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'Sinto muitas dores', diz estudante operada por cirurgião denunciado

"Sinto muitas dores", diz estudante operada por cirurgião denunciado

Segundo a mulher, de 32 anos, o médico Renato Tatagiba lesionou nervos durante o procedimento realizado no final de 2015.

Publicado em 20 de setembro de 2018 às 11:30

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Estudante de fisioterapia mostra cicatriz da cirurgia para implantar silicone. (Marcelo Prest)

Uma estudante de fisioterapia, de 32 anos, que preferiu não se identificar, contou que sofre com dores neuropáticas depois da cirurgia para colocar silicone nas mamas. Segundo ela, o cirurgião plástico Renato Tatagiba lesionou nervos durante o procedimento realizado no final de 2015.

O médico e a secretária da clínica onde trabalhava em Vila Velha, Priscila Nascimento de Souza Cyrilo, foram denunciados pelo Ministério Público do Espírito Santo (MPES). Tatagiba foi acusado de lesão corporal culposa em uma cirurgia estética realizada há dois anos. O crime prevê pena de dois meses a um ano de detenção. Ele também foi denunciado por falsificação de documentos. Já Priscila foi acusada de falsificar receituários e atestados médicos.

VEJA ENTREVISTA

Você sempre quis colocar silicone?

Era um sonho meu, da minha irmã e da minha mãe. Uma amiga da faculdade colocou e deu tudo certo com ela. Então eu me animei de fazer também. Mas minha mãe e minha irmã desistiram depois de ver tudo que eu sofro até hoje.

Quando as dores começaram?

Logo depois da cirurgia eu comecei a sentir uma queimação muito estranha e fui ficando vermelha. Na clínica falaram que era alergia. Depois que fui para casa segui tomando os remédios normalmente, mas depois de uns sete dias eu sentia dores fora do normal. Dores que eu sinto até hoje. Cheguei a ficar internada.

O que você fez depois?

Eu procurei o doutor Renato. Ele apalpava a minha mama, dizia que estava tudo normal, mas eu morria de tanta dor depois dele apertar. Quando passou um ano de enrolação, ele decidiu refazer a cirurgia. Eu disse que queria tudo diferente, a técnica e a prótese, mas ele fez tudo igual.

As mamas ficaram deformadas?

A aparência sempre foi bonita, mas eu não via a beleza. O problema era a dor. Além disso, a cicatriz ficou muito grande e ele dizia que o corte seria imperceptível. Eu falei com ele que achava que tinha queloide, mas ele me disse que eu não tinha. Depois da nova cirurgia, as dores pioraram e eu fiquei perdida. Não sabia o que fazer.

Você procurou outro médico?

Já perdi a conta de em quantos médicos eu fui até que encontrei um cirurgião plástico que me ajudou. Ele me indicou um especialista em dor. Fiz vários tratamentos até em São Paulo e alguns deram resultados.

O meu médico atual retirou as próteses e faz uma aplicação com remédio toda semana para diminuir a dor e a queloide que dá coceira. Tomo remédios fortíssimos todos os dias.

De onde você tira força para seguir?

Minha família me ajuda bastante e confio muito em Deus. Tenho uma fé muito grande. Queria minha vida de volta. Para mim médico é quem cuida das pessoas.

Como você se sente hoje?

Sinto muitas dores e tudo que eu queria era não sentir mais nada. Meus remédios são para dor e antidepressivos, mas eu não queria tomar remédios para sempre.

Você pensa em colocar novas próteses?

Nunca mais.

MÉDICO DENUNCIADO PELO MPES RESPONDE A MAIS DE 30 PROCESSOS

Cirurgião plástico foi denunciado por cirurgia realizada em janeiro de 2016. (Instagram de Renato Tatagiba)

O cirurgião plástico Renato Tatagiba responde a 33 processos na Justiça. Desse número, onze mencionam erro médico como assunto da ação. Os demais processos pedem indenizações por dano moral ou material. O médico foi alvo de uma denúncia do Ministério Público do Espírito Santo (MPES) que o acusou de lesão corporal culposa em uma cirurgia estética realizada há dois anos e falsificação de documentos, conforme divulgado nesta quarta-feira (19) por A GAZETA.

