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Chuva no ES: a sexta-feira de transtornos de Norte a Sul do Estado

Chuva no ES: a sexta-feira de transtornos de Norte a Sul do Estado

Barrancos cederam, ruas ficaram alagadas e mais de 118 pessoas tiveram que deixar as casas onde residem por conta das fortes chuvas que atingem o Estado desde quinta-feira (8)

Publicado em 10 de novembro de 2018 às 00:46

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Ruas alagadas no bairro Cobilândia, em Vila Velha. (Ricardo Medeiros)

A forte e constante chuva que atinge o Espírito Santo desde quinta-feira (8) não deu trégua e gerou diversos transtornos em todo o Estado também nesta sexta(9). Aracruz, na região Norte, é o município com mais chuva em intervalo de 24 horas, segundo boletim da Defesa Civil Estadual. Entre as 17 horas de quinta às 17 horas desta sexta, a cidade registrou 183.67 milímetros.

COMO CALCULAR MILÍMETROS DE CHUVA

A medida, usada para medir o volume da chuva, é em milímetros por metro quadrado. É só imaginar um quadrado de um metro por um metro com um litro de água dentro. O líquido vai subir até a marca de 1mm. Claramente falando, um milímetro de chuva equivale a um litro de água por metro quadrado. Por exemplo: se choveu 50mm, seriam 50 litros de água em cada metro quadrado.

A unidade de medida utilizada para verificar os acumulados de chuva é o milímetro. (Reprodução | Somar Meteorologia)

COMO FUNCIONA A MEDIÇÃO

ARACRUZ, O RECORDE DE CHUVA

Por conta do volume de chuva, o município chegou a ter o sistema de abastecimento de água suspenso nesta sexta (9). Horas depois foi normalizado. No bairro Morobá, ao todo, 80 pessoas estão desabrigadas. Elas foram encaminhadas para uma escola municipal da região. As 20 famílias estão recebendo apoio de saúde, assistência social e alimentação, além de um espaço adequado para passarem a noite, de acordo com a prefeitura.

No distrito de Guaraná, houve queda de barreira na rodovia ES 010. A situação já foi normalizada e o tráfego de veículos foi liberado. Já na região de Santa Rosa, o trecho ES 124, que liga a sede do município ao distrito ficou alagado, o que impediu o tráfego.

Deslizamento de terra na ES 124, que liga a sede de Aracruz ao Distrito de Guaraná. (Divulgação/PMA)

De acordo com o Serviço Autônomo de Água de Esgoto de Aracruz (SAAE), a interrupção no abastecimento foi necessária devido a problemas técnicos na captação de água bruta. Uma equipe técnica esteve no local para resolver o problema.

COBILÂNDIA DEBAIXO D’ÁGUA

Vila Velha nem está no topo da lista das cidades em que mais choveu (veja ranking abaixo), mas o bairro de Cobilândia acumula transtornos e prejuízos. Mais de 30 pessoas da cidade estão fora de suas casas, sejam desabrigados ou desalojados, devido às chuvas.

Em uma operação nada comum, bombeiros e agentes da Guarda Municipal tiveram que resgatar grávidas e recém-nascidos que estavam internados na maternidade devido a alagamentos na unidade. Eles foram transferidos para outros hospitais.

 

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O Pronto Atendimento de Cobilândia esteve fechado durante todo o dia. A Prefeitura de Vila Velha informou que o Pronto Atendimento da Glória estava atendendo somente urgências e emergências nesta sexta-feira (9).

Nos demais setores, como o Centro Municipal de Atenção Secundária (Cemas) e unidades de saúde, o atendimento a população foi feita de forma limitada em razão da falta de acesso de servidores aos seus locais de trabalho. As consultas agendadas foram remarcadas pela equipe.

A DIFERENÇA ENTRE DESABRIGADOS E DESALOJADOS

A Defesa Civil Estadual, por meio do Corpo de Bombeiros, esclareceu a diferença entre as duas palavras. Desalojado é o termo utilizado para se referir quando uma família ou pessoa é alojada, por exemplo, em uma residência de parentes ou amigos.

“Desabrigado” é o termo utilizado para família ou pessoa que não tem para onde ir, e que necessita de ajuda dos poderes executivos para encontrarem um local temporário de abrigo.

O VELHO PROBLEMA DE VILA VELHA

Das cidades atingidas pela volumosa chuva, Vila Velha é a que registrou mais pontos de alagamentos. O Exército foi às ruas para ajudar as vítimas da enchente.

Uma mulher em estágio avançado de gravidez pediu ajuda a Defesa Civil, mas foi levada pelo Exército ao Hospital Himaba no município.

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Até Stand up peddle e trator para fugir da chuva

De stand up paddle a trator, os moradores da Grande Vitória começaram a usar a criatividade para sair de casa na chuva intensa e incessante desde a tarde desta quinta-feira (8).

