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'Foi um sinal', diz resgatado sobre a companhia de esperança em Cachoeira

"Foi um sinal", diz resgatado sobre a companhia de esperança em Cachoeira

Francisco Sérgio Santiago caiu na queda d'água da cachoeira no último domingo (27) e foi resgatado pelos bombeiros depois de dez horas de trabalho

Publicado em 29 de janeiro de 2019 às 16:58

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Francisco Sérgio Santiago, de 47 anos, foi resgatado com vida após 10 horas dentro de cachoeira. (Reprodução/TV Gazeta)

Na manhã do último domingo (29), Francisco Sérgio Santiago, de 47 anos, caiu da Cachoeira de Matilde, em Alfredo Chaves. O homem foi resgatado com vida após dez horas de trabalho do Corpo de Bombeiros. Sem fraturas, mas com escoriações devido ao atrito com as pedras, Francisco foi levado a um hospital e recebeu alta na manhã desta segunda-feira (28).

Nesta terça-feira (29), em entrevista ao Bom Dia Espírito Santo, da TV Gazeta, ele relatou os momentos de medo e ansiedade que viveu em uma gruta que conseguiu se abrigar depois de cair e onde ficou durante as dez horas. 

O senhor já tinha visto as imagens do resgate?

A imagem dos bombeiros eu não tinha visto de imediato, eu vi depois. Na verdade vi ontem (segunda-feira), e também fiquei muito emocionado.

Como foi o momento da queda?

Eu queria conhecer a cachoeira, nunca tinha ido e fui com a minha família, meu filho, minha nora, minha namorada, e tinha algumas pessoas além do limite da cachoeira, tinha crianças, então eu não achei que fosse perigoso. Ao me aproximar de onde meu filho estava ele me chamou: "vem pai, te dou a mão", e quando ele me deu a mão e eu pisei na pedra, escorreguei, soltei da mão dele e caí dentro da água.

Como é que foi a queda? O senhor se lembra?

Eu lembro de tudo. Eu lembro quando eu rolei, não lembro a posição que eu caí na água, mas as pessoas disseram que eu caí de cabeça para baixo, e eu acho que a força da cachoeira me jogou mais para o fundo e, por não saber nadar, você perde a noção se você tá de cabeça para baixo, se você tá em pé...

O senhor caiu exatamente onde? Ficou preso em alguma pedra?

Naquele desespero de sair da água, pensando que ia morrer, eu tentei sair da água de qualquer forma. Quando eu observei que eu estava fora d'água, eu estava atrás da cachoeira, próximo às pedras, era uma espécie de gruta e eu fiquei sentado. A água batia na altura do peito e ali eu fiquei pedindo socorro, gritando, mas eu pensei: "as pessoas não vão me ouvir devido ao barulho da cachoeira". 

O que o senhor pensava naquela hora? O senhor tinha esperança de sair dali?

Eu pensava muito na minha mãe. Eu rezei para Deus me tirar dali, para me dar mais uma oportunidade na vida, já que eu não morri na queda d'água, ali, então, eu tinha esperança que eu fosse sair.

Os bombeiros começaram a gritar. O senhor ouviu?

Eu ouvi e depois eu gritei. Pela cena do vídeo que eu vi que jogaram sete vezes (o capacete), mas eu só consegui ver o capacete duas vezes. A primeira vez eu tentei pegar, mas não consegui, porque quando eu estava lá na gruta eu senti uma coisa passando na minha perna, e era uma corda. Eu pensei que fosse de algum alpinista que tivesse deixado cair, e eu me amarrei a ela e amarrei numa pedra. A primeira vez que jogaram o capacete eu ate tentei alcançar, mas não consegui.

E foram dez horas de trabalho de resgate. Como o senhor passou as dez horas ali, naquela cachoeira, esperando alguém te encontrar?

Foi muito difícil. Porque começou a me dar hipotermia, eu tremia muito de frio. Eu não sentia sede, devido eu estar tomando água doce, mesmo sem querer, e nem fome, acho que devido à adrenalina. Mas eu ficava pensando: "poxa, será que não vão vir procurar nenhum corpo aqui?". Mas quando eu vi aquele capacete vindo, eu falei: "Deus que mandou ajuda para mim. Alguém tá me procurando, finalmente". Para mim, então, eu achava que tinha passado só quatro horas, porque se perde a noção do tempo. Eu não sabia que já eram quase dez horas que eu estava lá dentro.

O senhor pensou em algum momento que poderia morrer?

Sim, pensei. Principalmente quando eu caí na água. Foi horrível.

Quando eles mandaram o colete o senhor também não conseguiu acionar?

O colete, quando eu peguei, eu estava tão em pânico, tão desesperado para sair da água que eu não li as instruções. Eu vesti de qualquer jeito, depois eu amarrei de qualquer forma, eu não sabia que eu tinha que puxar uma corda para inflar, e eu fiquei pensando: "E agora será que eu pulo ou não pulo?". Eu tentei puxar a corda para ver se eles estavam me observando ou não, e eu pulei na água, mas eu afundei e comecei a puxar a corda, e a corda vinha, não acabava. Tentei voltar para as pedras, voltei e depois de mais ou menos cinco minutos eu senti a corda puxando e mais uma vez eu pulei na água e, mesmo afundando, eles estavam puxando devagar, acho que para mim (sic) não bater nas pedras. E logo no final da queda d'água eles me viram e começaram a puxar mais rápido.

Qual é a sensação que te dá agora, depois do que o senhor passou?

A partir daquele dia é nova vida. Eu acho que a gente tem que aprender a viver cada dia como se fosse o último, porque nunca se sabe quando vai acontecer algo. E eu queria agradecer muito as pessoas que oraram por mim, eu nem sabia que eu tinha tantos amigos, tanto familiares assim preocupados comigo. Foi muito emocionante e gratificante. Até hoje as pessoas continuam me ligando, mandando mensagem. Eu me emociono muito com isso.  

O senhor ainda sente alguma dor?

Sim. Eu sofri um trauma no peito, as pernas e as mãos, por ter segurado nas pedras. Mas fora isso, tudo normal, foi feito um raio-x e eu não tive nenhuma fratura. 

O senhor disse que encontrou um sinal quando estava ali. 

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Sim, foi um bichinho chamado Esperança que tava dentro da gruta e ficou o tempo todo comigo, até a hora de sair. Eu não tive dúvidas que foi um sinal.

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