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Uma guinada na vida para fugir do estresse

Uma guinada na vida para fugir do estresse

Há pessoas que decidiram mudar a rotina sem olhar para trás

Publicado em 14 de outubro de 2018 às 11:17

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Cami Christofaro deixou a rotina de estresse que levava em São Paulo e mudou-se com o marido para Vitória. (Marcelo Prest)

Uma rotina extenuante, quase sem tempo para família e amigos, mas com trabalho bem remunerado. Uma cidade com acesso a vários bens e serviços, porém insegura. Diante desses cenários, vale mais ser feliz ou ganhar muito bem? É melhor morar perto de tudo ou ter tranquilidade? A escolha nem sempre é fácil, mas há pessoas que já se decidiram sem olhar para trás: deixaram trabalho ou a cidade, ou ambos, para fugir do estresse e ter mais qualidade de vida.

É um pouco da história de Cami Christofaro, 36 anos, que era executiva em um banco de investimentos em São Paulo, bem-sucedida profissionalmente, mas com tempo limitado para as demandas pessoais.

“Eu tinha uma vida de paulistana bem típica, estressada, que vive muito para o trabalho. Eu morava no miolo de onde tudo acontece, na Avenida Paulista, e não pegava trânsito, mas trabalhava por muitas horas. É o modus operandi da cidade, é o que todo mundo faz. Não almoçava, não me priorizava, levava muito trabalho para casa, mesmo entrando cedo e saindo tarde.”, lembra Cami, acrescentando que ficava em média 14 horas no banco.

ANSIEDADE

Então, o corpo começou a dar sinais de que algo não ia bem. “Passei a desenvolver muitos problemas de saúde por ansiedade, cansaço, exaustão. Às vezes eu era acordada de madrugada para mandar planilhas; em época de fechamento de resultados, era assim”, conta.

Para Cami, algumas pessoas até conseguem lidar bem com esse tipo de rotina, mas a questão é que ela não se sentia feliz, o estilo de vida não fazia sentido. Com um marido capixaba, resolveu considerar a proposta de deixar sua cidade e trabalho e vir para Vitória. A primeira mudança aconteceu há cerca de nove anos.

“Precisei ter muita coragem, mas vim. E me lembro de um episódio marcante, já na primeira semana. Às 7 horas, fui dar uma corrida na praia e nadar. Quando me dei conta, pensei: ‘não é real que eu possa fazer isso!’. Ali, entendi que tinha feito a escolha certa”, pontua.

No início, Cami continuou trabalhando como executiva, porém com um ritmo menos intenso do que o de São Paulo. Mas a mudança ainda não tinha sido total. Após ter suas duas filhas e fazer cursos, ela decidiu investir em uma nova carreira e hoje é coach na área de saúde. 

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Passei a cuidar mais do meu corpo, da alimentação, do espírito, das emoções e comecei a questionar por que não posso ajudar as pessoas a se transformar e a ter uma vida sem doenças como eu fiz comigo? Assim, há quase dois anos me dedico a essa nova atividade

Cami Christofaro
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VIOLÊNCIA

Recém-formada em Enfermagem, Lívia Santoro, 30 anos, estava ansiosa pela conclusão do curso, que ocorreu em julho, a fim de mudar-se de Vitória para a região do Caparaó. Com uma filha pequena, Thalita, de 8 anos, a sua maior preocupação era poder cuidar da menina em uma ambiente longe da violência dos grandes centros.

“Eu vivia sozinha com ela. Tinha medo de criá-la na cidade grande e, se eu esperasse ela ficar um pouco mais velha, talvez houvesse mais resistência para essa mudança. Sempre quis vir para cá; só precisava me formar. Minha mãe veio há cinco anos, assim que se aposentou, e a gente tem um projeto de um retiro de meditação e uma clínica terapêutica”, afirma.

Lívia Santoro optou por criar a filha, Thalita, 8 anos, na calmaria do Caparaó. (Acervo Pessoal)

Questionada sobre o aspecto financeiro com essa mudança, Lívia ressalta que a sua ideia é ter uma renda apenas o suficiente para viver tranquilamente com a família. Após a mudança para o Caparaó, ela já está dando aulas em um curso técnico de Enfermagem. “Trabalho poucos dias na semana e fico com tempo mais livre para os outros projetos pessoais. Tudo foi planejado em cima disso para que eu também tivesse tempo de acompanhar o crescimento da minha filha”, diz.

