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Mortes nas estradas: 'Carteira de Habilitação é um atestado de óbito'

Mortes nas estradas: "Carteira de Habilitação é um atestado de óbito"

Os acidentes, e suas causas, são consequências de falhas no processo de habilitação, avalia o o diretor-presidente do Observatório Nacional de Segurança Viária, José Aurélio Ramalho

Publicado em 17 de setembro de 2018 às 18:51

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Condutores, pedestres, ciclistas são parte do problema das mortes nas rodovias federais. Segundos dados da Polícia Rodoviária Federal, apenas 6,7% dos acidentes com óbitos que ocorreram nas BRs que cortam o Espírito Santo não poderiam ter sido evitados ou prevenidos.

Dentre as principais causas de acidentes dessa natureza estão a falta de atenção, o excesso de velocidade e o desrespeito às normas de trânsito. Causas alheias aos motoristas e pedestres, como baixa visibilidade ou mal súbito do condutor, representam apenas uma parcela ínfima do total. Para o diretor-presidente do Observatório Nacional de Segurança Viária, José Aurélio Ramalho, a questão está intimamente ligada à falhas no processo de habilitação dos condutores.

Como explica este cenário de mortes em estradas serem provocadas principalmente por motivos evitáveis?

Primeiro ponto fundamental é que a sociedade não é preparada para a convivência no trânsito, a chamada educação para o trânsito. Nas escolas, pouco ou nada se fala sobre isso. A gente nasce e sai do hospital no trânsito e quando vai pro cemitério, vai no trânsito. O trânsito está nas nossas vidas 24 horas. É raro alguém que não faça contato com o trânsito durante um dia. A educação para crianças é fundamental. O segundo aspecto é a habilitação. A pessoa que quer se habilitar a dirigir um carro, uma moto, ou um caminhão ela tem que estar preparada para tanto e hoje a nossa formação é um sistema de adestramento. Ela consiste em decorar várias placas, mas os condutores não sabem o que fazer quando vêem as placas.

O que se pode fazer para melhorar a habilitação dos motoristas?

É preciso haver uma reformulação de toda a estrutura didática e pedagógica. Qualquer pessoa sabe que hoje tirar a habilitação é algo muito pífio. O nível de informação é muito raso se você levar em consideração que vai sair dali e colocar em risco a sua vida a de outros.

Qual é o principal gargalo nessa formação?

O motorista não tem uma aula sequer de percepção de risco. Se você é mãe, você sabe que quando vai ter um filho tem que colocar elástico na porta dos armários, cantoneira nas mesas e grade na janela porque percebe o risco antes de a criança chegar. A mãe tem isso registrado como percepção de risco. Mas a mesma mãe que faz isso, coloca o filho no banco de trás e deixa solto. A formação do condutor não é chegar lá na autoescola, responder 20 questões, mostrar no carro onde engata a primeira marcha e daí, após aulas que são patéticas, eu te dou a habilitação que nada mais é do que um atestado de óbito antecipado. A situação é pior ainda quando é motocicleta. Tirar habilitação não é um direito. Ser habilitado é uma concessão do estado e ela só poderia ser dada para quem realmente está preparado para aquilo.

As principais causas de mortes em rodovias atualmente são excesso de velocidade e falta de atenção. O senhor acredita que os motorista não levam a sério a condução?

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Você só tem atenção no que você sabe que precisa ter atenção. O motorista não sabe. Como ele não foi alertado, não se aciona nele o gatilho da percepção de risco. Se ele não percebe risco ele não tem atenção. Sobre a velocidade, um estudo que a gente fez mostra que quanto melhor é o pavimento, maior o risco de acidentes fatais. Porque a pessoa excede a velocidade sem perceber. Às vezes a gente está a 100 quilômetros por hora e parece que está parado. Quando vai para 70 km/h parece que stá devagar demais. Quanto melhor a rodovia, e como não há a percepção de risco, ele acelera e causa maior risco de acidentes fatais.

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