> >
Poder do tráfico no ES: casamento na prisão para planejar crimes

Poder do tráfico no ES: casamento na prisão para planejar crimes

Criminosos ligados ao PCC se reuniram em presídio de segurança máxima para debater tráfico

Publicado em 6 de dezembro de 2018 às 00:45

Ícone - Tempo de Leitura 0min de leitura
Presídio de Segurança Máxima II, em Viana. (Carlos Alberto Silva | Arquivo | GZ)

Em agosto deste ano, um casamento foi bancado e organizado dentro de um presídio de segurança máxima, em Viana, o que permitiu que lideranças das principais facções criminosas que atuam no Espírito Santo pudessem se encontrar. Durante a cerimônia os integrantes se reuniram livremente para trocar informações. Nenhum dos detentos usava uniforme de presidiário.

Este é um dos exemplos não só do poderio, mas da influência e capacidade de articulação das organizações criminosas Primeiro Comando de Vitória (PCV) e o seu braço armado, o Trem Bala, ambas ligadas ao Primeiro Comando da Capital ( PCC), cujas principais lideranças estão reclusas mas ainda continuam dando ordens e comandando suas “empresas” de dentro do presídio.

FORAGIDO

Um dos seus principais membros, que ainda está foragido, Fernando Moraes Pereira Pimenta, o Marujo, foi um dos alvos da megaoperação nacional realizada pelo Ministério Público Estadual (MPES) em parceria com a Polícia Militar, que visa capturar os líderes de facções no país. Contra eles há vários processos que tramitam na Justiça Estadual de onde a reportagem obteve as informações.

No último deles já são réus, com prisões decretadas no último dia 29 de novembro, 19 membros do Trem Bala, o braço armado do PCV. Dentre elas está o Marujo e a liderança maior, o fundador do PCV no Estado, Carlos Alberto Furtado da Silva, o Beto, que possui ainda outros cinco apelidos. Preso, ele comanda o Complexo da Penha, em Vitória, de dentro da Unidade Prisional Máxima II, em Viana.

Beto é descrito no processo como uma pessoa “articulada, inteligente, com estratégias claras de alianças com outros detentos”. Dentro do sistema prisional é tido como alguém com muito dinheiro, supostamente em nome de outras pessoas.

Lança mão de “catuques” - bilhetes trocados entre presos - e de cartas, de contatos com familiares que o visitam e até dos celulares que a ele chegam, mesmo dentro da prisão, para controlar com mão de ferro as lideranças a ele ligadas.

EXTREMA ORGANIZAÇÃO

Uma verdadeira empresa ou sociedade, como é descrita no processo, comandada por diretores, gerentes, responsáveis pela segurança dos pontos de preparação e venda de drogas, as conhecidas “bocas de fumo”, e, por fim, dos encarregados pela comercialização das drogas.

Tudo funcionando a pleno vapor, comandado por Beto, com propósito de explorar o tráfico de drogas, contando até com diversos fornecedores de materiais ilícitos fora do estado. O curioso é que boa parte das principais lideranças, cerca de 83, estão presas.

Aspas de citação

Eles decidem quem vive ou morre e agem com objetivos e metas comuns, buscando o lucro fácil do tráfico de drogas

Processo na Justiça Estadual
Aspas de citação

E é de lá que saem as decisões que afetam as comunidades da Grande Vitória. Reflexos que foram sentidos ao longo do ano nas comunidades de Alagoano, Caratoíra, Piedade, Fonte Grande e Itararé, ficando apenas em alguns exemplos. Por lá a disputa de território, aliada à retirada de antigas lideranças, com homicídios, tornou a população refém. Ônibus não subiam, escolas e unidades de saúde fecharam.

Uma das cartas constantes em processo, por exemplo, determinava a execução de um outro preso que havia acabado de deixar o sistema.

GREVE

Outro exemplo do poderio destas facções ocorreu durante a greve da Polícia Militar, em fevereiro de 2017, quando os detentos se mobilizaram para assumir o controle dos presídios. Os presos chegaram até a se rebelar com a direção do presídio quando foram informados que não poderiam trocar “catuques” com as lideranças, como Beto.

Segundo informações do processo, estas lideranças “levam a desordem e a intranquilidade pública à população” , por meio de ações criminosas. “Decidem quem vive ou morre e, juntamente a outras células criminosas (facções), agem unidos, com objetivos e metas comuns, buscando o lucro fácil do tráfico de drogas. Em suma, formam uma sociedade de grande periculosidade”.

O QUE DIZ A PM

O diretor de Inteligência da Polícia Militar, Douglas Caus, confirma que as organizações criminosas denominadas de Primeiro Comando de Vitória (PCV) e Primeiro Comando da Capital (PCC) têm atuado no território capixaba, mas destaca que elas estão sendo acompanhadas e monitoradas pelos órgãos de investigação.

Segundo Caus, a PM, a Polícia Civil, junto com a inteligência da Secretaria de Estado da Segurança Pública (Sesp) e o Ministério Público Estadual realizam com frequência levantamentos e investigações sobre estas organizações. “São a partir destas informações que vão sendo traçadas as estratégias de combate a atuação destas facções e desencadeadas operações. Muitas delas resultaram na prisões de lideranças”, informou.

O trabalho conta ainda com a troca de informações com o setor de inteligência prisional, da Secretaria de Justiça (Sejus), sobre os presos detidos e as informações que eles repassam para as comunidades.

De acordo com o diretor, o Estado tem feito investimentos expressivos na área de tecnologia e de qualificação profissional para melhorar o monitoramento e atuação das polícias no combate as facções e organizações criminosas.

Na avaliação de Caus, este é o caminho para combater a atuação de facções e de seus reflexos nas comunidades. 

Aspas de citação

O que a boa técnica nos dita é que investir em qualificação dos agentes de inteligência, promover a integração das forças de investigação tanto estadual quanto a nacional, investir em novas tecnologias e convergir fortemente na parceria com a Polícia Civil e o Ministério Público é o caminho para se enfrentar de maneira eficiente as organizações criminosas

Aspas de citação

Ele informou que no último ano a Sesp tem destinado recursos para investimento em tecnologia e que a Diretoria de Inteligência da PM (Dint), em conjunto com vários batalhões e a Polícia civil tem realizado várias operações com o Ministério Público. “Na última terça-feira participamos da megaoperação voltada a localizar e prender as lideranças de facções criminosas em todo o país”, relatou.

Por nota, a Secretaria de Justiça (Sejus) informou que “investe em equipamentos e capacitação de servidores para evitar a entrada de materiais ilícitos das unidades prisionais do Estado”. Acrescenta que é monitorada “a movimentação dos detentos no interior das unidades prisionais com o objetivo de evitar qualquer tipo de articulação entre os detentos.”

A Sejus, por fim, ressalta que “mantém o controle do sistema prisional e que a Diretoria de Inteligência da Sejus atua em conjunto com a Secretaria de Segurança Pública (Sesp)” no monitoramento das informações.

Este vídeo pode te interessar

Casamento foi realizado dentro da prisão em Viana para planejar crimes ligados ao PCC

Notou alguma informação incorreta no conteúdo de A Gazeta? Nos ajude a corrigir o mais rapido possível! Clique no botão ao lado e envie sua mensagem

Envie sua sugestão, comentário ou crítica diretamente aos editores de A Gazeta

A Gazeta integra o

The Trust Project
Saiba mais