ESTRADA

Aloysio Tossano Seidel decidiu que deveria investir no sonho de ser cozinheiro. (Marcelo Prest)

A mudança na vida do designer gráfico Carlos Bao, 42, foi motivada pela transferência de seu marido de Vitória para Venda Nova do Imigrante, na região serrana. No início, Carlos permaneceu na Capital e ficava indo e voltando pela BR-262. Mas o estresse de pegar a estrada com frequência, somado ao gasto das viagens, o levaram a tomar uma decisão.

“Eu estava me colocando em risco e precisava resolver a história. O meu grande receio, ao me mudar, era a internet. Não pensei na possibilidade de perder clientes por conta da distância, porque muita coisa é possível resolver por skype, mas a velocidade da internet era limitada. Depois, a gente começa a pensar que precisa desacelerar. Não é necessário ficar ansioso se não conseguir responder um e-mail em cinco minutos. Responde em 10”, destaca Carlos.

E acrescenta: “Essa reeducação do tempo foi muito bom. Quando eu vim para cá, meu tempo melhorou. Me sinto mais produtivo, não há barulho, não pego trânsito. Caminho muito, ando de bicicleta. Tenho mais qualidade de vida.”

CARREIRA

Após uma carreira bem-sucedida na área de Tecnologia da Informação passando por São Paulo, Brasília e Vitória, e perto de se aposentar, Aloysio Tossano Seidel, 54, decidiu que deveria investir em um sonho da época de escoteiro, ainda na adolescência: ser cozinheiro ou, na nomenclatura mais sofisticada, chef.

Aloysio saiu de uma grande empresa e, o que era hobby em encontros da família e amigos, tornou-se profissão. Fez cursos e hoje atua como personal chef e também promove oficinas de gastronomia, inclusive para crianças. O ritmo de vida profissional, antes da mudança, era mais pesado, embora hoje também precise se dedicar muitas horas para preparar seus almoços e jantares.

“Mas tudo o que acumulei de conhecimento na área de projetos me auxilia bastante no meu novo trabalho. Consigo fazer um projeto e apresentar um custo mais viável para o cliente, sem perder qualidade, por exemplo”, explica.

Ao ser perguntado se voltaria à atividade anterior, Aloysio diz que já respondeu a um amigo sobre isso, falando que a única chance seria com um salário muito alto e fora do mercado. Ou seja, não é nisso que o chef anda pensando. “Hoje estou muito feliz com o que eu faço. O fazer comida e servir alguém é uma coisa que só consegue quando se tem muito amor”, conclui.

ANÁLISE | É preciso se conhecer antes de mudar

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A mudança pode acontecer motivada por inúmeras coisas. A pessoa pode estar em um ótimo momento da vida e quer fazer algo diferente; ou pode estar triste, pensando que chegou a seu limite, e quer mudar. O que tenho observado tanto em um quanto em outro perfil, é que a mudança não se dá rapidamente. Por mais que tome a decisão, a partir daí existe outra fase, que é a do planejamento, para que a mudança possa acontecer. E é importante saber que, ao tomar a decisão, não há garantias: pode dar certo ou errado. Hoje vivemos uma cultura, até mercadológica, de mudança de vida, que só depende de nós. Mas é preciso saber que a mudança pode ser dolorosa. Não quer dizer que não haja aprendizados e conquistas. Ter essa consciência ajuda porque, se não der certo, evita que a pessoa se sinta culpada e não queira mais fazer mudanças. Mudar é importante, principalmente se há sofrimento. É importante o autoconhecimento, refletir sobre sua condição. Ás vezes, é o corpo que dá sinais: gripes frequentes, insônia, aumento ou perda de apetite. Vivemos muito a demanda dos outros; o que dizem que é felicidade, sucesso.Precisamos avaliar o que é bom para nós, e se não estiver assim, mudar

Paula Valdetaro Rangel, mestre em psicologia
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