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Intoxicação leva 1,4 mil crianças para hospitais no Espírito Santo

Intoxicação leva 1,4 mil crianças para hospitais no Espírito Santo

Em quase metade dos casos, causa foi ingestão de remédios

Publicado em 28 de outubro de 2018 às 00:22

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Juliana Cipriani, 42, jornalista, conta que a filha Victoria, quando tinha 1 ano e meio, engoliu um pedaço de Rivotril e ficou internada no hospital. (Fernando Madeira)

Cerca de 1.400 crianças de até 9 anos se intoxicaram no Espírito Santo no ano passado. Em quase metade dos casos, os agentes da intoxicação foram os remédios, ingeridos por engano pelo pequeno ou até administrados de forma incorreta pela família.

Segundo o pediatra do Centro de Atendimento Toxicológico do Espírito Santo (Toxcen), Nixon Sesse, os casos são mais concentrados na faixa etária até quatro anos. “É o período que a criança começa a andar, a explorar o ambiente. Nessa fase a criança é mais ativa e mais dinâmica”, afirma.

O desenvolvimento rápido dos filhos exige aumento dos cuidados por parte do pais. ”Aquele remédio que ficava em uma certa altura, agora não pode mais ficar. Porque a criança já sabe escalar, subir em uma cadeira, por exemplo”, diz o especialista.

Além disso, o médico alerta para os riscos de uma administração errada do medicamento. “Um erro muito comum é tirar o medicamento da caixa, ou no escuro, sem acender a luz. Também acontece de pingar no nariz um colírio, por exemplo”, conta.

Muito comum nas casas, a “farmacinha”, caixa de remédios variados que todos costumam ter, pode ser um perigo real para as crianças. Segundo o Toxcen, os medicamentos mais ingeridos por engano pelas crianças são os antidepressivos e ansiolíticos, descongestionantes nasais e aqueles considerados do uso comum do dia a dia, como o Paracetamol.

“As pessoas acham que não, mas dependendo da quantidade ingerida, o Paracetamol pode até matar. Algumas vitaminas que contém ferro na composição também podem causar intoxicação grave”, explica Sesse.

ÁREA DE SERVIÇO

Além da atenção com os remédios, o Toxcen orienta que os pais ou tutores tenham cuidados com todos os cômodos da casa, mas principalmente com aqueles locais onde são guardados materiais perigosos como os produtos de limpeza.

Eles ficam em segundo lugar entre os principais causadores de intoxicações de crianças. Sesse explica que os mais ingeridos por engano são a água sanitária, os detergentes e os sabões.

Depois vêm os cosméticos e os produtos químicos, como soda cáustica e os utilizados para desentupir encanamentos.

SEM PÂNICO

O médico explica que, qualquer que seja o agente causador da intoxicação, o importante é que os pais mantenham a calma e entrem em contato com o Toxcen antes de se dirigir a um serviço de saúde. “Se o produto for líquido e cair na roupa, é importante lavar a boca da criança e tirar a roupa suja. Enquanto uma pessoa faz isso, a outra já liga para o serviço, que funciona 24 horas”, explica o médico.

Ariosto: é preciso cuidado com líquidos quentes. (Marcelo Prest)

Por telefone, a equipe do Toxcen poderá, a partir de informações fornecidas pela família, definir se é ou não necessário que a criança seja hospitalizada. “É muito importante que os produtos estejam em suas embalagens de origem. Caso seja necessário ir ao hospital, é preciso levar a embalagem”, alerta.

O médico esclarece ainda que não há uma conduta única para tratar a intoxicação, tudo vai depender do produto ingerido e da potencialidade tóxica dele.

ORIENTAÇÕES

Remédios

Os remédios são os principais causadores de intoxicação em crianças no Brasil e também no Estado. Em seguida, estão os produtos de limpeza e os cosméticos.

Mais comuns

Os remédios mais ingeridos são aqueles que as famílias costumam ter em casa como Paracetamol, descongestionantes nasais e medicamentos para tratamento de depressão, por exemplo.

Vitaminas

As cápsulas e comprimidos de vitaminas também podem ser perigosas para crianças. Aquelas que contém ferro, por exemplo, podem causar intoxicação grave.

Outros

Há ainda outros agentes que causam intoxicação em crianças como alguns tipos de plantas e agrotóxicos domésticos, como chumbinho e outros produtos para matar ratos e baratas.

