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Pais querem impedir que escola na Praia do Canto seja despejada

Pais querem impedir que escola na Praia do Canto seja despejada

Terreno da instituição foi usado como garantia de dívida com banco

Publicado em 19 de outubro de 2018 às 02:47

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Pais e alunos da Escola Geração, de Santa Lúcia, Vitória, protestam contra o fechamento da instituição após decisão judicial. (Ricardo Medeiros)

A Escola Geração, que há 50 anos funciona em Santa Lúcia, em Vitória, está com os dias contados. Isso porque a Justiça determinou que o terreno onde o colégio particular funciona seja desocupado até o dia 20 de dezembro. Inconformados com essa notícia, pais e mães dos alunos se uniram para tentar impedir a ação de despejo na esperança da instituição continuar funcionando no local. Com a decisão judicial, a escola ficou proibida de realizar matrículas para 2019.

O terreno da instituição foi doado, mas não há documentação do repasse. O proprietário original colocou o lote como garantia de empréstimo e não quitou a dívida, por isso o terreno deve ser desocupado.

Conhecida por ser uma escola que trabalha com a inclusão de alunos com necessidades especiais, a instituição também abre as portas para bolsistas e a situação tem mobilizado os pais.

Ver a filha estudando no colégio é a realização de um sonho para a fonoaudióloga Larissa Chambela, de 26 anos. “Não estou conseguindo dormir com essa história. Meu esposo estudou aqui quando era criança. Quando ainda namorávamos ele falava que nossa filha estudaria na Geração. Este lugar não é só uma escola, eles apostam no afeto como ferramenta pedagógica.”

Diante da decisão judicial, os pais se organizaram para tentar reverter a situação. “Marcamos uma manifestação em frente a escola na próxima terça-feira, outra na quinta e mais uma no sábado”, contou a advogada Hosana Dall’Orto, que tem dois filhos no colégio.

Ainda segundo Hosana, há uma comissão de pais que está estudando o que pode ser feito juridicamente.

DOAÇÃO

 

O terreno onde fica a escola foi doado por um parente da atual diretora do colégio, Marisa Amaral, em 1958. Na época, o pai dela saiu de Petrópolis, no Rio de Janeiro, para trabalhar com a torração do café no Estado e ganhou o espaço do tio para construir sua casa.

“Esse tio, que era dono do antigo Café Glória, tinha vários terrenos e deu um para o meu avô. Nada foi passado para o papel. Na década de 50, isso não era uma preocupação”, explicou o filho de Marisa, Tales Amaral.

Segundo Tales, por problemas financeiros, o Café Glória fez um empréstimo no Banco de Desenvolvimento do Espírito Santo (Bandes) em 1987 e o terreno da escola foi usado como garantia de pagamento. Porém, o débito não foi quitado e gerou uma dívida milionária de R$ 4,3 milhões. “Em 1995, soubemos que o terreno iria para leilão. Meu pai pegou uma herança e quitou 85% da dívida. Como o valor todo não foi pago, o processo continuou tramitando na Justiça até essa sentença de desocupação”, esclareceu.

BANDES: "NÃO HÁ COMO ABRIR MÃO DO DINHEIRO"

Procurado, o Bandes destacou que o processo na Justiça não foi contra a escola Geração. O diretor do órgão, Aroldo Natal, explicou que a ação foi movida em 1989 para cobrar a dívida feita pelos donos do antigo Café Glória e que não há como “abrir mão do dinheiro”.

“Tem quase 30 anos que esse processo está na Justiça. Se o Bandes não move a ação, os gestores do banco poderiam responder o caso no Tribunal de Contas. Os diretores poderiam ser acusados de estarem favorecendo um devedor”, esclareceu.

Segundo Natal, o Bandes já recebeu os donos do terreno e a família que cuida da escola, mas nenhum tipo acordo foi proposto pelas partes. “Não temos como abrir mão desse dinheiro porque ele é do povo do Espírito Santo. É possível dar um desconto e até parcelar essa dívida”, explicou.

Natal disse ainda que é verdade que 85% do débito foi pago no passado. Mas os 15% restantes, corrigidos, chegam no valor de R$ 4,3 milhões atualmente. “A dívida é até menor do que o valor do terreno, que hoje é avaliado em R$ 7 milhões.”

O advogado da família proprietária do terreno, Aroldo Limonge, preferiu não se posicionar alegando que o código de ética dos advogados proíbe que eles se manifestem sobre as causas em que estão atuando.

Já Tales Amaral, filho da diretora da escola, disse que quer pedir ao governo que assuma o terreno. “Não queremos que o espaço fique no nosso nome. Pretendemos fundar uma entidade filantrópica para gerir a escola.”

ENTENDA O CASO

Doação

Em 1958, o terreno onde fica a escola foi doado por um parente da atual diretora do colégio, Marisa Amaral. Na época, o pai dela saiu de Petrópolis para trabalhar com a torração do antigo Café Glória no Estado. O tio dele era dono da empresa e decidiu doar o espaço para o sobrinho construir sua própria casa.

Escola

Em 1968, o colégio foi construído pelos pais de Marisa. O primeiro nome da instituição foi ABC do Lobinho. A escola foi pioneira no Estado no trabalho com a educação inclusiva. Além disso, a instituição é conhecida por dar bolsas aos alunos desfavorecidos financeiramente.

Empréstimo

Em 1987, os donos do Café Glória fizeram um empréstimo no Bandes e deram o terreno como garantia de pagamento. A dívida não foi quitada pela empresa e o banco moveu uma ação na Justiça para cobrar o débito.

Dívida

Em 1995, a família que cuida da escola soube que o terreno iria a leilão. Na ocasião, o marido de Marisa, João Carlos Torezani, pegou uma herança e pagou 85% da dívida com o Bandes.

Processo

Como a dívida não foi quitada, o processo seguiu tramitando na Justiça. Hoje, os 15% restantes equivalem a

R$ 4,3 milhões.

Despejo

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No dia 1º desse mês, a Justiça determinou que o terreno da escola seja desocupado até o dia 20 de dezembro.

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