A insegurança que reside na Enseada do Suá, em Vitória, tem assustado moradores. São episódios de invasões a residências, furtos, consumo de drogas nas ruas e, diante dessas ocorrências, muitos se sentem vulneráveis. Até o portão da antiga Delegacia Antissequestro (DAS), que ocupava um imóvel no bairro até o mês passado, foi levado por ladrões.
A casa que servia como sede da delegacia, e que foi desocupada por problemas estruturais, é um reflexo da falta de segurança. Ao circular pelo imóvel, os sinais de depredação estão nas portas de vidro quebradas para facilitar o acesso aos cômodos em busca de objetos de valor. O teto de gesso foi destruído para arrancar a fiação, produto que é de fácil comercialização. Cubas do banheiro também foram retiradas. Em duas áreas internas do imóvel, pneus queimavam indicando que a invasão tinha ocorrido havia pouco tempo.
Um morador, que prefere não se identificar, ressalta que, após a denúncia de que havia risco da casa cair e a saída emergencial dos policiais da DAS, o imóvel ficou totalmente abandonado. "Agora, está sendo depredada, já arrombaram a porta, fugiram com alumínios e essa situação causa preocupação a todos", afirma ele, acrescentando que já procurou a Secretaria de Estado da Cultura (Secult), responsável pelo imóvel, mas não foi atendido. O morador queria pedir providências.
A casa foi adquirida com recursos públicos por R$ 3 milhões, para ser transformada em estacionamento para o Cais das Artes. As obras do empreendimento se arrastam desde 2010 e o imóvel permaneceu de pé. Agora, o Instituto de Obras Públicas do Espírito Santo (Iopes) diz que vai demolir "o mais rápido possível", mas sem estabelecer prazo.
A demolição do imóvel é uma das reivindicações dos moradores, segundo Eduardo Borges, presidente da associação do bairro. "Exatamente para não servir de abrigo para pessoas em situação de rua e usuários de drogas. A falta de policiamento e de segurança na Enseada hoje é um absurdo! Algumas casas já foram arrombadas três, quatro vezes. Há escritórios que também já foram alvo", conta.
A professora e poetisa Laurany Marcia Matiello Redins acrescenta que há muito tempo os moradores da região têm convivido com a marginalidade. Imóveis desocupados pelos proprietários são invadidos e passam a ser moradia de dependentes químicos, assim como áreas comuns, a exemplo de um trecho da praia, ficam tomadas por usuários de drogas, afastando a comunidade.
"Há pouco tempo um rapaz foi preso e disse que a Enseada era como um playground. Para ele, as pessoas que vivem aqui não precisam do que têm, então roubava e depois ia gastar no shopping", lembra Laurany.
Ela observa que a situação é tão crítica que, às vezes, para ir à casa de um vizinho que mora na outra rua é preciso se deslocar de carro, a fim de evitar um assalto. "Aqui já fizeram até aquela festa do 'Mandela' (baile funk clandestino, em geral com uso de drogas e porte de armas)."
Questionada sobre o problema no bairro, a assessoria da Polícia Militar informa que "a Enseada do Suá conta com patrulhamento preventivo diuturno." Além disso, afirma que situações envolvendo moradores em situação de rua e usuários de drogas são de responsabilidade do município. "Vale lembrar que a Polícia Militar só realiza detenções em flagrante delito."
A secretária municipal de Assistência Social, Iohana Kroehling, garante que a prefeitura faz um trabalho sistemático de abordagem social, monitorando a Enseada do Suá e outros bairros de Vitória. Nesta atuação, as pessoas são acolhidas, há encaminhamento para abrigamento e qualificação profissional. Contudo, elas não podem ser obrigadas a se submeter a esse atendimento.
"Ofertamos esses serviços para reinserção dessas pessoas à família, à sociedade e ao mercado de trabalho, mas elas precisam aceitar o encaminhamento da assistência social, até mesmo para tratamento de saúde mental em casos como o de usuários de drogas. Mas nossa ação é sistemática para convencimento; a conquista tem que ser diária", conclui a secretária.
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