> >
'Quero que a justiça seja feita', diz mãe de menino envenenado no ES

"Quero que a justiça seja feita", diz mãe de menino envenenado no ES

Após 15 dias de investigação policial, foi apontado que o próprio pai havia envenenado o filho; a mãe já desconfiava que o ex-companheiro tivesse praticado o crime

Publicado em 10 de outubro de 2018 às 23:24

Ícone - Tempo de Leitura 0min de leitura
Pai é acusado pela polícia de envenenar o próprio filho em Castelo. (Divulgação/Polícia Civil)

Após a prisão do marido — acusado de ter envenenado o próprio filho em Castelo, Sul do Estado — a mãe da criança se sente aliviada e espera que a justiça seja feita. O auxiliar de produção, de 35 anos, foi preso nesta quarta-feira (10) pela Polícia Civil. Ele teria cometido o crime na esperança de que o relacionamento amoroso com sua esposa fosse reatado.

Ao Gazeta Online, a mulher contou que desconfiou que o companheiro tivesse praticado o crime, mas não falava nada com ele por recomendações da polícia. "Ele mantinha contato, ia lá visitar (no hospital) até duas vezes por dia. Tinha que fingir que tava tudo bem. Levava biscoitos, fingindo e muitas pessoas já estavam desconfiadas delegacia", contou. 

O menino foi levado inicialmente para a Santa Casa de Castelo, onde foi avaliado por três médicos. Um deles, suspeitou da ingestão de uma substância tóxica ou corrosiva. Devido à gravidade, foi encaminhado para o Hospital Infantil Francisco de Assis, em Cachoeiro de Itapemirim, sendo transferido, posteriormente, para o Hospital Infantil de Vitória. O menino teve lesões na boca, língua, inchaços na boca e foi parar na UTI.

No hospital, o menino contou à mãe que o pai deu a bebida a ele com um remédio. “Ele disse: 'mãe, o leitinho estava gostoso, o que tava ruim foi um remedinho que meu pai me deu.' Entrei em desespero, tentando tirar mais alguma coisa dele. Só falava um remedinho branco, grosso, muito ruim. Não sabia o que era, apenas que era ruim”, conta a mãe.

A doméstica de 33 anos contou que desconfiava que o ex marido pudesse fazer mal a ela, mas não aos filhos. O casal viveu 14 anos juntos e estavam separados há cerca de um mês e meio. Ela revelou denunciou agressões do marido duas vezes esse ano, mas não esperava que o ex-companheiro cometesse um crime tão cruel com o próprio filho. 

Aspas de citação

Só quero que a justiça seja feita. Só eu sei tudo sofri na mão desse homem. Que ele não seja liberto. Vou lutar até o fim para isso acontecer. Sempre pensei que pudesse fazer algo comigo e não colocasse a mão nos meus filhos. Ele fez isso para me atingir e me atingiu. Meus filhos são meus bens maiores

Aspas de citação

 De acordo com a mãe, o menino teve alta na última sexta-feira (05), se recupera bem, mas com algumas restrições alimentares.

CHOQUE

O caso chamou a atenção dos vizinhos e familiares, que não imaginavam o desfecho da história. Uma  vizinha e tia do menino ficou surpresa. “Estou muito triste, decepcionada, como via ele carinhoso com o filho, o tempo todo no hospital preocupado. Se confessou, ele merece ficar onde está para pensar no que fez porque é uma criança, nunca pensei que pudesse fazer isso para voltar com o relacionamento”, disse.

A PRISÃO

Delegado de Castelo, Marcelo Meurer. (Beatriz Caliman)

Inicialmente, o pai da criança negou ter qualquer participação no envenenamento. Entretanto, como a investigação apontava para o crime, a polícia pediu a prisão temporária, que foi decretada pela Justiça, após parecer favorável do Ministério Público.

Ele tentou fugir, mas foi capturado pelos policiais. Na delegacia, o pai confessou que envenenou o próprio filho na esperança de reatar o relacionamento. Ele será encaminhado ao CDP de Cachoeiro de Itapemirim, onde ficará à disposição da Justiça.

No dia do crime, segundo o delegado de Castelo, Marcelo Meurer, o próprio pai foi até a polícia e denunciou que havia algo de errado com o produto. Na ocasião, o auxiliar de produção, de 35 anos, disse que a criança — já no primeiro gole — começou a reclamar que a garganta estava doendo e em, seguida, eliminou sangue pela boca.

Porém, no começo da investigação, o depoimento do pai era inconsistente com o que era apurado. “No princípio, a gente nem poderia imaginar que houvesse esse desfecho. Alguns detalhes no depoimento dele não se confirmavam, se confrontado com das outras pessoas. Fizemos até um estudo sobre o processo de fabricação do produto e era muito improvável a contaminação em uma única unidade das 75 mil de um lote”, contou o delegado.

Na casa do pai, a família encontrou uma seringa e uma colher sujos com um tipo de pó branco, que foram recolhidos para análise. Apesar do laudo da polícia técnica não ter sido concluído, um mandado de prisão temporária foi expedido pela Justiça na semana passada. No entanto, segundo o delegado somente pode ser cumprido após o período eleitoral.

De acordo com Meurer, os investigadores demoraram 1h30 até achar o suspeito escondido em um terreno ao lado da casa.

“O investigado confessou a prática parcialmente. Diz que colocou um pó branco no leite, mas diz que não sabe o que era. Certamente vai querer fazer com que as pessoas creiam que só quisesse que o filho tivesse uma dor de barriga. Alega que não ter dimensão do mal que causou. Ele se diz arrependido e se emocionou quando disse que fez besteira”, revela o delegado.

O pai vai responder por tentativa de homicídio qualificado. 

EMPRESA LAMENTA CONDUTA DO PAI

No dia da internação, o pai disse em entrevistas e à polícia que a criança havia passado mal após ingerir uma vitamina de fruta da Selita. Ouvida pela reportagem no dia do fato, a marca garantiu que os produtos são rigorosamente testados antes de entrar no mercado. Ainda havia reforçado que, se comprovada uma suposta intoxicação, seria o primeiro caso registrado que chegaria ao conhecimento da empresa. Veja nota na íntegra:

"A Cooperativa de Laticínios Selita completa em 2018, 80 (oitenta) anos de história. Durante este período sofreu e venceu inúmeros obstáculos, mas sempre manteve vivo seu maior compromisso: Fornecer produtos de qualidade, confiáveis com sabor inigualável. Posto isto, a Selita lamenta e se solidariza com o menor, vitimado pela conduta do pai, e destaca que sente profundamente que a criança tenha passado por essa terrível experiência, bem como lamenta profundamente ter sua marca – que é sinônimo de qualidade e confiança – envolvida neste caso. Na oportunidade, agradece ao brilhante trabalho investigativo realizado pela Polícia Civil. Reitera por fim, que trabalha incessantemente, dentro dos mais rígidos padrões de qualidade".

Este vídeo pode te interessar

 

Notou alguma informação incorreta no conteúdo de A Gazeta? Nos ajude a corrigir o mais rapido possível! Clique no botão ao lado e envie sua mensagem

Envie sua sugestão, comentário ou crítica diretamente aos editores de A Gazeta

A Gazeta integra o

The Trust Project
Saiba mais