A designer de unhas Rayanne Bona mora na Rua Jardim Mirim, em Cobilândia, Vila Velha, e registrou quando um homem passou de stand-up paddle e remando em frente à casa dela, na manhã desta sexta-feira (9).

"Até agora passou esse stand-up aqui em frente à minha casa, mas na rua de trás já passaram de caiaque e até em cima da tampa de um isopor. Aqui está horrível, nem nas chuvas de 2013 alagou tanto assim", conta Rayanne, que também disse que precisou utilizar um macaco para elevar o carro e evitar que a água entre no veículo.

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Moradores utilizam stand-up paddle e trator para sair de casa em alagamentos. (Reprodução)

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Morador perdeu carro em Vila Velha

Rodney Camilo, mora com o irmão, a cunhada e o sobrinho em Vista do Mar, em Vila Velha. “Passamos a madrugada vigiando. Enquanto um dormia, o outro ficava acordado. Perdi o carro, que estava em manutenção, mas dava para recuperar”, disse.

Até peixe apareceu no município

Por conta das ruas alagadas, rios e valões se misturaram às vias. O resultado foi esse: até um peixe apareceu em uma rua no bairro Rio Marinho.

Peixe é encontrado por internauta do Gazeta Online em Rio Marinho, Vila Velha. (Wagner Telis)

CARIACICA

Ao lado de Vila Velha, Cariacica também registra diversos transtornos. Por volta das 9h30, um barranco cedeu e atingiu uma casa na Rua Manoel Coutinho, no bairro Porto de Santana.

De acordo com o motorista Carlos Fernando Berthold Barcellos, de 50 anos, era por volta das 9h30, quando ele ouviu um forte barulho vindo da rua. "Eu saí correndo para ver o que tinha acontecido e vi que o barranco do vizinho tinha desabado", contou. Parte da varanda da residência foi atingida com o deslizamento. Carlos Fernando afirmou que, apesar do acidente, ninguém ficou ferido.

No bairro Alto Boa Vista, três casas foram interditadas pela Defesa Civil após o deslizamento de um barranco que obstruiu a passagem pela Rua Pedro Nolasco. Duas famílias deixaram as residências. No entanto, uma delas se recusou a sair do local.

O vigilante Elson Mourão, 52 anos, já teve que deixar o lugar onde mora com a esposa e a filha por conta de outro deslizamento. Dessa vez, disse que não vai sair, mesmo com a casa interditada. ( Carlos Alberto Silva - GZ)

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VITÓRIA

Uma parte de um talude - uma inclinação na superfície lateral de um aterro - na Ilha do Príncipe, em Vitória, deslizou e atingiu a varanda de uma moradora no início da tarde desta sexta-feira (9).

A chuva que atingiu os últimos quatro dias em Vitória é maior do que o previsto para novembro. A expectativa da Defesa Civil Municipal era de 180 milímetros no mês inteiro, mas só essa semana já foram contabilizados 220 milímetros de chuva na Capital.

De acordo com o coordenador da Defesa Civil Municipal, Jonathan Jantorno Rocha, seis mil pessoas estão em situação de risco iminente de deslizamento de terra. Desse total, 150 casos requer uma atenção maior por parte das autoridades.

“Nós temos quatro dias de chuva que computamos acima de 200 milímetros de água. Se essa chuva tivesse caído ao longo de todo o mês, a população não teria nenhum impacto. Os deslizamentos não iriam acontecer. O problema é o curto espaço de tempo com intensidade de chuva muito forte”, explicou Jonathan.

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6 mil pessoas em área de risco na Capital

Cerca de 6 mil pessoas estão em áreas de risco no município de Vitória, informou a Defesa Civil na tarde desta sexta-feira (09). 25 pontos em 257 setores foram mapeados e identificados com risco de grau 4.

Um deles é no bairro Santa Tereza, próximo ao morro do quadro. "Dois blocos rolaram e duas famílias precisaram ser removidas das residências para um abrigo municipal", afirmou.

A Defesa Civil orienta ainda que, em casos de movimentação do solo, rolamento de bloco ou trincas nas residências, moradores devem acionar o órgão e sair dos imóveis. Posteriormente, uma análise será feita para avaliar a estrutura e possibilidade de interdição da área.

Pistas alagadas no novo Aeroporto de Vitória

As intensas e constantes chuvas que estão sendo registradas na Capital também estão impactando o novo Aeroporto de Vitória. Algumas das novas taxiways, que são as pistas usadas pelas aeronaves para fazer deslocamentos e manobras, estão alagadas.

