual (MPES), referente ao caso da empresária que agora convive com problemas cardíacos (na foto acima) após se submeter a uma cirurgia com o médico. Após a conclusão desse inquérito, o MPES ofereceu denúncia contra o médico.

O promotor Roberto Silveira Silva, responsável pelo caso, também mencionou na denúncia a grande quantidade de cirurgias realizadas por Renato Tatagiba no dia em que a empresária operou. Segundo ele, foram aproximadamente nove procedimentos cirúrgicos, “não sendo crível que o denunciado conseguisse se dedicar com cautela e necessidade que os procedimentos exigem a todos os pacientes”, disse na denúncia.

OUTROS MÉDICOS

Ainda segundo a testemunha ouvida pela polícia, Tatagiba conta com o auxílio de outros dois médicos em suas cirurgias. “Cada médico se dirigia a uma sala do centro cirúrgico sob a supervisão do Dr. Renato Tatagiba e realizavam as cirurgias simultaneamente”, afirmou em depoimento à Polícia Civil.

O período mais complicado da vida da empresária, de 34 anos, teve início quando descobriu que tinha um seroma nas mamas. Ou seja, um acúmulo de líquido. Para solucionar o problema, ela conta que recorreu ao médico Renato Tatagiba. O caso dela deu origem à denúncia de lesão corporal culposa do MPES contra o cirurgião.

Como escolheu o médico?

Eu já o conhecia porque tinha colocado silicone com ele há um tempo. Na época do seroma, ele disse que precisaria ser feita a troca da prótese e decidi também corrigir a cicatriz do abdômen e tirar uma gordurinha.

O que você sentiu depois da cirurgia?

Eu tinha fortes dores no peito. Eu falei com a enfermeira o que eu sentia, mas me diziam que era normal. Me prescreveram morfina e mesmo assim eu continuava sentindo muitas dores e falta de ar.

O que você acha que aconteceu?

Ele colocou uma prótese que eu não contratei. Era para ter colocado embaixo do músculo e pôs por cima. Fez uma cicatriz enorme. Onde deveria ter feito a lipoaspiração não tive nenhuma incisão.

Como você lida com isso hoje em dia?

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Minha vida foi destruída. Hoje tomo remédios fortíssimos e faço tratamento para depressão.

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