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Jerônimo Monteiro: uma avenida fantasma no Centro de Vitória

Jerônimo Monteiro: uma avenida fantasma no Centro de Vitória

Antigo polo comercial, Jerônimo Monteiro tem muitas lojas fechadas

Publicado em 12 de novembro de 2018 às 01:10

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Muitas lojas estão de portas fechadas na Avenida Jerônimo Monteiro, no Centro da Capital; comerciantes sofrem com crise e reclamam de aluguéis altos. (Ricardo Medeiros)

A Avenida Jerônimo Monteiro, no Centro de Vitória, que já foi um dos principais polos comerciais da Capital, hoje enfrenta um esvaziamento. Mesmo à luz do dia e em horário comercial, dezenas de lojas estão com as portas de aço abaixadas. Entre as justificativas para esse cenário decadente, os comerciantes apontam a crise econômica e a insegurança no bairro.

“O Centro de Vitória morreu. Logo que abrimos, há 18 anos, era um outro tempo. Uma época de ouro. Para você ter ideia, eu tinha 10 vendedores, hoje só tenho quatro. Só continuo porque estou estruturado no mercado e tenho outras lojas de roupas”, comentou o empresário José Antônio Araújo Acker.

No passado, o movimento era tão grande que a Jerônimo Monteiro era conhecida por ter locutores “brigando” para atrair a atenção dos clientes que passavam pelas calçadas. Há 16 anos nessa função, Rivaldo Gomes Filho, 47, lembra que a concorrência era disputada. Segundo ele, quando começou a trabalhar no ramo, eram, ao todo, seis locutores espalhados pela avenida. Hoje a realidade é diferente: só dois sobreviveram.

“Antigamente tinha um que ficava do outro lado da rua, de frente para a loja que eu trabalho. Ele abaixava o preço de lá e eu abaixava o preço daqui. Eu ainda consigo atrair alguns clientes porque faço promoção relâmpago. A saia que custa R$ 30, faço a R$ 20. O desconto é na hora.”

Locutor, Rivaldo diz que antes havia mais concorrência. ( Ricardo Medeiros )

Outro desafio para os comerciantes é ter dinheiro para manter o aluguel em dia. Uma corretora foi acionada pela reportagem, que informou que para alugar uma loja de 350 metros quadrados é preciso desembolsar R$ 15 mil por mês.

“Hoje meu aluguel está caro para mim. Já teve tempo que eu achei mais barato. Poucos comerciantes sobraram no Centro. A gente sempre espera que a situação vai dar uma melhorada”, afirmou o empresário Akram Munzer, 66, que há 38 anos tem uma loja de roupa masculina e feminina na Jerônimo Monteiro.

Crise

Para o presidente da Federação do Comércio do Espírito Santo (Fecomércio-ES), José Lino Sepulcri, essa situação é um reflexo da crise econômica. Segundo ele, o desemprego faz parte dessa recessão e contribuiu para o enfraquecimento dos estabelecimentos.

“Mais de 98% das empresas capixabas são micro e pequenas empresas que já têm suas limitações. Levando em conta que o poder de compra das famílias diminuiu assustadoramente, a insegurança jurídica e a política econômica, o comércio vive uma instabilidade que faz com que os empresários do Centro de Vitória fechem seus estabelecimentos gradativamente.”

Já o presidente da Associação de Moradores do Centro de Vitória, Lino Feletti, atribui o esvaziamento da Jerônimo Monteiro à saída de diferentes instituições públicas da região. “Isso começou quando a Assembleia Legislativa foi para a Enseada do Suá. O último prédio a sair foi o Sebrae. As pessoas que visitavam esses lugares pararam de vir ao Centro.”

COMERCIANTES SOFREM COM A INSEGURANÇA

Além do movimento reduzido, os comerciantes da Avenida Jerônimo Monteiro, no Centro de Vitória, ainda precisam encarar outro problema: a questão da violência. No último dia 30, o segurança de uma loja foi assassinado a tiros na avenida. A suspeita é que o bandido cometeu o crime para se vingar do profissional, que no dia anterior teria encontrado os assaltantes de uma joalheria e entregue à polícia.

