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Grande Vitória tem 26 mil vazamentos de esgoto para o mar

Grande Vitória tem 26 mil vazamentos de esgoto para o mar

Sem tratamento, os resíduos acabam indo para rios e mares, poluindo o meio ambiente

Publicado em 9 de janeiro de 2019 às 23:51

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Começa com um fio de água correndo pela calçada e, em pouco tempo, o cheiro denuncia: é um vazamento de esgoto. Esse incômodo, conhecido dos capixabas, aconteceu mais de 26.570 vezes na Grande Vitória em um ano. A água suja, sem tratamento, acaba indo parar em rios e praias através da rede pluvial, poluindo o meio ambiente.

Os dados são da Companhia Espírito Santense de Saneamento (Cesan) e relativos a 2017. Eles foram obtidos pela reportagem através da Lei de Acesso à Informação em um levantamento do grupo de jornalismo de dados da Rede Gazeta, o G.dados.

Segundo o doutor em Saúde Pública e especialista em saneamento Alceu Galvão, a quantidade de vazamentos pode ser ainda maior, já que, em alguns casos, o registro depende que algum morador avise do problema.

Ele explica que os extravasamentos de esgoto, nome técnico desses vazamentos que ocorrem nas ruas, podem acontecer por diversos motivos desde o mau uso por parte dos usuários – que lançam gordura, objetos e restos de comida pelos ralos – a falhas das operadoras em dimensionar adequadamente a rede. “As cidades estão crescendo vertiginosamente e as redes coletoras acabam não sendo suficientes para atender essa expansão urbana”, esclarece.

Em Itapoã, Vila Velha, um vazamento forma uma "piscina" no meio da rua. (Marcelo Prest)

O especialista aponta que os vazamentos também podem acontecer quando os moradores ligam de forma irregular a rede pluvial na rede de esgoto. Quando chove, as duas se misturam e parte disso escapa através dos vazamentos.

Não há, no entanto, um número máximo de vazamentos considerados “aceitáveis” por conta da quantidade variada de causas e também porque a metodologia de aferição é considerada precária.

Segundo o biólogo e especialista em desenvolvimento sustentável Gustavo Ferreira, esses fatores fazem com que o nível do esgoto aumente e, em alguns casos, até retornem para dentro das casas das pessoas.

Uma vez fora da rede, o esgoto acaba caindo por meio dos bueiros na rede pluvial e, no final, vai parar nos cursos d’água, em rios e no mar.

INCÔMODO

Os vazamentos incomodam quem circula pela Grande Vitória. Romildo de Souza é taxista e diz que percebe o problema por onde passa. “Onde eu moro, em São Torquato (Vila Velha), também tem vazamento e atrapalha até os moradores na hora de comer por causa do cheiro forte que invade as casas”, diz.

O motorista Uarlly Alves também vive em São Torquato. Ele conta que, na rua onde mora, há um vazamento que vai e volta há três anos. “Eles mexem, resolvem provisoriamente, mas o problema reaparece.” No início do mês, uma lanchonete teve que fechar mais cedo por conta do cheiro. 

GORDURA

Segundo a Cesan, cerca de metade dos casos de extravasamento de esgoto são provocados por acúmulo de gordura na rede. “O material é proveniente principalmente de restaurantes que não têm caixa de gordura ou que têm, mas não dão manutenção”, explica a Gerente da Metropolitana Sul da Cesan, Fabiana Raposo.

Segundo Raposo, outras utilizações inadequadas da rede também provocam entupimento. “Há quem lance panos, fraldas, materiais descartáveis e até cabelos”, enumera.

Gustavo Ferreira afirma que o número de extravasamentos é um indicativo da frequência de manutenção e operação da rede. ”Se a rede não for dimensionada corretamente, vai acabar vazando”, diz. Galvão concorda e ratifica a importância de as empresas fazerem a manutenção preventiva da rede. “É preciso que seja feita a limpeza preventiva das tubulações”, diz.

A Cesan orienta os moradores a relatar casos de vazamentos de esgoto pelo telefone 115 ou pela internet, no site (cesan.com.br). “Não precisa ser um morador do local. Qualquer pessoa que passar por um vazamento pode enviar uma solicitação de serviço”, diz.

A professora Patrícia Seibert (blusa preta) com os vizinhos: reclamações de vazamentos de esgoto são constantes. ( Marcelo Prest )

VAZAMENTOS DURAM 15 HORAS EM MÉDIA

Em média, a Cesan demora 15 horas para consertar um vazamento a partir do momento que um cliente faz a comunicação. Em alguns locais, no entanto, esse tempo pode ser muito maior. Em uma rotatória de Itapoã, Vila Velha, por exemplo, a poça de esgoto persiste há semanas e a concessionária estuda até refazer toda a rede da região.

A professora Patrícia Seibert, 44 anos, vive em um condomínio em frente ao problema. Ela afirma que a quantidade de esgoto é tanta que forma uma “piscina” e, quando os carros passam, jogam a água suja nos pedestres.

Segundo ela, tudo começou pouco antes do Natal do ano passado. Apesar das diversas reclamações e chamados – a família de Patrícia contabiliza ao menos oito – todos os dias o local fica cheio novamente. “É um fedor danado. Parece um rio de esgoto. Temos que passar correndo na calçada para não tomar um banho.”

Desde então, ela diz que a Cesan compareceu várias vezes ao local, drenou a caixa que fica na rua mas, horas depois, a água suja já toma conta novamente. “Não adianta, é só paliativo. Queremos solução para a base do problema”, diz.

SOLUÇÃO

A solução que a moradora espera, no entanto, pode não ser tão simples. Segundo a Cesan, o local está sob análise e, se for constatado que o problema é provocado por uma alta demanda, será necessário trocar a rede no local.

A companhia explicou, por meio de nota, que durante atendimentos feitos no local ficou constatado que os entupimentos estão sendo provocados por gordura e outros objetos que são jogados na rede. Tudo isso forma uma “bucha” que entope a tubulação e provoca vazamento. “O excesso de gordura encontrado coincide com os períodos de festas de fim de ano, em que se cozinham mais alimentos”, diz em nota

CONDOMÍNIOS

A companhia informou ainda que, além do mau uso da rede, outros fatores podem ter contribuído para o vazamentos como o excesso de imóveis ligados à rede. Segundo a Cesan, novos condomínios também fizeram a ligação recentemente, aumentando consideravelmente a demanda pelo serviço de coleta de esgoto, o que também está sendo inspecionado.

Após estas ações, será analisada ainda a necessidade de implantar uma nova rede com maior capacidade.

Patrícia acredita que a rede pode, de fato ter ficado pequena demais. Ela diz que o vazamento fica pior no início da manhã e no final da tarde, quando há pico de utilização da água. “A gente quer solução para o problema”, desabafa.

REDUÇÃO

De acordo com a Cesan, a demora na resolução do caso da Patrícia não é comum. A gerente da Metropolitana Sul da Cesan, Fabiana Raposo, explica que em outros Estados do país o tempo médio é ainda maior, chegando a 24 horas.

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Ela afirma ainda que nos novos contratos firmados pela concessionária, a meta é que, ainda neste ano, o tempo de resolução caia para 12 horas.

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