> >
Às vésperas de abertura de canal, famílias recusam sair de casas no ES

Às vésperas de abertura de canal, famílias recusam sair de casas no ES

Elas se recusam a deixar o local sem garantias legais de proteção dos imóveis e manutenção da renda

Publicado em 20 de setembro de 2018 às 18:06

Ícone - Tempo de Leitura 0min de leitura
Obra na barragem de Linhares. (Reprodução)

Quase a metade das 56 famílias que vivem às margens do Rio Pequeno, em Linhares, não querem deixar as suas moradias. O limite para a saída é nesta sexta-feira (21), uma vez que no dia seguinte será aberto um canal de ligação que permitirá a liberação da água retida na Lagoa Juparanã para o rio. O impasse ameaça a realização da obra.

A construção foi viabilizada após a constatação de que há riscos de rompimento da barragem existente no local, construída de forma emergencial em 2015 para evitar a contaminação da Lagoa Juparanã com os rejeitos de mineração do Rio Doce, originados do desastre ambiental em Mariana, Minas Gerais.

O fato foi apontado em estudos realizados pela Fundação Renova e confirmado pela Aecom do Brasil. A empresa foi contratada pela Fundação Renova, por intermédio de um termo de compromisso firmado com o Ministério Público Estadual (MPES). Um destes trabalhos foi o de análise de medidas adotadas com foco na preservação das lagoas de Linhares. O diretor da Aecom, informou "que há risco grave de rompimento da barragem e que ele poderia causar dano inestimável".

Em reunião realizada na manhã desta quinta-feira (20) com as famílias foi constatada que pelo menos a metade delas, dentre as quais existem dez comerciantes, se recusam a deixar o local sem garantias de proteção dos imóveis e renda de forma legal pela Fundação Renova, responsável pelos trabalhos de recuperação envolvendo o Rio Doce.

O impasse, segundo a promotora Mônica Bermudes Medina Pretti, que coordena o Grupo de Trabalho de Recuperação do Rio Doce (GTRD), decorre da exigência, por parte das famílias, de que haja um documento legal com as garantias de que o patrimônio delas será resguardado e de que as perdas de renda dos comerciantes e dos proprietários de imóvel que possuem casas alugadas na região, não ocorram. "A Renova se comprometeu, até o final do dia, a dar um retorno sobre os pedidos", relatou.

Segundo Mônica, foi feito um apelo as famílias para que saiam das casas até sexta-feira (21), para que o canal de vazão das água da Lagoa Juparanã para o Rio Pequeno seja aberto. "Entendemos a situação das famílias e queremos uma solução que as resguarde. Por outro lado, esta é uma obra de interesse coletivo que impacta ainda na vida de outras comunidades", destacou.

Barragem entre a Lagoa Juparanã e o Rio Pequeno, onde será aberto canal para escoar água. (Carlos Palito | TV Gazeta)

A promotora acrescentou que a decisão sobre a manutenção do cronograma de abertura do canal sairá até o final desta quinta-feira (21), enquanto aguarda uma resposta da Renova sobre as demandas das famílias. Participaram da reunião representantes do Ministério Público Estadual e do Federal, da Defensoria Pública do Estado, da Renova, além das famílias.

OBRA

O barramento do Rio Pequeno, em Linhares, fez com que o volume de água da Lagoa Juparanã fosse acumulando, causando estragos na região do entorno. Há casos relatados pelos Ministério Público Estadual, de localidades, como Patrimônio da Lagoa, em Sooretama, que está completamente alagado. Sem contar danos causados a outras regiões, a propriedades particulares e a mortandade de árvores. Preocupação acentuada com a chegada do período chuvoso, que poderia aumentar ainda mais o nível de água da lagoa e do rio.

Para contornar este problema foi realizada pela Renova um canal que permitia o esvaziamento de parte da água represada, mas ele não foi suficiente. Os estudos apontaram que a força da água retida poderia causar outros estragos.

Aspas de citação

Se nada fosse feito, poderia haver o chamado galgamento, com a passagem da água sobre o barramento. Outra possibilidade seria a ruptura do barramento, com a geração de uma onde de 40km/hora

Wilians Arruda, especialista de projetos e obras da Fundação Renova
Aspas de citação

A nova solução foi iniciar em agosto a construção de um novo canal, que ampliará a vazão de saída da água represada dos atuais 30 metros cúbicos/segundo para 100 metros cúbicos/segundo. "Além do novo canal, estamos fazendo a proteção das margens do rio com enrocamento pedras e protegendo os pilares da ponte e as margens das primeiras casas. Com a abertura do canal estimamos que o nível da lagoa chegue a níveis de segurança para passarmos o período chuvoso. Também será implantado um sistema de monitoramento do nível do Rio Doce, da lagoa Juparanã e do rio Pequeno", explicou Arruda.

A abertura do canal está prevista para o próximo dia 22, quando um volume maior de água passará pelo local, impondo riscos a quem mora na região. "Daí a importância da saída das famílias, que deverão se manter fora de suas residências até que os riscos desapareçam", pontuou Arruda, que acrescenta que todo o trabalho está sendo executado em parceria com os órgãos públicos, incluindo a Defesa civil municipal.

O planejamento apresentado pela Renova é da retirada total das famílias entre o período de setembro deste ano a março de 2019, a fase das chuvas, como forma de precaução, segundo informou Sérgio Kuroda, gerente de território da fundação Renova. A instituição, mantida pela Samarco e suas acionistas Vale e BHP, responde pelos programas e ações de reparação e compensação socioeconômica e socioambiental pelo rompimento da barragem de Mariana. Para os que aceitarem deixar o local e forem para a casa de parentes será oferecida uma ajuda de custo. Outra alternativa é um hotel ou aluguel social. A Renova também auxiliará as famílias com a saída das casas.

OUTRO LADO

Por nota a Fundação Renova informou que está mantido para sábado a reabertura do canal entre a lagoa e o rio. Assinala que está analisando as reivindicações feitas pelos moradores durante a reunião desta quinta-feira e providenciando o atendimento das demandas.

Às vésperas de abertura de canal, famílias recusam sair de casas no ES

 

Este vídeo pode te interessar

 

Notou alguma informação incorreta no conteúdo de A Gazeta? Nos ajude a corrigir o mais rapido possível! Clique no botão ao lado e envie sua mensagem

Envie sua sugestão, comentário ou crítica diretamente aos editores de A Gazeta

A Gazeta integra o

The Trust Project
Saiba mais