Uma equipe de jornalistas do Jornal A Gazeta, responsável por uma série de matérias que retratavam a realidade do Espírito Santo seis meses após a greve da Polícia Militar, é finalista do 40° Prêmio Jornalístico Vladimir Herzog de Anistia e Direitos Humanos. Os repórteres Natália Bourguignon, Raquel Lopes, Caique Verli, Arabson de Assis e Sullivan Silva estão concorrendo com produções da BBC Brasil, Agência Pública, Revista Galileu, Jornal Diário do Nordeste e Gazeta do Povo.
Ao todo, foram 607 produções inscritas na premiação. A escolha dos vencedores será em sessão pública, com transmissão ao vivo pela internet, dia 11 de outubro de 2018, na Sala Tiradentes da Câmara Municipal de São Paulo.
A maior motivação dos repórteres foi a necessidade de não deixar um período de extrema insegurança no Estado ser varrido para baixo do tapete. A ideia surgiu da indignação com a greve, era uma coisa que não poderia ficar esquecida, contou a repórter Raquel Lopes.
Ao todo, foram 219 mortes registradas no período da greve, que durou 20 dias. Para a equipe, era importante tratá-las para além do campo da estatística para que a sociedade compreendesse o terror vivido pelos capixabas. Queríamos expor as histórias das vítimas que viraram só números na época, contou a repórter Natália Bourguignon.
OBSTÁCULOS
No meio do caminho tinha uma pedra. Chegar aos números, conseguir levantar dados e levar aos leitores uma informação completa foi um grande desafio para a equipe. A maior dificuldade foi conseguir os dados. Íamos atrás dos órgãos oficiais e ninguém passava nada. Era um período que os órgãos públicos queriam esquecer, mas nós não podíamos permitir, disse Raquel.
Para contornar a falta de acesso aos dados oficiais, os repórteres precisaram ser criativos e ter jogo de cintura. A dificuldade de ter acesso a dados confiáveis nos motivou a buscar outras fontes e outros métodos para entender a dimensão daquela guerra urbana, contou Natália.
SENSIBILIDADE
Além da complexidade de lidar com dados e transformá-los em textos, encarar de frente a dor de famílias devastadas pela violência marcou nossos repórteres. Foi um trabalho muito duro, por ser denso e pelas características das entrevistas. Não é fácil pedir licença para entrar na vida de quem perdeu um filho ou irmão para a violência nesse período que é o mais sangrento da história do Estado, relatou o repórter Caique Verli.
Respeito à dor do outro e sensibilidade para conduzir as entrevistas foram marcas dessa produção. Lembro de me sentir muito desconfortável com o relato de mães que perderam seus filhos durante aquele período. E isso me motivou ainda mais a conhecer suas histórias, contou o repórter Sullivan Silva.
Para transmitir a dor de uma mãe que perdeu um filho durante um assalto a ônibus, o ilustrador Arabson de Assis buscou uma forma de narrativa inusitada. A narrativa foi menos jornalística. Busquei capturar a angústia daquela mãe para contar a história, contou.
TRABALHO DURO
Apesar da dor, o jornalista precisa por diversas vezes, como ressaltou o repórter Caique Verli, tocar na ferida. De acordo com Verli, essa é única maneira de trazer à luz problemas que, muitas vezes, são escondidos. É uma matéria dura, pesada, mas necessária. O jornalismo precisa, muitas vezes, tocar na ferida. E eu fico emocionado em saber que ela chamou a atenção para o problema e deu esse resultado, disse.
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