Segundo o presidente do Sindicato dos Comerciários (Sindicomerciários-ES), Rodrigo Oliveira Rocha, é preciso ter mais policiamento na região para inibir a ação de bandidos. “O Centro está muito abandonado. Além da crise econômica que os comerciantes já lidam, ainda tem a insegurança, a questão dos assaltos e arrombamentos. O bairro ainda tem uma população de rua enorme que acaba afastando o consumidor que prefere fazer suas compras em outros lugares”, pontuou.

A loja de José Antônio Araújo Acker foi alvo de bandidos e teve prejuízo de R$ 4 mil. ( Ricardo Medeiros )

Há sete meses, a loja de roupas de José Antônio Araújo Acker foi alvo de bandidos. “Eles forçaram a porta de aço com uma barra de ferro. Passaram por um buraquinho de nada. Roubaram mercadorias e o dinheiro que estava no caixa. Só de prejuízo foi cerca de R$ 4 mil”, lembrou.

O comerciante Akram Munzer, 66 anos, também dono de uma loja de roupas, pede por mais segurança. “É preciso ter mais policiamento na avenida”

A auxiliar de administração Grazielly Mondoni, de 24 anos, conta que a loja de instrumentos musicais onde trabalha nunca foi assaltada, diferente de estabelecimentos vizinhos que já passaram por esse tipo de perrengue. “Apesar dessa situação, o Centro tem suas vantagens. As pessoas não sabem, por exemplo, que nos sábados não é cobrado o estacionamento rotativo e muitas lojas agora são climatizadas”, comentou.

Grazielly, que trabalha em uma loja de instrumentos, diz que vizinhança já foi assaltada. ( Ricardo Medeiros )

Patrulhamento

Segundo a Polícia Militar, patrulhamentos preventivos são realizados no Centro de Vitória diariamente com visitas tranquilizadoras ao comércio, abordagens a coletivos, veículos e pessoas em via pública. Para levar mais segurança aos comerciantes e moradores, a PM disse também que reforçou as operações durante a madrugada. Em casos de suspeita ou ocorrência de crimes, a população deve acionar o Ciodes pelo número 190.

A PM ainda informou, por meio de nota, que mesmo com ações preventivas, “a impossibilidade de onipresença abre janelas de oportunidades que são aproveitadas por criminosos”. Segundo o órgão, a eficácia na segurança pública exige a participação da população que pode auxiliar o trabalho da polícia denunciando ações suspeitas no bairro por meio do telefone 181.

PREFEITURA DIZ PROMOVER AÇÕES PARA INCENTIVAR MOVIMENTO NO CENTRO

Os moradores do Centro pedem a revitalização da região para reverter a situação da avenida. O presidente da associação, Lino Feletti, defendeu que é preciso investir no bairro como um atrativo turístico e cultural. A prefeitura disse que investe em ações para que pessoas frequentem a região.

O secretário municipal de Desenvolvimento, Henrique Martins, pontuou que a revitalização é um conjunto de diferentes ações para incentivar as pessoas a frequentarem o Centro, como o Viradão Cultural e a reinauguração da Escola Técnica Municipal de Teatro, Dança e Música (Fafi). Ainda segundo ele, para estimular o comércio, os empresários pagam menos impostos municipais. Já em relação a segurança, Henrique disse que a Guarda Municipal faz monitoramento constante na região.

Fios

Feletti reclama também dos fios de energia aparentes nos postes. “Sonhamos é que os fios passem a ser subterrâneos para valorizar a questão arquitetônica.”

A Prefeitura de Vitória disse que, em parceria com a EDP e o Ministério Público, tem buscado soluções para a redução das fiações nos postes. A administração municipal informou que fez o remanejamento e colocou subterrâneos os fios que estavam na frente da Casa Porto e do Convento São Francisco.

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