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Governo do Estado sabia dos riscos em delegacia desde 2015

Governo do Estado sabia dos riscos em delegacia desde 2015

Secretaria diz que está em busca de novo local para delegacia

Publicado em 13 de novembro de 2018 às 02:15

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Rachaduras no subsolo da delegacia que foram detectadas em laudo de 2015. (MPES/Divulgação)

Desde 2015, a Secretaria de Segurança Pública do Estado (Sesp) já sabia que a estrutura do prédio da Delegacia Especializada de Antissequestro, localizada na Enseada do Suá, em Vitória, estava comprometida e que havia o risco de desabamento.

Em março daquele ano, a gerência de Arquitetura e Engenharia da Sesp realizou uma vistoria no local e concluiu que ele deveria ser desocupado. “Recomenda-se o planejamento e adoção de medidas para a desocupação do imóvel, pois não é possível se aferir tecnicamente o lapso temporal de comprometimento total da estrutura, e não existe precisão de reforma”, foi dito no relatório.

No documento, foi informado ainda que a precariedade da estrutura deveria ser entendida como um alerta de que a residência não se encontrava em condições recomendadas para habitação e que devia ser tomada alguma medida para seu controle ou reparo. “A infraestrutura da parte dos fundos apresenta deformações consideráveis”, diz o texto, acrescentando sobres os desníveis: “Maiores que os valores permitidos”.

Foi dito ainda que “os pisos e algumas paredes dos cômodos, em contato diretamente com o solo, apresentam graves problemas de deformação. Fatos que indicam que tanto o piso quanto as paredes do nível inferior (em contato com o solo) não estão apoiadas sobre a estrutura da fundação, e sim diretamente sobre o solo. É provável que o solo tenha sofrido recalque e com isso os elementos apoiados sobre ele também se deslocaram”.

Desde então nada foi feito e os problemas estruturais foram só aumentado ao longo dos últimos três anos. É o que é possível constatar diante das fotos feitas na ocasião e as mais recentes, feitas pelo MPES. O resultado foi a interdição ocorrida no último dia 1º.

OUTRO LADO

O delegado José Monteiro Júnior, subsecretário de Estado de Inteligência da Sesp, informa que até antes da interdição ocorrer a Secretaria já estava procurando um novo imóvel para abrigar a Delegacia Especializada de Antissequestro.

Segundo ele, um chamamento (um tipo de licitação) foi publicado para alugar um imóvel. A expectativa é de que o processo seja concluído em janeiro do próximo ano, antes de vencer o prazo estipulado pela Defesa Civil, 1º de fevereiro. “Se isto não ocorrer, vamos fazer uma reforma na antiga Delegacia de Maruípe e transferir a Antissequestro para lá”, diz, revelando sua outra alternativa para solucionar o problema.

Em relação ao laudo de 2015, Monteiro relata que ele não foi definitivo sobre os riscos iminentes de desabamento. “Interditamos a parte de trás do imóvel, por recomendação dos engenheiros, que não foram taxativos em relação à parte da frente, ocupada pela delegacia, por não haver perigo iminente”, relata, destacando que o laudo atual da Defesa Civil deu prazo de 90 dias. “Se houvesse risco iminente, determinariam a saída imediata”, assinala.

Segundo Monteiro, desde 2015, por orientação dos engenheiros, vem sendo feito um tipo de monitoramento da estrutura do imóvel. “E neste intervalo de tempo não houve sinais de risco iminente, caso contrário, teríamos retirado todos do local”, pontuou.

Registros do afundamento do piso do andar superior. (MPES/Divulgação)

MARCAÇÕES ACOMPANHAVAM EVOLUÇÃO DOS DANOS

As marcas na parede do subsolo mostram o deslocamento do piso superior. Há pelo menos nove registros que vem sendo feitos desde 2015 pelos funcionários da delegacia. Segundo informações do MPES, eles seguem orientação do engenheiro que fez a vistoria para o governo em 2015.

Fato confirmado também pelo delegado José Monteiro Júnior, subsecretário de Estado de Inteligência da Secretaria de Segurança Pública (Sesp), como parte do monitoramento para controlar os danos da estrutura.

Para Jorge Emílio Leal, presidente do Sindicato dos Policiais Civis (Sindipol) são anotações que ajudam a disseminar o medo em quem precisa permanecer no local. Na delegacia, atuam um delegado, um escrivão, oito investigadores e agentes e um servidor cedido. “Todos trabalham com insegurança e muita preocupação. Há o risco de que tudo desabe porque a estrutura é precária. Se trabalha com temor”, destaca.

Ele pondera que os policiais, apesar de trabalhar num local insalubre e em risco, não podem reclamar. “Se não for trabalhar, vai ser punido. O mesmo acontece se porventura se indispor contra estas adversidades. A corda arrebenta do lado mais fraco”, diz.

Leal lembra ainda que, além dos policiais, há testemunhas que precisam prestar depoimentos e a população. “Todos expostos ao mesmo risco.”

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O presidente do Sindipol relata que esta não é a única delegacia em situação de precariedade. “Já fizemos várias inspeções que constataram, inclusive no interior, que a estrutura das unidades estão comprometidas. É a total falta de investimento por parte do Estado na Polícia Civil. Falta de pessoal, local adequado para trabalhar e até de equipamento”, assinala.

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