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Moradora de Vitória narra angústia por prima desaparecida em Brumadinho

Moradora de Vitória narra angústia por prima desaparecida em Brumadinho

Izabela Barroso Câmara Pinto, uma engenheira de 30 anos, está desaparecida desde a última sexta-feira, quando barragem da Vale se rompeu em Minas Gerais

Publicado em 29 de janeiro de 2019 às 01:08

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Izabela Barroso Câmara Pinto, engenheira desaparecida desde o rompimento da barragem da Mina do Feijão, em Brumadinho. (Rede Social)

Uma fisioterapeuta que mora em Vitória, Capital do Espírito Santo, narra a angústia após o desaparecimento de uma prima na região do rompimento da barragem da Vale, em Brumadinho, Minas Gerais, na última sexta-feira (25).

Julianne Magalhães, 50 anos, é prima de Izabela Barroso Câmara Pinto, uma engenheira de 30 anos que está desaparecida. Com tristeza, a fisioterapeuta revela que a família já perdeu as esperanças em encontrar Izabela com vida.

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Hoje a gente só pede a Deus para que possamos encontrar o corpo porque isso vai nos consolar. Vamos poder fazer uma despedida digna. O fato de não encontrá-la deixa a família numa angústia ainda maior. A gente já não tem mais esperança de encontrá-la com vida. A realidade é dura e ela bateu à nossa porta

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Julianne contou que na sexta-feira, às 12h24, Izabela visualizou o WhatsApp pela última vez. “Era na hora do almoço. Ela estava no refeitório. Por isso, e também por já terem se passado três dias desde que aconteceu o desabamento é que perdemos as esperanças”, justificou.

Izabela era Engenheira de Minas e trabalhava na Vale havia seis anos, desde que se formou na Universidade Federal de Minas Gerais. Segundo Julianne, a prima tinha muito orgulho do trabalho que fazia.

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A última vez que estivemos juntas foi em outubro passado, no casamento de um irmão dela. E é incrível porque ela falava com tanto orgulho do trabalho... Ela gostava muito do que fazia

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Izabela era casada havia 2 anos e meio. Ela e o marido moravam em Belo Horizonte. Antes, porém, a engenheira morava em Carajás, no Pará, onde também trabalhava para a Vale. Somente no ano passado é que ela foi transferida para Brumadinho, mais perto da família.

“É muito triste ver isso acontecer com uma menina tão boa. Uma menina linda, cheia de vida, trabalhadora, super responsável. Agora estamos dilacerados com a falta dela”, comentou Julianne.

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A alegria dela, a bondade, a luta são as coisas que vão ficar na nossa memória. Isso e a certeza de uma jovem que fez tudo para crescer na vida

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65 MORTOS E 279 DESAPARECIDOS

Até o início da noite desta segunda-feira (28), 65 corpos haviam sido encontrados. Desses, 31 já foram identificados, segundo a Polícia Civil de Minas. Até o momento, foram resgatadas 192 pessoas pelos bombeiros. Há 279 desaparecidos, segundo a Polícia Civil de Minas Gerais.

As forças de segurança que trabalham nas operações de busca se reuniram com a equipe israelense que chegou na noite de domingo para auxiliar no resgate, e com o governador de Minas Gerais, Romeu Zema (Novo). Espera-se que os 136 militares agilizem o processo de retirada de vítimas somados aos 280 bombeiros. Entre os equipamentos trazidos de Israel estão sonares que podem detectar sinais de celular a até três metros de profundidade e distinguir a lama de outras substâncias, como corpos.

VALE VAI DOAR R$ 100 MIL PARA FAMILIARES DE VÍTIMAS

O diretor-executivo de Finanças e Relações com Investidores da Vale, Luciano Siani, afirmou que a Vale vai oferecer uma doação de R$ 100 mil a cada família de vítimas da tragédia em Brumadinho. Segundo Siani, esse valor não é indenização, é uma doação. 

