Quase metade das rodovias que cortam o Espírito Santo apresentam problemas segundo a pesquisa divulgada ontem pela Confederação Nacional dos Transportes (CNT). Considerando as vias estaduais e federais, 45,9% dos 1.731 quilômetros avaliados pelo estudo foram classificados como regular, ruim ou péssimo.
A Pesquisa CNT de Rodovias 2018 levou em conta as condições do pavimento, da sinalização e da geometria das vias. É justamente nesse último quesito, que avalia o tipo de rodovia (pista simples ou dupla), a presença de faixa adicional de subida, pontes, curvas perigosas e acostamento que as rodovias do Estado têm a pior avaliação. Quase 70% das estradas apresentaram problemas. A BR 262, por exemplo, famosa pelas muitas curvas perigosas onde acidentes são frequentes, foi avaliada como ruim.
Em contraponto, o pavimento foi considerado bom ou ótimo em 58,2% dos trechos percorridos, com destaque para a BR 101, BR 259 e ES 490, que liga Marataízes a Cachoeiro de Itapemirim.
Quando analisado o estado geral das rodovias, aquelas sob administração do Estado estão em pior situação, com 66,3% classificadas como regular, ruim ou péssima. Já dentre as rodovias federais, apenas 31% estão nessas condições.
Os trechos concedidos foram apontados como os melhores do Estado. Dentre os 532 quilômetros de rodovia sob contrato de concessão avaliados no Espírito Santo, apenas 4,7% estavam com algum tipo de deficiência.
PRECÁRIAS
O problema das rodovias está na forma como foram construídas, de acordo com o professor da Faesa e especialista em logística e transporte Manoel Rodrigues. Para ele, as estradas no país não foram feitas para durar e, por isso, estão em condições precárias. As rodovias foram mal construídas e os pavimentos não têm a espessura adequada. A via apresenta falhas e precisa de muitas manutenções. Se tivéssemos estradas bem construídas, a manutenção seria apenas para revitalizar faixas e adequar a sinalização nas pistas.
O especialista afirma que se o poder público não é capaz de fazer as melhorias, seria preciso buscar parcerias público-privadas para reverter a situação de um ciclo vicioso. A estrada é mal construída e vai depender de manutenção. A manutenção é demorada porque tem toda a parte de licitação para contratação de uma empresa responsável para fazer o serviço. As estradas com problemas passam a entrar em uma lista junto com as que já estão ruins. Quando há um colapso em uma rodovia, é colocada uma camada de asfalto para conter a situação, mas aí chove e abre um novo buraco. Ou seja, quando termina um trecho, um outro aparece com problema, explicou.
MELHOR
Ainda que longe de ser ideal, a situação encontrada pelos pesquisadores da CNT no Espírito Santo melhorou desde a última pesquisa. Em 2017, 67,7% dos trechos avaliados estavam com algum tipo de deficiência em seu estado geral.
Já entre as rodovias estaduais, 81% estavam regulares, ruins ou péssimas. O número caiu para 66,3% na avaliação deste ano.
R$ 292 MILHÕES PARA REPAROS
A Pesquisa CNT de Rodovia 2018 apontou ainda que são necessários R$ 292,48 milhões para as ações emergenciais de reconstrução e restauração das estradas que cortam o Espírito Santo. A verba também inclui gastos com a implementação de sinalização adequada.
O relatório aponta que 23 quilômetros precisam ser totalmente reconstruídos, o que acarretaria um custo de R$ 53,68 milhões. Já outros 199 quilômetros precisam de restauração, ou seja, apresentam trincas, buracos, ondulações ou afundamentos. Para esses trechos, é necessário um investimento de R$ 238,30 milhões.
Além disso, a entidade recomenda que sejam utilizados R$ 261,49 milhões para obras de manutenção em regiões que hoje estão apenas desgastadas, mas não apresentam danos graves.
Ainda de acordo com a Pesquisa CNT de Rodovias 2018, somente os problemas no pavimento das estradas geram um aumento médio de 20,2% no custo operacional do transporte.
A CNT avalia que rodovias deficientes reduzem a segurança viária, aumentam o custo de manutenção dos veículos, além do consumo de combustível, lubrificantes, pneus e freios.
DER: "MALHA RODOVIÁRIA PRECISA DE REPAROS"
A situação das rodovias estaduais do Espírito Santo melhorou, aponta o Departamento de Estradas de Rodagem do Estado (DER-ES). Apesar de 66,3% dessas estradas serem consideradas regulares, ruins ou péssimas na Pesquisa da Confederação Nacional do Transporte (CNT) de Rodovias 2018, no ano passado esse número era ainda maior: 81,2%.
Embora esse número esteja longe do ideal, tivemos uma melhora que é reflexo de um incremento nos investimentos de conservação rodoviária. Em 2016, foram investidos US$ 8,8 milhões (cerca de R$ 32,4 milhões) e, em 2017, foram
US$ 12,3 milhões (aproximadamente R$ 45,3 milhões), pontuou a Engenheira de Tráfego do DER-ES, Lucélia Fehlberg.
A pesquisa da CNT fez uma amostra de 730 quilômetros de rodovias estaduais no Estado. No entanto, Lucélia pondera que essa quilometragem não chega a um quarto das estradas sob a administração do DER-ES. Nós temos aproximadamente 3.600 quilômetros de rodovias pavimentadas.
Ainda segundo Lucélia, no ranking nacional, considerando as rodovias estaduais e federais que estão em boas e ótimas condições, o Espírito Santo saiu do 17º lugar para a 5ª colocação no Brasil.
Parte desse avanço se deu na melhoria das condições de algumas rodovias estaduais administradas pelo DER-ES, principalmente as obras de restauração do pavimento e sinalização na ES 257, em Aracruz, e nas obras de restauração e duplicação na ES 482, em Cachoeiro de Itapemirim, explicou.
Lucélia explicou também que as condições das rodovias estaduais estão relacionadas com o tempo que foram construídas. De acordo com ela, cerca de 52% das estradas foram pavimentadas há mais de 30 anos.
Temos uma malha rodoviária envelhecida que precisa passar por um processo de restauração. O DER-ES está buscando captar os recursos para fazer esse rejuvenescimento das rodovias. Na medida que faz restauração e recuperação dos trechos antigos, menos problemas são apresentados. A gente deixa de fazer aquela operação tapa-buraco para fazer uma recuperação mais duradoura.
Investimento
A recuperação da rodovia acompanhada de serviços de conservação custa em torno de R$ 800 mil por quilômetro, segundo Lucélia. Portanto, para recuperar as estradas que estão em condições precárias seria preciso um investimento de aproximadamente R$ 1,6 bilhão.
Estamos falando de uma recuperação adequada. Esse dinheiro ainda não existe, mas tem como existir. Talvez não todo de uma vez, o que fazemos é priorizar. Vamos priorizar 700 quilômetros que estão em situação mais crítica.
As rodovias ES 010, na Serra; a ES 080, em Cariacica; a ES 484, em Bom Jesus do Norte; e a ES 446, em Baixo Guandu são algumas das estradas estaduais classificadas como ruins na pesquisa da CNT.
DNIT AVALIA DADOS
O Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes (Dnit-ES), responsável por vias federais, informou que ainda vai avaliar os dados da pesquisa divulgada ontem pela CNT. O órgão disse também que vem se empenhando em mudar as condições das vias federais no Estado e que 69% delas estão em ótimas ou boas condições.
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