Com chuvas intensas, algumas pistas de taxiamento (taxiways) do Aeroporto de Vitória estão interditadas. (Fernando Madeira)

O problema inclusive já foi notificado aos pilotos por meio de comunicados. Segundo o aviso, as taxiways Foxtrot, Kilo, Delta e Juliet não devem ser usadas até as 23h59 do dia 13. Esse horário e essa data, entretanto, podem ser alterados a qualquer momento por meio de um outro Notam.

Escolas sem aulas

A Universidade Federal do Espírito Santo (Ufes), escolas municipais de Vitória e Vila Velha, escolas estaduais do Espírito Santo e outras faculdades do Estado suspenderam as aulas nesta sexta-feira (9).

Tribunais fechados

O TJES informou por meio de nota que devido às fortes chuvas estão suspensos os prazos processuais em todo poder judiciário nesta sexta-feira. Reforçou ainda, que também está suspenso o expediente nas unidades judiciárias dos juízos de Vitória, Vila Velha, Serra, Cariacica, Viana, no Tribunal de Justiça e na Corregedoria Geral de Justiça.

Já o TRT-ES suspendeu o expediente interno e externo, assim como os prazos processuais e as audiências nas varas da capital e do interior em todo o ES. O comunicado foi divulgado pelo portal do tribunal e a suspensão será publicada no Diário Oficial do dia 12 de novembro.

A assessoria de imprensa da Ordem do Advogados Brasileiros (OAB) informou que também houve a suspensão do expediente no órgão e reforçou que a pedido da ordem, o TRT-ES suspendeu os prazos processuais e o expediente por causa do temporal na Grande Vitória.

E VEM MAIS CHUVA

De acordo com o Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet), a previsão para este sábado (10) é de mais chuva para o Espírito Santo. O instituto afirma que há grande risco de alagamentos e transbordamentos de rios, grandes deslizamentos de encostas nas cidades. 

O alerta é válido até às 10h deste sábado (10). O Inmet destaca o grau de severidade como "grande perigo". É importante que os moradores da Grande Vitória e do Espírito Santo fiquem atentos aos níveis de água. As instruções são: desligar os aparelhos elétricos e quadro geral de energia, observar alterações nas encostas, permanecer em locais abrigados e, em caso de situação de inundação ou algo similar, proteger os pertencer da água envoltos em sacos plásticos.

Para mais informações ou pedido de ajuda, entrar em contato com a Defesa Civil pelo número 199 ou Corpo de Bombeiros pelo 193.

OPINIÃO DA GAZETA

Por que cargas d'água a situação não muda?

Pessoas desabrigadas, ruas alagadas, engarrafamentos, riscos de desabamento, aulas suspensas, bebês transferidos de hospital inundado, caos no trânsito. Por que cargas d’água, entra ano e sai ano, a situação não muda? Os relatos dos transtornos causados pelas chuvas chegam de todo o Espírito Santo, por meio das mídias sociais e das equipes de reportagem da Rede Gazeta, que está nas ruas desde os primeiros pingos. A sensação, diante de tantos estragos e prejuízos, é de abandono, de descaso e negligência das autoridades.

Chuva no Brasil, nesta época do ano, não é nenhuma novidade. Infelizmente, os problemas que vêm com ela também são velhos conhecidos. As ruas e bairros alagados são quase sempre os mesmos, os entraves à mobilidade também. Os mandatos passam, as administrações se alteram, e as deficiências de macrodrenagem e infraestrutura no Estado permanecem submersas na burocracia.

A Defesa Civil está nas ruas, o Exército também. Mas essas são frentes que atuam, principalmente, depois que os danos foram feitos. Do que o comerciante Roger Dias Bicalho precisa é de ação preventiva, planejamento, investimento continuado. Morador de Jardim América, em Cariacica, há 35 anos, ele afirma que “todo ano é mesma coisa”.

Desde que as chuvas começaram nesta semana, a população enfrentou uma série de apertos que poderiam ter sido, se não resolvidos, pelo menos amenizados de imediato. Na noite de quinta-feira (8), quando uma multidão demorou horas para chegar em segurança em casa, enfrentando alagamentos e engarrafamentos, onde estavam as guardas municipais? Por que não houve um esforço conjunto para reorganizar o trânsito, sinalizar desvios, ordenar o fluxo?

Onde estavam os gerentes dos sistemas de transporte coletivo estadual e municipal quando permitiram que passageiros de ônibus fossem abandonados nos pontos, ao ponto de correrem risco e atravessarem os mais de três quilômetros da Terceira Ponte a pé? Por que não alteraram linhas, estenderam horários de escalas de motoristas e cobradores? Apenas no dia seguinte é que atinaram para o óbvio.

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Como bem define o leitor Paulo Henrique, na seção Fala, Leitor!, “a chuva vem de cima, mas as responsabilidades são de quem está aqui embaixo”.

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