O executivo também prometeu a contratação de uma equipe de psicólogos para auxiliar as famílias das vítimas da tragédia. Os profissionais trabalham no Hospital Albert Einstein, em São Paulo, e são especializados no atendimento a vítimas de grandes tragédias. Eles devem ser incorporados nos próximos dias às equipes de apoio e vão reforçar o time de 200 psicólogos da própria mineradora que já estão atuando no município mineiro.

"NOS GUIAMOS PELO CHEIRO DOS CORPOS"

Com informações do Estadão

A busca é feita pelo cheiro, pelo olhar atento que percorre a superfície da lama fétida, em busca de algum sinal de corpo humano, ou do que restou dele. Os brigadistas apontam para algo no meio do barro. Acompanho de longe, ao lado da casa que foi engolida pelo rejeito. Dali, não consigo ver nada além de entulho. “É um corpo. Vamos até lá”, diz um deles.

Na equipe, são 11 brigadistas em operação. Dois deles entram no mato e voltam carregados de galhos para lançar sobre o barro mole. Vão fazendo uma ponte improvisada até chegar ao que parece ser parte de alguém. Um brigadista se volta para mim. Penso que serei expulso. A área foi isolada e não há mais ninguém ali. Ele pede ajuda. “Ei, você, me dá essa madeira aí no canto, rápido”, diz ele, apontando um pedaço da porta que restou de um guarda-roupas. Entrego a madeira. Eles lançam sobre o barro.

Caminhar na lama ainda é impossível. Dois dias depois da enxurrada de rejeito da Vale varrer o Córrego do Feijão e estraçalhar tudo o que encontrou pela frente, o barro ainda segue mole. Um passo em falso e você afunda até as canelas, sem conseguir sair. Para a equipe de brigadistas que trabalha nas margens do desastre, nesta região de Brumadinho conhecida conhecida como “Berço Alberto Flores”, o limite do salvamento são cinco, seis metros lama adentro. “Qualquer coisa para além disso, é risco de não conseguir voltar”, me diz um deles. “Procuramos sobreviventes, sempre. Mas aqui, a verdade é que estamos nos guiando pelo cheiro dos corpos ou pelo o que conseguimos ver.”

Andando sobre as madeiras, eles chegam ao que seria um corpo humano. É. Com luvas, um deles se abaixa e passa a recolher órgão de alguém. Vísceras, estômago, fígado. Roupa. Em fila indiana, passam de mão em mão o que encontraram pela frente, até depositar as partes sobre uma manta metálica no chão.

Rapidamente recolhem o material e somem pela mata. O deslocamento de vítimas que têm sido encontradas próximas de estradas é feito por meio de ambulâncias. Em áreas mais remotas, o trabalho é apoiado pelo helicópteros, que não param de cruzar o céu.

Olho para o horizonte do mar de lama que se abriu na mata. Ao longe, nos cantos da vegetação, é possível ver mais mantas metálicas espalhadas, aguardando para serem recolhidas.

“É melhor você ir agora”, me diz um dos brigadistas. “Essa região ainda não está segura e foi isolada, o solo ainda está muito movediço.”

Me despeço e saio pela mata. Toda a região foi cercada pela polícia e os acessos pelas estradas estão proibidos. Meu acesso à equipe de brigadeiros se deu casualmente, quando decidi entrar por uma estrada de terras que seguia até o curso do Rio Paraopeba, outra vítima fatal da catástrofe. Sítios e chácaras que não foram inundados estão vazios, com as portas trancadas. A polícia ronda a região, por causa de saques que ocorreram em algumas áreas.

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Uma dessas casas é a chácara “Recanto Feliz”, número 126, bem na beira da estrada que foi interditada pelo mar de rejeitos de minério de ferro. Sobraram sinais da felicidade por ali. Brinquedos de crianças largados no sofá. Na pia, louça suja de um almoço feito dois dias atrás. Na varanda, uma casinha de madeira para as crianças com vista para o que era o córrego. Não há mais vista. Nem crianças.

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