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Arte na areia da Praia da Costa encanta e garante sustento de capixaba

Arte na areia da Praia da Costa encanta e garante sustento de capixaba

Artista capixaba começou a fazer esculturas na areia quando ainda era criança para sobreviver no Rio de Janeiro; hoje ele encanta pessoas na Praia da Costa

Publicado em 23 de dezembro de 2018 às 21:19

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Marcos da Silva Picoreti. (Mariana Martinez)

Nascido em Vitória, Marcos da Silva Picoreti morou até os 11 anos em Cariacica, quando, mesmo ainda sendo uma criança, saiu de casa para morar no Rio de Janeiro. Na verdade ele foi parar na capital fluminense de uma forma totalmente sem rumo. Entrou no trem em Cariacica, desembarcou em Valadares-MG, de lá pegou uma carona em um caminhão que ia para Juiz de Fora-MG, Três Rios e finalmente no seu destino final. Lá, Marcos ficou até 2015. Passou por muitos perrengues, mas viu aflorar um dom que lhe garantiu a sobrevivência: as esculturas de areia.

Foi olhando para areia, local onde Marcos fazia inicialmente de sua casa, que ele decidiu que poderia dar molde aos grãos. Molhando a areia era possível formar animais, paisagens e gente. E assim o capixaba foi expondo seu dom na Praia de Copacabana.

Há pouco mais de dois anos ele decidiu voltar ao Espírito Santo e vem encantando as pessoas em terras capixabas. Hoje Marcos fixou um ponto para expor sua arte: na Praia da Costa, em Vila Velha. Mas já passou por Guarapari nos últimos três carnavais. 

"Eu nunca tive professor, nem fiz curso. Aprendi a fazer as esculturas na prática. No Rio de Janeiro morei na rua, depois em um abrigo para crianças e sempre me mantive com o dinheiro que ganhava das pessoas que passavam na praia, paravam, viam minha arte e deixavam uma contribuição. Tenho uma filha de 14 anos que mora no Rio. Mas agora quero ficar pelo Espírito Santo mesmo. Recentemente fui pai de novo e agora quero construir uma casa para morar com meu filho e minha mulher", conta. 

Na Praia da Costa, Marcos faz as esculturas durante à noite, para fugir do Sol quente desse período do ano. "Em uma noite eu faço todas as esculturas. Dessa última vez fiz o Convento da Penha e alguns bichos. Gosto de colocar pontos turísticos do Estado, porque tem muitos turistas aqui no Espírito Santo e eles gostam muito das minhas esculturas. Os mineiros, então, são os que mais reparam. Sempre tiram uma foto, perguntam como faço. É bom sentir que valorizam o trabalho da gente."

Picoreti oferece aulas para quem deseja aprender a fazer as esculturas. No entanto não coloca valores. "Esses dias ensinei alguns alunos da Apae que vieram aqui. As crianças gostam muito, ficam sempre curiosas. Aqui na Praia da Costa eu não faço rosto de pessoas porque a areia é grossa e não fica legal. Por isso faço animais e lugares", explica.

Marcos usa alguns corantes para dar cor à areia. Para seu trabalho ele tem espátulas e uma pá. A areia precisa estar molhada para a escultura se firmar. E apesar de ficar exposta na praia, ele garante que as pessoas não destroem a arte quando ele não está por perto.

"De dia sempre tem gente conhecida aqui e durante à noite tem o cara que fica vigiando os brinquedos montados na praia, e aí ele olha para mim. Os próprios moradores de rua tomam conta também. Às vezes o pessoal que joga bola acaba acertando, mas no mais eu mesmo que desfaço as esculturas para fazer outras", acrescentou o artista. 

Trabalho reconhecido

Se você já passou caminhando no calçadão da Praia da Costa certamente já viu o trabalho do Marcos. As pessoas que passam por ali inevitavelmente gastam um tempinho para olhar, tirar fotos e até conversar com o autor das esculturas. E elogios não faltam ao artista capixaba.

"É incrível o que ele faz. É uma inteligência sem medida. Isso deixa a nossa praia mais valorizada. Acho que as autoridades poderiam valorizar também o trabalho dele, porque eles está divulgando nosso Estado", disse Rita de Cássia Oliveira, 32 anos. O filho dela, Samuel Oliveira, de 11, também se encantou.

"Eu não sabia que era esse moço que fazia esses desenhos. Eu queria ver ele um dia fazendo, deve ser muito legal", disse o garoto que mora em Vila Velha.

Natural de Belo Horizonte, o mecânico autônomo Wagner Freitas, 46 anos, está sempre na Praia da Costa. Já conhece o artista Marcos, mas reconhece que ele precisava ser melhor valorizado.

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"Já moro no Espírito Santo há muito tempo e sempre vejo o trabalho dele aqui na praia. É incrível, todo mundo fica encantado. Mas ele precisava ter mais apoio, é preciso apoiar mais a cultura e apoiar nossos artistas. Eles merecem todo nosso reconhecimento", conclui. 

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