A denúncia do MPES, inclusive, partiu da queixa de uma das pacientes do médico que entrou na Justiça contra ele. O órgão, por sua vez, solicitou investigação à Polícia Civil. Após a conclusão do inquérito criminal, a denúncia foi apresentada à Justiça e está para ser analisada. Sobre a denúncia, o advogado do médico, Celso Papaleo, afirmou que só vai se pronunciar quando for oficialmente notificado pela Justiça.

PROCESSOS

No Tribunal de Justiça do Espírito Santo tramitam 24 processos contra Tatagiba, sendo que as ações foram movidas por 22 autores. Pacientes que se sentiram lesados moveram mais de uma ação contra o médico. Os demais processos tramitam na Justiça do Rio de Janeiro.

De acordo com o levantamento feito pela reportagem, outros três processos já julgados foram localizados e em um deles Tatagiba foi condenado a pagar R$ 20 mil por danos morais e estéticos.

ACORDO DE R$ 48 MIL

Outros oito processos arquivados foram identificados e, em dois deles, foram feitos acordos entre as partes: em um o médico pagou R$ 48 mil e em outro R$ 5.071,87. Além disso, Tatagiba também foi condenado a pagar R$ 13,5 mil a outra paciente em um processo que correu em segredo de Justiça e que A GAZETA teve acesso à sentença. Na decisão, o juiz do 3º Juizado Especial Cível de Cariacica, Ademar João Bermond, afirmou que o médico realiza procedimentos cirúrgicos em “escala industrial” e que tratou a paciente que o processou como “gado a ser destrinchado em açougue.

Ainda segundo o levantamento da reportagem, entre os processos arquivados pela Justiça do Espírito Santo, também há casos em que as próprias pacientes abandonaram as ações.

No total, o cirurgião plástico já indenizou em R$ 86.571,87 pessoas que se sentiram lesadas após algum procedimento cirúrgico realizado por ele.

Uma estudante de fisioterapia de 32 anos, que preferiu não ter a identidade revelada, contou a A GAZETA que foi uma das pacientes que teve complicações depois da cirurgia para colocar silicone nas mamas. Segundo ela, Renato Tatagiba lesionou nervos durante o procedimento realizado no final de 2015. Desde então, a mulher convive com fortes dores neuropáticas. O caso dela é um dos processos que tramitam na Justiça do Espírito Santo.

“Tudo que eu queria era não sentir mais nenhuma dor. Colocar o silicone era um sonho que eu tinha, mas agora só queria minha vida de volta”, desabafou.

CAUSAS

Os processos que tramitam contra o cirurgião Renato Tatagiba somam R$ 1.825.727,31. No entanto, esse número pode ser ainda mais alto já que o site da Justiça do Rio de Janeiro não indica os valores das nove causas que estão em andamento por lá. Atualmente, o médico, que encerrou as atividades na Grande Vitória, atua no Rio de Janeiro, em São Paulo e em Minas Gerais.

Procurado, o Conselho Federal de Medicina (CFM) informou que Tatagiba está com a inscrição regular no Espírito Santo, São Paulo, Rio de Janeiro e Minas Gerais.

O OUTRO LADO

“Atualmente o país enfrenta um triste fenômeno social, denominado judicialização da Medicina, onde profissionais da saúde são submetidos a um volume assustador de ações judiciais, em sua grande maioria sem razão.

Vários são os congressos de Direito Médico realizados em todo o país para tratar do tema, tendo em vista que as ações judiciais se multiplicam e alcançam todas as especialidades médicas e demais profissionais da saúde, não só no Brasil, mas em vários outros países.

No caso em questão, a própria matéria jornalística traz a informação de que os processos estão ‘tramitando’, ou seja, não transitaram em julgado e, até que isso ocorra, o médico deve ser considerado inocente, trata-se de uma garantia constitucional.

Devemos levar em consideração que, infelizmente, grande parte dessas ações são propostas por pessoas oportunistas ou mesmo incapazes de se sentirem satisfeitas independentemente do resultado alcançado pelo profissional médico. Sendo assim, ratificamos que o Dr. Renato Tatagiba Garcia é um excelente cirurgião plástico, não se furta ou se furtou a responder qualquer chamado da justiça ou da imprensa e está confiante que sua inocência será provada pela Justiça.”

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Celso Papaleo Advogado de Renato Tatagiba

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