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Entre a dor e a saudade: um ano sem a menina Thayná

Entre a dor e a saudade: um ano sem a menina Thayná

Estudante de 12 anos foi raptada e morta em Viana. Colegas só a queriam de volta

Publicado em 17 de outubro de 2018 às 02:46

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Clemilda, mãe de Thayná, mostra foto da filha. (Bernardo Coutinho)

Andar com a nova bicicleta, ter uma festa de 15 anos de princesa, formar-se em Veterinária. Esses eram alguns sonhos da menina Thayná Andressa de Jesus Prado, 12 anos, interrompidos quando a estudante foi raptada no dia 17 de outubro do ano passado, por Ademir Lúcio Ferreira, 55, no Bairro Universal, Viana.

A ossada da estudante foi encontrada 48 dias depois, em um matagal, em Viana. O corpo de Thayná havia sido carbonizado. Acusado de estuprar e matar a menina, Ademir foi capturado no dia 13 de novembro, em Porto Alegre. Ele permanece preso, aguardando o julgamento.

Nesta quarta-feira (17), quando o crime completa um ano, amigos da vítima contam sobre a dificuldade em superar o trauma. A estudante Ana Clara Lula Brandão, de 11 anos, orgulha-se ao contar que era uma das melhores amigas de Thayná.

Thayssa, Ana Clara e Rafaela eram muito amigas de Thayná e se emocionam sempre que se lembram dela. (Fernando Madeira)

“Uma fazia parte do coração da outra. Brincávamos muito. A gente nunca brigou. Me entristece falar nisso porque eu sinto muita saudade. Isso que aconteceu com ela eu não desejo pra ninguém. O que ela podia fazer pelos outros, ela fazia. Ela nunca quis o mal para ninguém”.

Ana Clara contou ainda que dividia o mesmo sonho de profissão que Thayná. “Eu e ela queríamos ser veterinárias. Ela amava os animais. Não podia ver um cachorrinho na rua que ela queria levar pra casa.”

Já Thayssa Viana Rodrigues, 11 anos, contou que o plano das amigas era que ficassem juntas até a velhice. “Queria poder dizer que eu a amo. Se eu pudesse prever o que ia acontecer, tentaria ajudar”, disse.

PESADELO

Emocionada, Thayssa contou como foi o último dia ao lado de Thayná. “Depois da escola fomos na casa de uma amiga e brincamos. Quando ia embora, me deu um abraço bem forte e disse que me amava muito. Depois, ela sumiu. A gente acha que é um pesadelo e vai acordar. Mas infelizmente não é.”

Já Ana Clara, chegou a ter esperanças de que Thayná estivesse bem. “Queria muito que ela tivesse fugido e depois voltasse. Queria ao menos mais um mês pra ficar com ela. Tudo que eu quero é que Deus dê um lugar bom pra ela”, deseja.

Professora de educação física de Thayná, Helzilene Araújo descreve a menina como uma aluna ativa, alegre e comunicativa. “Nunca a vi triste ou sentada. Ela era uma aluna excelente. Jogava futebol com os meninos e queimada com as meninas. Estava andando de skate, era uma das corredoras, participou de corridas pelos Jogos do Ensino Fundamental de Viana. Fiquei sem chão, sem acreditar, foi impactante. Fico imaginando a reação dela. Com certeza tentou correr, gritar por socorro. Ficamos chocados por perder alguém tão nova. O corpo dela nem era de mulher, era de criança. Até hoje quando passo no lugar onde ela foi levada, quando cai a chuva, lembro dela. A escola vai carregar esse luto por um bom tempo”.

"NÃO CONSEGUI SAIR DAQUELE DIA", DIZ MÃE

Já faz um ano que Clemilda Aparecida de Jesus, 39, perdeu a filha Thayná Andressa de Jesus Prado, 12. Mas a dor, segundo ela, ainda é tão grande que parece que tudo aconteceu ontem. “Vivo em um mundo paralelo. Não consegui sair daquele dia. Eu acordo com a sensação de que está acontecendo algo ruim e que eu tenho que fazer alguma coisa. Mas não tem mais o que fazer pela minha filha.”

No dia 17 de outubro de 2017, quando a menina desapareceu, a mãe foi à delegacia e depois voltou diversas vezes naquela semana e ouviu que a filha devia ter fugido. “Procurei por imagens de videomonitoramento no comércio. Quando encontrei a imagem dela entrando no carro, meumundo desabou.”

A mãe lamenta que o homem que dirigia o carro e é acusado de violentar e matar a menina, Ademir Lúcio Ferreira de Araújo, de 55 anos, não estava preso embora tivesse cometido outros crimes. “Me dói saber que isso poderia ter sido evitado se o Ademir tivesse sido preso quando estuprou a primeira garota, antes da minha filha. Em 2016, ele estava preso por matar uma mulher,mas ele foi solto.”

Clemilda diz que em 10 de novembro do ano passado, quando encontraram uma ossada, teve esperanças de que não fosse de sua filha. Mas os ossos eram mesmo de Thayná. “Quando saiu o resultado do exame que comprovava que a ossada era da minha filha, em 4 de dezembro, acabaram todas as esperanças.Foi um dos piores dias da minha vida. Fui morar em uma casa vazia, porque precisava me isolar.”

Depois disso, ela conta que sua vida estagnou. “Não consegui fazer mais nada, fiquei desempregada. Os primeiros meses foram ainda mais doloridos. Difícil aceitar que alguém entrou na minha vida, pegou o meu ser mais querido e indefeso e fez uma monstruosidade dessa. Não é algo que vai passar em um ou cinco anos. Não consigo ficar muito tempo sem chorar.”

Agora, Clemilda mora na casa de parentes em outro local, pois não consegue mais viver no Bairro Universal, onde a menina foi levada. “Olho pra porta e parece que minha filha vai chegar. Que isso não aconteceu. Que eu esto vivendo um pesadelo e vou acordar. É uma ferida que é aberta cada dia mais. Fico revoltada e triste em saber que daqui uns dias o Ademir pode estar solto.”

RECURSO DE ADEMIR SERÁ JULGADO

Ademir Lúcio Araújo Ferreira, de 55 anos. ( Reprodução/Facebook)

Na tarde de quarta-feira (17), a Segunda Câmara Criminal do Tribunal de Justiça vai julgar um dos recursos apresentados por Ademir Lúcio Ferreira de Araújo, de 55 anos. Trata-se do estupro de uma adolescente de 11 anos, violentada antes da morte de Thayná Andressa de Jesus Prado, 12.

Por decisão da 1ª Vara Criminal de Viana ele vai responder por estupro de menor de 11 anos, com sequestro ou cárcere privado. Em maio deste ano ele decidiu recorrer, tentando reduzir as acusações.

Outro recurso de Ademir que também está pendente é o relativo ao caso de Thayná. A Justiça Criminal de Viana já decidiu no dia 11 de maio deste ano que Ademir enfrentará o Júri Popular.

Ele também recorreu contra esta denúncia em maio deste ano. O caso também está sendo analisado pela Segunda Câmara Criminal do Tribunal de Justiça. O relator é o desembargador Adalto dias Tristão. Segundo o andamento processual, o caso está concluso para julgamento desde o dia 4 de setembro. Enquanto não há uma decisão sobre o assunto, Ademir fica impedido de sentar no banco dos réus.

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Há ainda o pedido de indenização por dano moral, no valor de R$ 52,8 mil, contra o Estado. Ademir alega que foi torturado pelos agentes penitenciários quando ficou detido no sistema prisional capixaba. Este julgamento foi adiado para fevereiro do próximo ano.

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