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Mais de 16 mil na fila por cirurgia pelo SUS no ES

Mais de 16 mil na fila por cirurgia pelo SUS no ES

Sesa diz que casos são classificados por risco de prioridade

Publicado em 23 de outubro de 2018 às 00:51

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Pedrina, 81, teve outro problema de saúde e voltou para a fila de espera da cirurgia nos olhos. (Carlos Alberto Silva)

Mais de 16 mil pessoas estão na fila aguardando uma consulta com um cirurgião geral no Estado pelo Sistema Único de Saúde (SUS). O tempo de espera varia, mas pode chegar a, no máximo, um ano e meio, segundo a Secretaria Estadual de Saúde (Sesa). É nessa consulta que será definido pelo médico se o paciente precisa ou não de uma cirurgia.

“Há consultas e exames que podem variar menos de 20 dias de aguardo, como também há casos de espera de mais de seis meses. Nosso prazo máximo é de um ano e meio e entendemos que esse paciente precisa até ser reavaliado para confirmar se existe a necessidade da cirurgia. Geralmente são casos mais simples e pacientes que não foram nas consultas”, disse a coordenadora da Central de Regulação da Sesa, Patrícia Vedova.

Ainda de acordo com Patrícia, cada caso é analisado individualmente e classificado por risco de prioridade. “Não queremos que a população aguarde, mas aqueles pacientes mais graves são priorizados no sistema, o que acarreta dos pacientes menos graves esperarem mais”, justificou.

Para combater o tempo de espera na fila, a Sesa tem investido em mutirões de cirurgias eletivas. “Não importa se são 20 mil ou 50 mil pacientes. O que importa é o tempo de espera. De julho até dezembro estamos fazendo o mutirão de cirurgias vasculares, ginecológicas e oftalmológicas. Esse mutirão até pode ser estendido se houver necessidade.”

Patrícia explicou que a espera também está relacionada com as ausências dos usuários nos procedimentos agendados: 38,2% das consultas e 30% dos exames não aconteceram porque os pacientes faltaram. “Quem não pode comparecer deve procurar a unidade de saúde do município com quatro dias de antecedência para desmarcar a consulta ou o exame. Assim o procedimento pode ser aproveitado para outro paciente.”

Ainda de acordo com a Patrícia, após a consulta com o cirurgião, até 70% das pessoas na fila não são casos cirúrgicos e podem ser tratadas clinicamente por meio de medicamentos.

HÁ DOIS ANOS DIAGNOSTICADA COM CATARATA, APOSENTADA ESPERA OPERAÇÃO

A cada dia que passa o medo de não enxergar aumenta para a aposentada Pedrina Marcelina dos Santos Coutinho, 81. Há dois anos diagnosticada com catarata, aguarda na fila do SUS a realização de uma cirurgia. Ela estava pronta para fazer o procedimento, mas, por causa de outro problema de saúde, voltou para a espera.

“O caso da minha mãe já evoluiu para glaucoma. Ela ia fazer cirurgia, só que, no final do ano passado, tirou dois coágulos da cabeça. Tivemos que deixar a cirurgia de catarata de lado e tratamos da isquemia cerebral. Agora, estamos desde janeiro aguardando a cirurgia do olho. Ela já fez duas consultas”, contou a filha de Pedrina, Jolimar Coutinho, 46.

A promessa é de que Pedrina vai ser consultada no Hospital Evangélico, em Vila Velha, na próxima sexta-feira. “Minha mãe costurava e bordava, mas agora não podemos deixar ela chegar nem perto do fogão porque já não enxerga direito. Fico muito triste em vê-la assim. Acho isso um descaso.”

O hospital diz que Pedrina está sendo acompanhada pela equipe de oftamologia e confirma o atendimento esta semana, sem dizer se há previsão para a cirurgia.

DEMORA

A espera também tem sido difícil para o agente de viagem Rogério Agripino, 54, que está com uma arritmia cardíaca. Correndo risco de vida, segundo um laudo médico, ele precisa fazer um procedimento por cateter urgente no coração.

“O SUS não faz esse procedimento, só paga no particular para quem entrar na Justiça, e foi o que fiz. O juiz deu parecer exigindo que a Sesa execute o procedimento, mas até agora nada.”

Procurada, a Sesa informou que “não há prestador credenciado no SUS que oferte este serviço no Estado. Para atender a solicitação, foi aberto processo de compra do procedimento.”

ANÁLISE

Investimento para o SUS

O SUS precisa de investimento tanto de recursos financeiros para ofertar mais consultas e mais exames para reduzir esse tempo de espera, mas também necessita investir em tecnologia inteligente para otimizar o acesso das pessoas a essas consultas. Se o paciente não pode comparecer, ele poderia desmarcar pela internet e o próprio sistema convocar o próximo da fila. Isso poderia evitar o desperdício de consultas e exames que estão agendados e não são executados justamente por causa da ausência dos usuários. Cada caso tem que ser avaliado e há aqueles que as pessoas realmente podem esperar. Mas há casos, como o de tumores malígnos, por exemplo, que os pacientes precisam de um atendimento rápido já que correm risco de vida.

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Edson Theodoro dos Santos Neto, professor do Departamento de Medicina Social da Ufes

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