CUIDADOS

Em casa

A maioria das intoxicações ocorrem dentro da casa onde a criança vive ou onde costuma passar o dia. Elas podem ser prevenidas com cuidados, evitando deixar remédios e produtos de limpeza ao alcance dos pequenos.

Idade

A intoxicação acidental é mais comum até 4 anos, idade em que a criança começa a explorar mais o ambiente.

Administração

Descuidos na administração dos remédios para crianças também podem causar intoxicação.

Prevenir

Por isso é importante manter os medicamentos em suas embalagens originais para não haver confusão na hora de administrar. No caso de remédios líquidos, os pais ou tutores devem dosá-los em um recipiente como uma colher ou um copo e não dar direto na boca da criança. Também é importante que o ambiente esteja iluminado o suficiente para permitir a leitura dos rótulos.

ACONTECEU, E AGORA?

Limpeza

Caso a criança tenha ingerido algo líquido, é importante lavar a boca dela e tirar as roupas.

Telefone

Em seguida, os pais ou tutores devem entrar em contato por telefone com o Toxcen. O serviço funciona 24 horas por dia e sete dias por semana nos números: (27) 3636-7503, (27) 3636-7575 e (27) 0800-283-9904.

Em mãos

Ao ligar, é importante ter em mãos o frasco ou a embalagem original do produto ingerido pela criança. Por isso, nunca se deve reutilizar embalagens para armazenar outros produtos.

Serviço de saúde

Com base nas informações fornecidas por telefone, o Toxcen vai informar se será, ou não, necessário encaminhar a criança para um serviço de saúde de urgência.

TRATAMENTO

Quantidade

O tratamento recomendado vai depender da quantidade de produto ingerido e também do potencial tóxico dele.

Especialista

Apenas um médico poderá dizer qual o tratamento necessário para o caso específico. Poderá ser necessário administrar carvão ativado. Para alguns agentes, existem antídotos.

Cuidado

Soluções caseiras para tratar intoxicação podem colocar em risco a saúde da criança. Algumas pessoas costumam dar leite ou fazer o filho beber muita água, mas ambos os procedimentos podem ser perigosos dependendo do produto que for ingerido.

QUEIMADURA FAZ MAIS VÍTIMAS

São as crianças as maiores vítimas de queimaduras segundo o cirurgião plástico e presidente estadual da Sociedade Brasileira de Queimaduras, Ariosto Santos. Ele afirma ainda que a maioria delas acontece dentro de casa, ou seja, são acidentes domésticos.

O médico esclarece que os líquidos quentes, como água, leite ou caldo de feijão, são os mais frequentes causadores de queimaduras nos pequenos. “Na maioria das casas, o local de encontro é na cozinha. Em algumas, há ainda a questão de a mãe ter que olhar mais de uma criança e cozinhar ao mesmo tempo”, explica.

Ele cita ainda as queimaduras causadas por choques elétricos, que acontecem quando a criança mexe em uma tomada, por exemplo.

Outra armadilha dentro de casa é o álcool líquido, responsável por 20% das queimaduras no Brasil. “Só aqui se vende álcool em supermercado. O brasileiro tem o hábito de usar como produto de limpeza. E não pode deixar em um local de fácil acesso”, afirma o especialista.

O médico aconselha os pais a tomarem medidas simples que podem até salvar a vida dos filhos, mantendo os pequenos longe de líquidos quentes. “São acidentes que podem ser evitados com medidas práticas”, diz.

SOCORRO

Se, mesmo com o cuidado dos parentes e tutores, a criança acabar se queimando dentro de casa, o médico orienta que o procedimento correto é colocar um pano seco sobre o local e ir direto para um serviço de saúde de urgência.

Ele alerta ainda para o perigo de usar receitas caseiras nesse momento crítico. “Não é para passar maionese, manteiga, clara de ovo ou café. Essas substâncias podem até diminuir a dor momentaneamente, mas terão que ser removidas pelo médico e a pele vai acabar saindo junto.”

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O médico aconselha ainda a família a procurar um pronto-atendimento onde haja um cirurgião plástico ou um centro de queimados. “Uma queimadura mal tratada no início pode acarretar vários problemas. Se houver uma infecção, por exemplo, ela pode até se aprofundar”, diz.

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