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Cabeleireiro que teve família destruída comenta ausência de Dondoni

Cabeleireiro que teve família destruída comenta ausência de Dondoni

Ronaldo Andrade foi o único sobrevivente do acidente ocorrido em 2008. Ele perdeu a esposa e os dois filhos; Dondoni é acusado de provocar a tragédia após dirigir embriagado pela BR 101

Publicado em 5 de novembro de 2018 às 18:32

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Ronaldo no dia em que recebeu a intimação para comparecer ao julgamento de Dondoni nesta segunda-feira (5). (Eduardo Dias)

O comerciante Wagner José Dondoni de Oliveira, que estava previsto para sentar banco dos réus, no Fórum de Viana, uma década após o acidente que pôs fim a vida de uma família, alegou que se sentiu ameaçado e não compareceu ao julgamento na manhã desta segunda-feira (05). Para o cabeleireiro Ronaldo Andrade, único sobrevivente da tragédia, faltou coragem a Dondoni. "Não adianta ele tentar fugir da responsabilidade, não tem salvação para ele", afirmou.

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Não queria vê-lo, foi até bom não ter vindo. Mas ele vai pagar, vai ter que aparecer de qualquer forma. Até achei que ele viria, mas como ele não é homem suficiente, não veio. Ele vai ser condenado. Prisão perpétua, se pudesse, mas como a Justiça não tem isso, o máximo de pena possível ele vai pegar

Ronaldo Andrade, único sobrevivente do acidente
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Apesar de Dondoni não ter comparecido, o julgamento foi mantido e a expectativa é de que termine ainda nesta segunda-feira (05). Dez anos depois de perder a esposa e os filhos, Ronaldo diz que confia na Justiça, embora ainda seja muito doloroso reviver as memórias daquele dia 20 de abril.

"Muito doloroso ouvir certas coisas, reviver isso tudo. Mas tenho certeza que hoje vamos sair daqui com a vitória. As provas são contundentes, vamos sair com essa vitória hoje", disse.

"MEU DEUS, SEGURA, PORQUE VAI BATER"

Ronaldo Andrade perdeu a esposa e os dois filhos . (Gabriel Lordêllo/Arquivo A Gazeta)

Ronaldo foi o primeiro a depor na manhã desta segunda-feira (05), e afirmou que Dondoni apareceu do nada na frente dele e que, poucos minutos antes da batida, se recorda de dizer para o filho: "Meu Deus, segura, porque vai bater". Depois disso, não se lembra de mais nada.

Quando questionado sobre qual era a revolta que ele sentia em relação à tragédia, disse: "Quer revolta maior do que perder meus filhos?"

O cabeleireiro prestou depoimento por mais de 50 minutos, bastante emocionado. Em alguns momentos, ele não conseguiu falar. Além de toda tragédia, Ronaldo contou que os pais dele morreram logo após o acidente de tristeza pela morte dos netos.

DEMORA

A longa espera pelo desfecho da história decorre dos vários recursos apresentados pelo réu até em cortes de Brasília. O processo só voltou a caminhar no 7 de junho deste ano, quando o Tribunal de Justiça do estado informou à 1ª Vara Criminal de Viana, uma vez que os últimos apelos apresentados ao Superior Tribunal de Justiça (STJ) haviam transitado em julgado - quando não há mais recursos a serem feito.

Começou então uma nova saga, uma vez que todos os juízes do Fórum de Viana se deram por impedidos ou suspeitos para julgarem o caso. Foi preciso que o Tribunal indicasse um magistrado, Romilton Alves Vieira Júnior. Logo depois houve dificuldades para encontrar o advogado do réu, que contratou novas pessoas para realizarem a sua defesa. Por último até uma testemunha de defesa se recusou a depor e, pode determinação do juiz, vai ser conduzida ao julgamento de forma coercitiva, ou seja, por um oficial de Justiça. E se for necessário, ele poderá pedir apoio da Polícia Militar.

ACIDENTE

O comerciante Wagner José Dondoni de Oliveira, segundo policiais rodoviários, visivelmente embriagado, dirigia a caminhonete S10, quando bateu de frente no Fiat Uno. (Gustavo Louzada/Arquivo A Gazeta )

No dia 20 de abril, a família de Ronaldo Andrade seguia para Guaçuí, no Sul do Estado, para uma visita aos familiares. No carro estavam a esposa, Maria Sueli Costa Miranda, de 29 anos, e os filhos Rafael Scalfoni Andrade, 14, e Ronald Costa Andrade, 4 anos. Na altura do km 304, próximo ao posto Flecha, em Viana, o carro em que viajavam, um Fiat Uno, guiado por Ronaldo, foi atingido pela S10 de Dondoni. Rafael morreu no local. Ronald, horas após ser socorrido. E a mãe, três dias depois. Ronaldo ficou muito machucado.

Dez horas após o acidente Dondoni foi submetido ao teste etílico, que apontou 6,7 decigramas de álcool por litro de sangue. O limite, na época, era de 2 decigramas de álcool por litro de sangue. O comerciante, que chegou a ser preso após o acidente, foi solto mediante o pagamento de fiança de R$ 2, mil obtido por intermédio de uma vaquinha realizada pelos amigos.

Dez quilômetros antes Dondoni já havia provocado outro acidente, ao jogar a S10 contra o carro de uma família de turista na altura de Seringal, que teve que desviar e acabou capotando. Ele fugiu do local sem prestar socorro. Um pouco antes ele entrou descontrolado em um posto de gasolina, em Guarapari, e quase colidiu com uma ambulância. Chegou a ser alertado pelos socorristas a não seguir viagem. No dia do acidente a Polícia Rodoviária Federal (PRF) já tinha sido acionada sobre um motorista que estava ziquezagueando pela pista, mas não chegou a tempo de impedir a tragédia.

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A pronúncia do comerciante - a decisão judicial que o levou à Júri Popular - ocorreu um ano após o acidente, em 2009, mas os recursos acabaram postergando o julgamento. Só este ano, após o Superior Tribunal de Justiça (STJ) informar que os recursos apresentados pelo réu não foram aceitos é que o processo foi retomado. Enfrentou ainda dificuldades para que um juiz assumisse o caso, já que todos os que atuam em Viana se deram como impedidos ou suspeitos. Foi necessário que o Tribunal de Justiça do Estado indicasse um magistrado, Romilton Alves Vieira Júnior, que marcou para o próximo dia 5 a audiência.

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