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Rodoviários: da manhã do caos ao fim da greve (sem multa)

Rodoviários: da manhã do caos ao fim da greve (sem multa)

Quem dependeu do transporte público nesta terça-feira (4) sentiu o caos: terminais fechados ou, quando abertos, quase sem ônibus. Os veículos, em maioria, não saíram das garagens

Publicado em 4 de dezembro de 2018 às 22:49

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(Eduardo Dias)

A greve dos rodoviários chegou ao fim, mas, apesar da radicalização do movimento — desrespeitando a decisão da Justiça quanto ao número da frota na rua — a categoria conseguiu quase a totalidade dos reajustes que queria. E, mesmo descumprindo a ordem judicial que determinava 70% da frota em horário de pico e 50% nos demais quadros, o sindicato não terá que pagar a multa diária de R$ 200 mil. Era um dos pontos do acordo, que, por volta das 16h30, foi aceito por patrões e empregados, dando fim, oficialmente, à greve dos rodoviários. A categoria também conseguiu por meio da conciliação não ter os pontos cortados pelas 40 horas de paralisação.

Quem dependeu do transporte público nesta terça-feira (4) sentiu o caos: terminais fechados ou, quando abertos, quase sem ônibus. Os veículos, em maioria, não saíram das garagens. Alguns passageiros gastaram o valor da passagem e conseguiram chegar ao terminais, mas depois não sabiam o que fazer. Não havia ônibus. Quem tinha dinheiro para pagar um táxi, voltava para casa. Quem não tinha, dependeu de carona ou aguardou por horas nos próprios terminais.

Aspas de citação

No melhor momento tivemos 8% da frota circulando, aproximadamente, apenas 90 ônibus rodando na Grande Vitória, de um total de mil coletivos

Presidente do GVBus, Alex Mariano
Aspas de citação

No fim da manhã desta terça-feira iniciava a audiência de conciliação que cessaria o movimento horas depois. Na sede do Tribunal Regional do Trabalho (TRT-ES), representantes dos sindicatos patronais e dos rodoviários seguiam com as negociações. Duas horas depois, as partes aceitaram a proposta do Ministério Público do Trabalho, que era a do reajuste linear de 4,6% nos salários, tíquete-alimentação e plano de saúde. Mas para que a greve fosse oficialmente finalizada, faltavam as votações dos empresários e rodoviários. Por volta das 16h30, os envolvidos no conflito retornaram ao TRT-ES oficializando o acordo. Era o fim da greve.

Já às 17 horas, segundo o Sindirodoviários, foi dada a ordem à categoria de que retomasse as atividades. A normalização não foi imediatada, mas sim gradativa. Aos poucos (e com muitas filas), passageiros puderam voltar para as casas.

A COBERTURA DO SEGUNDO E ÚLTIMO DIA DA GREVE

Poucos ônibus nas ruas

A manhã desta terça-feira (4) começou complicada. Muitos passageiros reclamaram que os coletivos não estavam passando nos pontos. A equipe do Gazeta Online foi para as ruas para acompanhar toda movimentação.

Greve de ônibus. (Patrícia Scalzer)

Terminais fechados

Por volta das 6h16, quem chegou no Terminal de Jardim América, em Cariacica, para esperar pelos ônibus, encontrou o portão fechado. As pessoas ficaram esperando ao lado de fora, na tentativa de entrar no local. O Terminal de Laranjeiras ficou vazio; passageiros ficaram aguardando dentro do local. Por volta das 6h55, poucos ônibus saíram lotados. Quem entrou no local, não pagou passagem. O Terminal de Vila Velha e o Terminal do Ibes também ficaram fechados.

Terminal de Campo Grande vazio em Cariacica . (Kaique Dias)

Efeitos da greve

Funcionários não conseguiram chegar ao trabalho. Em uma padaria, em Bento Ferreira, em Vitória, uma fila de pessoas esperavam por atendimento. Em diferentes locais, trabalhadores não conseguiram sequer chegar ao local de trabalho.

Pontos de ônibus cheios

Desde as 4 horas da manhã, passageiros já esperavam por coletivos em Nova Rosa da Penha, em Cariacica, e no Bairro Areinha, em Viana.

Segundo dia da greve dos rodoviários. Ponto de ônibus na BR 262, passageiros reclamam de espera. (Kaíque Dias)

Garagens fechadas

As garagens da Viação Praia Sol ficaram fechadas já por volta das 6h35; motoristas do sistema ficaram na Avenida Lindenberg, em Vila Velha.

