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25% dos motoristas de aplicativo já foram assaltados, diz associação

25% dos motoristas de aplicativo já foram assaltados, diz associação

Um em cada quatro desses profissionais no Estado já foram vítimas de assalto enquanto trabalhavam, segundo levantamento da categoria

Publicado em 7 de janeiro de 2019 às 01:06

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Motorista de aplicativo fala sobre o assalto ocorrido com ela em Porto Canoa. (Marcelo Prest )

Os números não mentem: motorista de aplicativo já pode ser considerada a nova “profissão perigo”. De acordo com pesquisa realizada pela Associação de Motoristas de Aplicativo do Espírito Santo (Amapes), um em cada quatro desses profissionais já sofreram assalto. Entre eles, 75% foram vítimas mais de uma vez.

“Fica muito difícil trabalhar. O medo de ser assaltado é uma realidade preocupante. Estamos todos os dias na rua, expostos”, afirmou o presidente da Amapes, Luis Fernando Muller.

O presidente explicou que as pesquisas realizadas pela associação surgiram a partir da necessidade de identificar os riscos corridos diariamente pelos profissionais da categoria para cobrar providências.

“Vamos tentar mudar esse cenário. Precisamos pensar em mais formas de garantir a segurança de motoristas de aplicativo, medidas mais direcionadas”, comentou.

RECLAMAÇÕES

 

Liderando o ranking dos problemas enfrentados pelos motoristas está a falta de informações suficientes para identificar o passageiro. “Quando o passageiro solicita a corrida, ele tem acesso à placa, foto, mas nós não temos. Isso nos atrapalha e nos expõe”, contou um motorista, de 23 anos, que não quis ser identificado.

O motorista contou que, em alguns casos, a solicitação é feita em nome de uma pessoa que não é aquela que está esperando pelo carro. “Acontece muito de chamarem a corrida em nome de mulher, aí chegamos lá e tem um homem esperando. A gente tenta avaliar, mas ninguém tem estrela na testa”, contou.

O presidente da Amapes reforçou que problemas como o da falta de informações para o motorista são os mais graves. “Para nós, o sistema é cada vez mais restritivo, mas para o passageiro não há necessidade de inserir muitos dados. Ficamos desamparados, mas não tem jeito. Temos que confiar em Deus e ir trabalhar”, disse Muller.

SEGURANÇA

A pesquisa realizada pela Amapes identificou que os motoristas têm recorrido a estratégias particulares de segurança. Dos motoristas que responderam a pesquisa, 63,6% utilizam meios próprios de proteção enquanto trabalham.

A maioria recorre aos grupos em aplicativos de troca de mensagens para se sentirem mais protegidos. Nas conversas, os motoristas compartilham localizações e informações da corrida com os próprios colegas de trabalho.

Outra medida é utilizar adesivos dos aplicativos nos veículos. “Identificar os carros com adesivos é uma boa forma para mostrar à polícia que o carro precisa ser parado nas blitze, mas também indica para os criminosos que você, provavelmente, tem dinheiro no carro”, opinou Luis Fernando.

Uma da estratégias adotadas pelos motoristas, de escolher os locais onde aceitam corridas, também não é mais garantia de sucesso. Isso porque, segundo a pesquisa, 60% dos assaltos aconteceram em Vitória. “Os criminosos mudaram a estratégia. Eles pedem as corridas em bairros considerados nobres e, só então, anunciam o assalto”, contou.

OPERAÇÕES

 

Ainda segundo a pesquisa, 54% dos motoristas nunca foram parados em uma blitz de trânsito. Para a categoria, aumentar o número de abordagens seria um bom começo para diminuir os problemas de insegurança.

“Nós nunca vamos ficar 100% seguros, mas aumentando as rondas da polícia na ruas, com mais abordagens, a situação melhora. Tem gente que não gosta de blitz, mas eu, que trabalho com aplicativo e nunca fui parado, acho que seria uma boa solução. Eles falam que fazem, mas quem está na rua não sente essa presença da polícia”, disse um motorista, de 23 anos.

CÂMERAS E INTELIGÊNCIA ARTIFICIAL

 

A 99 POP respondeu, por nota, que “é uma empresa genuinamente preocupada com a segurança de seus passageiros e motoristas”.

Para garantir que o serviço seja seguro, a 99 garante que montou uma equipe que “trabalha 24 horas por dia, sete dias por semana, cuidando exclusivamente da proteção dos usuários”.

