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'O digital que a gente quer é o das mãos', diz presidente da Ames

"O digital que a gente quer é o das mãos", diz presidente da Ames

A relação entre médico e paciente mudou, é bem diferente da do passado quando cada família tinha um médico de confiança

Publicado em 18 de outubro de 2018 às 14:37

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Quando aparece algum sinal de doença, você costuma recorrer ao Google ou marca logo uma consulta com o médico? E o WhatsApp do seu médico, você tem? A relação entre médico e paciente mudou. É bem diferente da do passado quando cada família tinha um médico de confiança. O assunto é tema do 58º Congresso Médico Estadual da Associação Médica do Espírito Santo (Ames), que acontece nesta sexta (19) em Vitória. Confira a entrevista com o médico Leonardo Lessa, presidente da Ames.  

Hoje a relação entre médico e paciente é mais distante que no passado?

Sim. A relação profissional do médico com seu paciente sempre foi baseada na confiança. Com o tempo essa relação foi se distanciando. A sociedade hoje é muito conectada, imediatista, digital. Essa relação foi sendo deixada para trás, trocada por outros valores. O que a gente propõe é a reflexão sobre a volta desses valores, buscar retomar essa confiança. Levar o médico a se reconectar com seu paciente, escutar o paciente, atender com educação, fazer exame físico completo. É tocar. Hoje estamos num mundo muito digitalizado, mas o digital que a gente quer é o do dedo, das mãos. É voltar para o toque, para aquela relação que os nossos avós tinham com os médicos de antigamente, de conhecer, saber o nome, às vezes frequentavam a casa dos pacientes.

No passado era muito presente o médico da família. O que fez a gente se distanciar?

Hoje a busca é por resultado, muitas vezes um resultado imediato. você entra numa rede social hoje e vê lá uma foto, um procedimento novo, e quer resultado rápido. E você vai atrás do médico que promete um resultado rápido e nem sempre, quase nunca, isso leva à construção do relacionamento entre médico e paciente.

O capixaba procura muitas repostas sobre questões de saúde no Google. Qual o perigo disso?

A inovação, a informática, o avanço tecnológico são importantíssimos. O avanço na facilidade de informação foi na mesma velocidade. Hoje todo mundo tem acesso à informação, todo mundo consegue acessar internet do celular, fazer sua pesquisa, só que isso de maneira alguma substitui o profissional. A tecnologia hoje não tem capacidade de fazer análises minuciosas, de detalhes, para dar um diagnóstico preciso. Não quer dizer que não é útil. É útil na maneira de informar o paciente sobre determinadas doenças, determinados tratamentos. 

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Quanto mais informado o paciente é da sua doença, mais parceiro ele é do tratamento. É importante a tecnologia, mas ela coadjuvante do médico e do tratamento. Ela nunca pode ser um tratamento único ou referência única para o paciente.

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Alguns médicos fornecem até o número de WhatsApp para o paciente. É uma forma de se aproximar?

A tecnologia sem dúvida aproxima. Além do WhatsApp, alguns aplicativos são utilizados para se aproximar do médico, marcar consulta, tirar dúvida, fazer acompanhamento de doenças crônicas, como diabetes e hipertensão. Vários casos podem ser acompanhados de perto pelo médico por meio dessas conexões.

Dá maior confiança para o paciente saber que em qualquer emergência, qualquer dúvida, pode facilmente falar com o médico.

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O paciente fica a um clique de distância do médico. A tecnologia não pode substituir o contato, o olho no olho, o toque, o aperto de mão, a relação de confiança. Tudo isso é construído. Você não consegue isso com o WhatsApp, um aplicativo. Isso é ao longo das consultas, de anos de relação entre médico e paciente.

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Alguns médicos fazem consultas muito rápidas, outros levam mais tempo na consulta, examinam melhor, conversam um pouco mais.

É isso que a gente quer, que o médico faça uma consulta mais detalhada, ouça o paciente. Aí vem o outro lado, que é da desvalorização médica hoje, da baixa remuneração, da sobrecarga de trabalho, especialmente no serviço público, onde o médico,  às vezes, não tem condição adequada para trabalhar, não tem material, quantidade muito grande de paciente. Isso, muitas vezes, o obriga a deixar de lado um pouco essa relação médico-paciente e agir de modo mais objetivo. É prejudicial tanto para o profissional como para o paciente. De modo algum isso é culpa exclusiva do médico, e sim de todo o sistema.

A humanização é o caminho para voltar a fortalecer a relação entre médico e paciente?

Certamente. O uso correto das tecnologias é outro caminho. Basta o médico se dispor, ter empatia, se colocar no lugar daquele que está sofrendo. É sentir a dor junto com o paciente, entender o paciente, ver a família, é ser observador. É tocar o paciente, fazer um exame físico completo. 

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A humanização, a empatia, gera um bom relacionamento entre médico e paciente. Isso no futuro tende a diminuir até a quantidade de processos, que são em sua maioria fruto da falta de relacionamento entre médico e paciente. Hoje se você perguntar qual o nome do seu médico, poucas pessoas sabem. Um dia vai num médico, outro dia vai em outro. Não existe mais aquele cumplicidade que existia no tempo dos nossos avós. O que a gente propõe é botar um pouco o pé no freio, relembrar um pouco os velhos princípio e tentar resgatar esse relacionamento.

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