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Índice de suicídio no interior do Espírito Santo preocupa

Índice de suicídio no interior do Espírito Santo preocupa

Taxas de mortes superaram as da Região Metropolitana

Publicado em 11 de novembro de 2018 às 00:37

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Em 2017, cerca de 200 pessoas cometeram suicídio no Espírito Santo. Foi registrada uma morte a cada dois dias no Estado segundo informações da Secretaria Estadual de Saúde (Sesa). O número de tentativas, entretanto, chega a casa dos milhares: em 2017, foram 1.999 e, em 2018, já são 1.949. Chamam a atenção os índices do interior, que nos últimos três anos preocupam, sendo superiores muitas vezes aos da Região Metropolitana.

A Sesa divide o Espírito Santo em quatro regiões da saúde. Em 2016, todas as taxas de mortes por suicídio por 100 mil habitantes foram maiores nas áreas interioranas: no Norte, o índice foi de 3,72; no Centro, 4,67; e no Sul, 5,25. Já a Região Metropolitana teve taxa de 3,07.

No ano anterior, 2015, duas regiões tiveram número superiores às 4,67 mortes por 100 mil habitantes da área mais urbana: o Norte, que contabilizou 6,11 e o Sul, com 5,29. Apesar dos dados de 2017 mostrarem aumento na Região Metropolitana (taxa de 5,23, a maior de todos no ano passado), a situação no interior preocupa especialistas e a atenção as áreas mais rurais se mantém.

“A população rural está ficando invisível na atenção à saúde mental. Se fala muito dos casos da cidade grande. Muitos municípios não possuem um rede de saúde mental organizada. O poder público precisa se articular e dar respostas mais concretas na área de prevenção ao suicídio”, analisa a psicóloga Keli Lopes Santos.

Infográfico sobre o número de suicídios no Espírito Santo. (Genildo Ronchi)

Alguns fatores são apontados como causa do alto índice de suicídio no interior, como o uso de agrotóxicos nas lavouras e consumo de bebida alcoólica. Entretanto, especialistas compreendem conflitos de gerações em ambientes sem diálogo e compreensão também como motivos, principalmente entre as pessoas mais novas.

“Acontece que o ‘velho mundo’ é mais preconceituoso, por exemplo, e o ‘novo mundo’ que está nascendo é mais livre. Então, imagina um menino ou menina que nasce com a cabeça mais aberta, de olho na internet, algumas vezes homossexual ou transexual, e tem a família preconceituosa”, aponta a filósofa Viviane Mosé.

Abandono

Mas há outras questões familiares que também atingem a população interiorana. O supervisor de cargas Aloísio Santos, 39 anos, tentou suicídio em 2017. Ele mora em Muniz Freire, na região Sul do Estado, e desenvolveu depressão. Tentou pôr fim a angústia causada pelo abandono materno ainda criança e que tomou proporções maiores no ano passado.

“Eu estava me achando péssimo. Foram três anos assim. Foi quando, em uma briga em casa, decidi acabar com minha vida. Não via solução para meus problemas”.

Desemprego

A coordenadora da vigilância epidemiológica de acidentes e violências da Sesa, Edleusa Cupertino, pontua que o aumento de número de mortes na Região Metropolitana no ano passado e nas tentativas em 2018 será melhor analisado melhor somente no próximo.

“É importante analisar o pico do ano em um conjunto histórico e sócio econômico e não isoladamente. Temos que esperar os dados de 2018. Quem sabe a taxa de desemprego está impactando no suicídio? Precisamos investigar”, disse.

AJUDA

Como ajudar

Converse com a pessoa que apresenta indicativos suicidas. Ouça-a com a mente aberta e ofereça seu apoio.

Serviços de saúde

Incentive a pessoa a procurar ajuda de profissionais de serviços de saúde mental, de emergência ou apoio em algum serviço público.

Centro de Valorização da Vida (CVV)

Realiza apoio emocional e de prevenção do suicídio no telefone 188.

ENTREVISTA: "Minha filha agora é meu porto seguro"

Vanize Espindola, de 40 anos, é pedagoga, casada e mãe de uma filha de 5 anos. Mora em Santa Maria de Jetibá, interior do Estado. Possui uma doença genética que a fez nascer com a ausência de alguns dedos da mão, lábios leporinos e dificuldades de fala. Passou por 25 cirurgias. Ela sentiu na pele o preconceito por causa de suas diferenças. Por conta do sofrimento, quando adolescente, tentou o suicídio. Em entrevista, ela conta sobre a volta por cima.

Quando tentou suicídio e por quê?

Fui estudar em uma escola particular quando nova, onde ninguém conversava comigo. Foi onde todo meu tormento começou. A minha depressão começou pelo bullying. Ficava isolada. Tenho problema na dicção e as pessoas riam. Chegando em casa, eu só chorava, me isolava no banheiro. Foi quando por diversas vezes tentei me matar.

Como foi sua gravidez?

Estou casada há 15 anos. Protelamos isso até 2013, quando eu acabei engravidando acidentalmente, em uma troca de anticoncepcional que estava me fazendo muito mal. No primeiro momento, foi desesperador para mim. Chorava muito. Não queria sair do quarto. Tinha muito medo dela nascer com a mesma síndrome. Nessa época, comecei a fazer tratamento com um psiquiatra que me indicou a fazer arteterapia.

Ainda sofre preconceito?

Minha filha (Vitória, 5 anos) hoje é meu porto seguro, a realização de um sonho. Ainda continuo sofrendo preconceitos, tanto que geralmente andamos eu, ela e minha irmã e todo mundo se direciona a minha irmã. Isso machuca muito. É uma cicatriz que ainda sangra internamente.

O que te motiva?

Sou assessora do Centro de Inclusão da Secretaria de Educação de Santa Maria de Jetibá. O meu trabalho hoje é uma terapia constante, de lutar pelo outro, de ajudar o outro a entender seus direitos.

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