Para solucionar a questão, a empresa afirmou que câmeras de segurança conectadas diretamente com a central de monitoramento da companhia estão sendo instaladas desde setembro e ainda estão em fase de testes.

Além disso, foi desenvolvido um sistema de inteligência artificial que monitora o perfil de todas as chamadas, identificando situações de risco e bloqueando o acesso à plataforma.

Também serão implementados um sistema de mapeamento de áreas de risco que envia aos motoristas notificações sobre zonas perigosas e um canal de atendimento exclusivo para incidentes de segurança.

A empresa respondeu, ainda, que “a 99 POP também solicita que os usuários cadastrem o cartão de crédito e CPF para ter acesso ao aplicativo. O motorista também pode escolher aceitar, ou não, corridas pagas em dinheiro”.

A Uber também foi procurada pela reportagem, mas até o fechamento desta edição não se pronunciou.

POLÍCIA

Já a Polícia Militar reforçou, também em nota, que “cumpre sua parte, por meio de sua missão constitucional de policiamento ostensivo, em busca de combater todo tipo de crime, e ressalta que realiza operações diárias com foco em abordagens a todo tipo de veículo, inclusive táxis e de aplicativos”.

A PM lembrou, ainda, que desde o último dia 26 as ações de fiscalização foram reforçadas com a Operação Verão.

Além disso, a reportagem solicitou números de ocorrências que foram registradas relatando casos de assaltos a motoristas de aplicativo. A Polícia Civil respondeu, por nota, que não possuíam dados específicos.

Entrevista : “Depois, eu achava que todo mundo era bandido”

Trabalhando como motorista de aplicativo há um ano e 11 meses, uma motorista, de 54 anos, que não quis ser identificada, ficou traumatizada após ter sido vítima de um assalto.

Como tudo começou?

Nem todas as pessoas têm acesso à internet na rua. Tem sempre alguém pedindo corrida para outra pessoa, então eu sempre levei. Nesse dia, uma pessoa chamada Fabiana chamou em Porto Canoa, eu fui e, chegando lá, eu perguntei quem era Fabiana e ele disse que era a mãe dele.

Para onde era a corrida?

Ele entrou no carro e disse que primeiro ia para Serra Dourada e depois para Laranjeiras. Ele parou em um local, comprou drogas e usou dentro do meu carro, sem permissão. Depois ele iria para Laranjeiras sacar dinheiro.

E você seguiu viagem?

Sim, mas ele recebeu uma ligação e resolveu ficar em Porto Canoa. Aí ele me guiou até a parte de trás de um supermercado, na primeira entrada do bairro Nova Carapina. Era uma rua sem saída, nessa hora percebi que seria uma assalto.

Levei ele até uma casa, ele abriu a porta do carro, olhou para os lados e eu pedi para ele fechar a porta. Ele disse que não ia fechar para que eu não o largasse ali. Aí segurando a porta e olhando para os lados, ele anunciou o assalto.

O que ele levou?

Eu entreguei a caixinha de dinheiro, tinha mais ou menos 300 reais e o celular. Eu tinha acabado de começar a trabalhar, era 1h da manhã, e ele insistiu que eu tinha mais dinheiro. Com a porta aberta, ele me mandou seguir com o carro até o fim da rua. Lá no final era um mato, não tinha saída. Passou mil coisas na minha cabeça, fiquei com muito medo.

Ele te machucou?

Ele me apalpou procurando dinheiro, eu disse que não tinha. Aí ele disse que se eu curtisse com ele, faria uma proposta, ameaçou me beijar. Pedi pra ele levar o que ele quisesse levar, mas que me deixasse bem.

Como você saiu da situação?

Ele me mandou descer e não olhar para trás, entrou no meu carro e saiu. Eu fiquei ali sozinha, fiz uma oração. Fui andando em uma rua escura à 1h da manhã. Depois de um tempo andando, vi três rapazes e duas moças, falei que eu era motorista e eles me ajudaram. Pedi um celular emprestado, liguei para a polícia e para a minha filha.

O carro foi recuperado?

Fiquei 10 minutos esperando, a polícia chegou e logo depois tudo foi resolvido. Em menos de uma hora localizei meu carro, por meio de uma ferramenta de compartilhar viagem. O carro estava em um baile funk em Cidade Pomar.

Qual é a sensação que fica?

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Temos que trabalhar, não tem jeito. Na semana seguinte, quando comecei a trabalhar, de dia, eu achava que todo mundo era bandido. Tive que fazer tratamento psicológico para trabalhar. Foi muito difícil.

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