Garagens travadas em Vila Velha, na manhã desta terça-feira (04). (Internauta | Gazeta Online)

"Radicalização"

O secretário de Estado da Segurança Pública, Nylton Rodrigues, lamentou que os ônibus não estavam saindo da garagem e informou que a Polícia Militar esteve nos terminais.

Nylton Rodrigues coronel da Polícia Militar do ES. (Marcelo Prest)

"Mas o que está acontecendo é que houve uma radicalização por parte do sindicato. A liminar da Justiça determina 70% no horário de pico. Essa liminar não foi cumprida, o que é lamentável, porque a Justiça do Trabalho está intermediando isso. Esse tipo de radicalização não contribui. O resultado é o prejuízo para a população", reforçou.

Ceturb

O diretor-presidente da Companhia Estadual de Transportes Coletivos de Passageiros do Estado do Espírito Santo (Ceturb-ES), Alex Mariano, afirmou que os rodoviários descumpriram a ordem judicial.

"Já foi demonstrado que o movimento radicalizou. Tivemos dificuldades do sistema bacurau. Motoristas foram retirados de ônibus. Linhas começaram a sair, outras garagens tiveram dificuldades. Não existe ônibus para ligar entre os terminais", informou.

Motorista preso

Um motorista deitou em frente à garagem da Viação Santa Paula, na Serra, para que os ônibus não saíssem. Policiais prenderam o homem, que foi levado para o DPJ da Serra.

Prejuízos no comércio

O presidente da Federação do Comércio no Espírito Santo (Fecomércio-ES), José Lino Sepulcri, informou que a situação era constrangedora. "Estamos ouvindo reclamações de autoridades. O prejuízo de um dia parado ultrapassa a cara de R$ 10 milhões, nós temos uma média diária de venda de R$ 25 milhões, em um dia. As famílias se sentem inseguras de irem ao comércio porque não tem como ir e voltar", indagou.

Nem 10%, informou GVBus

Por meio de nota, o GVBus informou ao Gazeta Online que foi pego de surpresa com a "radicalização" dos rodoviários.

"Nem 10% dos ônibus saíram das garagens, o que comprometeu todo o sistema, e, como consequência, o atendimento à população. Situação que deixa claro que a determinação judicial não está sendo cumprida pelo Sindirodoviários, que mais uma vez surpreende os passageiros, impedindo seu direito de ir e vir, e demonstra não ter nenhum respeito às decisões judiciais", dizia uma parte da mensagem.

Tumulto dentro de ônibus

Passageiros de recusaram a descer do ônibus, pois não tinha coletivo no Terminal do Ibes. Eles conseguiram fazer com que o carro continuasse o trajeto.

Apoio a motorista detido

Em apoio ao motorista que foi detido por impedir a saída de ônibus da garagem, rodoviários foram para o DPJ da Serra. Após assinar um documento, ele foi liberado.

Rodoviários no DPJ da Serra. (Eduardo Dias)

Ônibus foram apedrejados e passageiros feridos

Mais de dez ônibus foram apedrejados e alguns ficaram com os pneus furados nesta terça-feira (4). Dois passageiros ficaram feridos após um coletivo ser apedrejado ao passar por Tucum, em Cariacica, por volta das 6h. Um homem ficou com um "galo" na cabeça e o rosto ensanguentado. Uma mulher foi atingida por estilhaços de vidro perto dos olhos. Os dois foram socorridos para o PA de Alto Lage em Cariacica.

Nó no trânsito

Sem ônibus, o fluxo de carros aumentou e fez com que o trânsito da Grande Vitória desse um nó já por volta das 9 horas desta terça. De acordo com a Polícia Rodoviária Federal do Espírito Santo (PRF-ES), entre os pontos mais críticos ficou a Rodovia Norte-Sul, que passa por Vitória e Serra, e as BRs que dão acesso à Capital.

Trânsito na avenida Norte Sul, em Jardim Limoeiro, Serra, na manhã desta terça-feira (04). (Reroldi Monteiro)

Medidas adotadas após "radicalização"

Autoridades falaram sobre as medidas adotadas após a radicalização da greve dos rodoviários.

Medidas do Governo

O procurador-geral do Estado, Alexandre Nogueira Alves, informou que iria pedir a Justiça do Trabalho o aumento da multa diária de descumprimento da R$ 200 mil para R$ 500 mil, marcação da data de dissídio e o decreto de ilegalidade da greve.

Cena do descaso

Sem ter como ir para casa, um morador deitou em um banco do Terminal de Campo Grande e apoiou a cabeça em uma sacola de supermercado. A imagem foi marcante neste segundo dia de greve dos rodoviários.

