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Após 4º diploma, capixaba que vendia picolés ensina: 'mantenha a fé'

Após 4º diploma, capixaba que vendia picolés ensina: "mantenha a fé"

Essa é a história de Ademilson Marques de Oliveira que, desde pequeno, passou por um turbilhão de problemas mas nunca desistiu dos sonhos de ingressar em uma instituição federal

Publicado em 14 de janeiro de 2019 às 23:42

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Ademilson Marques de Oliveira. (Arquivo pessoal)

Essa é mais uma história de superação de um capixaba que correu atrás dos sonhos com muito foco e força de vontade. De vendedor de picolé, trabalhador rural e diarista, Ademilson Marques de Oliveira, 37 anos, comemora a conquista de quatro diplomas em instituições federais do país e o fato de ser servidor público estadual.

Com o intuito de servir de motivação e ânimo para aqueles que estão desanimados, de modo especial, as crianças, adolescentes e jovens capixabas, Ademilson entrou em contato com a reportagem do Gazeta Online para contar um pouco da própria história, que começou, de fato, em julho de 1981, em Venda Nova do Imigrante.

Marfisa Henrique de Oliveira e o filho. (Arquivo pessoal)

"Crescido" em Afonso Cláudio, Ademilson contou com a ajuda de muita gente para chegar aonde chegou. Na pequena cidade de Serra do Boi, os pais dele eram colonos, meeiros, e trabalhavam como "boias frias" nas lavouras de café. Teodoro Marques de Oliveira e Marfisa Henrique de Oliveira, pais de Ademilson, eram analfabetos "de letra" mas, segundo Ademilson "possuíam outros diversos saberes".

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iante da realidade social, política e econômica éramos uma família muito pobre, talvez, em alguma ocasião abaixo da linha de pobreza

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Apesar de toda a dificuldade, o jovem sonhador sempre teve o desejo de superar os obstáculos. Em 1989, começou a estudar na Escola Pluridocente Sebastião Claro Dias. "Lá estudei parte da primeira série, os primeiros meses do ano. Depois, estudei um período de dois meses em Fazenda do Guandu, e posteriormente, conclui o primeiro ano na Escola Unidocente São Luiz de Boa Sorte, ambos do mesmo município", disse.

Já aos 11 anos, passando por dificuldades financeiras, Ademilson começou a trabalhar como vendedor de picolé, com o grande sonho de ingressar em uma instituição para fazer faculdade. Por aproximadamente seis anos, ele andou a pé 3h para ir e voltar da escola.

"Subindo e descendo serras, totalizava 3h de caminhada. Nesta jornada conclui a 8ª série na Escola de Ensino Fundamental e Médio Maria de Abreu Alvim, no ano de 1996. Inclusive, em 16 de julho deste ano meu pai faleceu, e tudo ficou ainda mais difícil. Mas, em nenhuma hipótese perdi a coragem, a fé e o foco", informou.

Em 1997, ele começou a trabalhar como auxiliar em uma padaria de Afonso Cláudio, e chegou a ficar hospedado na residência dos proprietários do local. "Nesta empresa rapidamente construí excelentes amizades, todos os funcionários me acolheram muito bem, e sempre faziam reforços positivos, em relação ao meu desejo de estudar".

No mesmo ano, Ademilson viu a oportunidade de estudar no Seminário Salesiano de Venda Nova do Imigrante mas, em meados do mesmo ano, ele recebeu a notícia de que a mãe estava muito doente, e teve que abandonar o seminário. Após idas e vindas e várias tentativas de concluir os estudos, o rapaz permaneceu junto com a mãe trabalhando na roça, na plantação de efeijão, milho e café, ainda na localidade de Serra do Boi.

Em 2001, então, ele se mudou para Vila Velha, e chegou a trabalhar de diarista e atendente em uma lanchonete famosa de Jardim da Penha, em Vitória. Em 2002, surgiu a oportunidade de estudar em São Paulo; lá, ele continuou os estudos de Filosofia, no Centro de Estudos da Arquidiocese de Ribeirão Preto.

Após perceber que "não tinha vocação para ser padre", Ademilson voltou ao Espírito Santo, e começou a lecionar disciplinas como Ensino Religioso e Sociologia. Já em 2005, ele foi aprovado em um concurso público, e em 2011 concluiu o primeiro curso superior: Licenciatura em Filosofia pela Universidade Católica de Brasília, que era um sonho de criança.

Ademilson Marques de Oliveira. (Arquivo pessoal)

Em 2012, concluiu uma Especialização em Gestão Educacional Integrada e foi aprovado em outro concurso, onde trabalhou até se aposentar. A aposentadoria chegou cedo, aos 36 anos, por conta de uma hérnia de disco na região da cervical, o que levou Ademilson a impossibilidade do exercício das atribuições do cargo de assistente.

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om a aposentadoria por invalidez fiquei muito abalado, mas não perdi a fé, e a vontade de me reinventar. Assim, no final de 2016, conclui a segunda Licenciatura em História, pelo Claretiano Centro Universitário. Em 2018 conclui a Especialização em Informática na Educação pelo IFE

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O objetivo de Ademilson, agora, é concluir a pós graduação em Filosofia e Psicanálise pela Universidade Federal do Espírito Santo (Ufes) no próximo mês. "Hoje o meu sonho é ingressar no Mestrado e posteriormente, fazer doutorado. O sonho é o combustível que move o ser humano. Alimente sempre seus sonhos! Mantenha a fé, o foco e perseverança! Tudo é possível", concluiu.

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