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Morte indigente: cemitério tem ala para os sem identificação

Morte indigente: cemitério tem ala para os sem identificação

Ala em Maruípe é destinada aos sem identificação ou família

Publicado em 2 de novembro de 2018 às 00:54

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Lado a lado, em covas identificadas apenas por números: essa é a destinação final dos indigentes, pessoas sem identificação ou até recusadas por suas famílias. (Marcelo Prest)

 

Eram 14 horas quando o rabecão da Polícia Civil chegou ao Cemitério de Boa Vista, em Maruípe, Vitória, na última quarta-feira. Lá só os coveiros e o administrador os aguardavam. As covas, todas numeradas, já estavam abertas. Rapidamente os quatro caixões foram retirados do veículo e enterrados.

Não havia família, amigos ou conhecidos. Nem flores, coroas, lápides ou cruzes. Apenas um número, checado e confirmado, para identificação nos registros. O único som local era o da risada das crianças da escola vizinha, que teimavam em atrair a atenção dos coveiros. Assim é um enterro indigente.

Na ala a eles destinada não há vestígios das sepulturas. Apenas o mato que crescido, favorecido pelas chuvas, apesar das constantes roçadas, como relata o administrador do cemitério, Nelson Torres.

ABANDONO

Lá quem vai compartilhar o espaço, lado a lado, nos próximos 12 anos, são pessoas que morreram e não foram identificadas pela polícia. Passaram uma temporada na geladeira do Departamento Médico Legal (DML) e por elas ninguém procurou.

Há ainda aqueles que foram identificados, mas que a família se recusou a reivindicar seus corpos, ou ainda os que nem familiares possuem. Cabe ao Estado dar uma destinação final a eles. Num caixão simples, levados pelo rabecão.

Antes de serem enterrados foram fotogrados, tiveram suas digitais recolhidas e feitos exames de DNA. Alguns podem ser provas em processos criminais ou mesmo virem a ser reconhecidos no futuro. Se isso não ocorrer, em 12 ou 13 anos, suas covas vão dar espaço a outros.

Por mês, cerca de quatro corpos nesta condição são enterrados em Vitória. O mesmo ocorre em outros cemitérios públicos da Grande Vitória.

Para o administrador Nelson, esta ala representa o extremo da marginalidade social. “Por eles não há ninguém. Não estavam inseridos em um contexto social ou não foram aceitos ou reconhecidos por suas famílias”, pondera.

No mesmo cemitério há ainda um outro extremo, o ossário público. Para lá são destinados a maioria dos restos exumados (ossos) após o período legal – em geral cerca de 5 a 6 anos – e que não foram reivindicados pelas famílias.

São levados para uma enorme caixa de cimento que acomoda todos, sem nenhuma separação, na destinação final, onde o tempo e os produtos químicos fazem o seu trabalho. “Poucos compram nichos perpétuos, mas a maioria nem procura o que restou dos parentes”, relata Torres.

OS NÚMEROS DO FIM

Cariacica

Cemitérios

São oito públicos e um privado, com 130 enterros por mês, em média. Quatro anos após o enterro a família pode requerer a perpetuidade. Cobra R$ 14,21 por sepultamento em terra e R$ 28,41 em túmulo perpétuo.

Serra

Cemitérios

São seis públicos e um privado. Desde 2009 não vende mais túmulos perpétuos. Faz em média 150 enterros por mês e por eles cobra R$ 52,25.

Vila Velha

Cemitérios

São seis públicos e um privado. Realiza por mês, em média 150 enterros. Desde 2013 o Código de Postura proíbe os jazigos perpétuos. A cada 3 ou 4 anos o corpo é exumado e embalado e a cova reaproveitada. É cobrado R$ 60 para o sepultamento.

Vitória

Cemitérios

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Possui dois cemitérios públicos, mas sepultamentos só ocorrem em Maruípe. Enterra, em média, 100 pessoas por mês. As taxas variam muito de acordo com os vários tipos de serviços oferecidos. Em Maruípe ela varia de R$ 172,29 a R$ 44,25.

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