Morador deita em banco do Terminal de Campo Grande. (Kaique Dias)

Unidades de Saúde fechadas em Vila Velha

As seguintes unidades de saúde de Vila Velha ficaram com as salas de vacina fechadas: Vila Nova, Terra Vermelha, Dom João Batista, Jardim Colorado, Santa Rita, São Torquato. Funcionários não conseguiram chegar e esse atendimento específico (de vacinas). Por isso, teve que ser cancelado.

Mais de 2h no ponto de ônibus

Um professor de geografia ficou mais de duas horas no ponto de ônibus. "Eu moro em Caratoíra e vou dar aula em Bubu, em Cariacica. Fui antes das 6 para pegar um ônibus, mas fiquei mais de duas horas no ponto. Peguei o 515, cheguei aqui com o terminal vazio, não tem ônibus nem para voltar nem para ir para meu destino. Agora estou querendo voltar para casa pois não sei como será o final da tarde, porque trabalho em outro bairro também, em Novo Brasil, e preciso pegar ônibus", conta Luziel Gomes, 26 anos.

Luziel Gomes, 26 anos, professor de Geografia. (Kaique Dias)

Polícia Federal vai investigar crimes

O Ministério Público Federal do Espírito Santo (MPF-ES) pediu que a Polícia Federal investigasse crimes que aconteceram durante a greve dos rodoviários. No entendimento do MPF-ES, as condutas podem tipificar os crimes previstos nos artigos 197, 200 e 201 do Código Penal.

O acordo

Os rodoviários e empresas aceitaram a proposta feita pelo Ministério Público do Trabalho de reajuste linear de 4,6% nos salários, tíquete-alimentação, plano de saúde e seguro de vida. Como parte do acordo, a categoria não será mais multada por não ter cumprido a determinação da Justiça de colocar 70% da frota em horários de pico e 50% nos demais quadros. Os pontos dos trabalhadores não serão cortados. Às 17 horas os ônibus começaram a sair das garagens.

Valores

 Como era 

Salário de motorista: R$2.203,44

Salário de cobrador: R$1.145,84

Valor do Tíquete: R$696,28

Plano de saúde: participativo. Valor varia de acordo com a faixa etária

 Como ficou 

Salário de motorista: R$ 2.330

Salário de cobrador: R$1.202

Valor do Tíquete: R$ 728

Plano de saúde: parte paga pela empresa aumentou 4.6%

A volta para casa

Às 17 horas os ônibus começaram a sair das garagens e, gradativamente, o serviço era retomado na Grande Vitória. Em Cariacica, por volta das 17h25, o Terminal de Jardim América, em Cariacica, permanecia fechado. No local, havia apenas uma viatura da Polícia Militar.

O fluxo de veículos era intenso na BR 262, no sentido Campo Grande. Na região, apenas alguns ônibus passavam pela via com o letreiro escrito "garagem". Por volta das 17h50, o acesso ao Terminal de Campo Grande estava liberado, mas não havia coletivos no local. Passageiros que estavam no local à espera dos coletivos reclamaram da demora. 

Terminal de Campo Grande completamente vazio . (Lara Rosado | A Gazeta)

Na Serra, após o fim da greve, algumas linhas voltaram a circular, na BR 101, na Serra. No Terminal de Carapina, por volta das 18h50, filas de passageiros começaram a se formar e algumas linhas começaram a circular no terminal.

Em Vila Velha, algumas pessoas tiveram dificuldades para chegar em casa. É o caso da consultora de negócios Samira Meirelles. Ela ficou por uma hora em frente ao Shopping Praia da Costa, para tentar embarcar em um ônibus.

A consultora de negócio Samira Meirelles, 23. (Raquel Lopes)

Quem também teve que esperar para conseguir pegar um ônibus foi a técnica de laboratório, Larissa de Oliveira. Ela, que mora em Cariacica Sede, saiu do trabalho às 16 horas e ficou em um ponto no Bairro Jockey de Itaparica, por 1h30. "Normalmente eu gasto duas horas para chegar em casa, mas hoje será cerca de quatro horas", afirmou.

A técnica de laboratório Larissa de Oliveira Lemos, 19,. (Raquel Lopes)

Também em Vila Velha, a analista de planejamento Giovana Lyra, de 36 anos, aguardou por quase duas horas por um ônibus. Ela consegui chegar ao trabalho pegando uma carona.

A analista de planejamentos Giovana Lyra, 36. (CBN Vitória)

O vigilante Miqueias Ferreira, de 37 anos, que trabalha no turno da noite, deixou o carro em casa ao saber do fim da greve. No entanto, com o retorno gradativo e a demora na chegada dos ônibus aos terminais, ele contou que acabou se atrasando. 

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O vigilante Miqueias Ferreira, 37 anos. (CBN Vitória)

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